Em poucos dias, Lisboa inundou duas vezes. Assistimos a
cheias e enxurradas que ninguém pode dizer que são comuns em Lisboa. Talvez
sejam comuns na Índia, durante as Monções, mas Lisboa não assiste a cenários
destes regularmente.
Diz a câmara que choveu demais. Choveu muito, é verdade.
Choveu muito em pouco tempo. Foi uma valente tromba de água. Mas Lisboa já
assistiu a várias trombas de água e nem sempre se viram automóveis a boiar e
rios a descer a cidade.
Há, portanto, qualquer coisa que está a falhar. Há qualquer
defeito na cidade que se está a agravar. Isso parece evidente.
A câmara, porém, diz que não. E diz até que um plano de
drenagem, guardado há bastante tempo, não ajudava nada. Para os actuais
governantes da cidade de Lisboa, não há solução para o que tem acontecido em
Lisboa nos últimos dias. Os lisboetas têm, portanto, de se resignar a este
espectáculo terceiro-mundista sempre que chove um pouco mais do que é costume,
ainda que não seja preciso nenhum fim do mundo, pois recorde-se que não foi o
fim do mundo que se abateu sobre Lisboa. Foi chuva. Chuva forte.
É melhor então os lisboetas mudarem de cidade. Podem ir, por
exemplo, para uma das muitas cidades portuguesas que conseguem absorver
fenómenos de chuva forte sem consequências de maior, mesmo com rios ao lado.
Ou então, se os governantes não mudam, mudam de governantes,
para uns que assumam o compromisso de encontrar uma solução para este problema.
Procurem um projecto político que não se guie tanto por obras de fachada,
deixando os problemas estruturais da cidade… sem solução.
Vejam bem as obras que se fizeram na Baixa. O cais das
colunas. A ribeira das naus. Está tudo um brinco, sim senhor, mas depois não
pode chover. Pintaram a cidade – só a fachada – mas não resolvem e parece que
não querem resolver aquele pequeno problema de infiltração.
Lisboa parece então um castelo de cartas. Espectacular,
imponente, mas muito frágil.