terça-feira, outubro 21, 2014

PORTUGUESES SÃO QUEM MAIS TRABALHA E MENOS GANHA NA EUROPA OCIDENTAL

Portugal é o país da Europa Ocidental onde o custo do trabalho é mais baixo e onde cada cidadão empregado além de ter de trabalhar quase meio ano para pagar impostos ainda é dos que tem de trabalhar maior número de horas por ano – mais 324 do que na Alemanha ou mesmo mais 47 do que em Espanha.
As informações são reveladas num estudo do centro de estatísticas da União Europeia, o Eurostat, com base em dados apurados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE).
“Estes dados fazem ruir o mito cultivado na Europa de que os portugueses são preguiçosos, têm feriados a mais e vivem acima das suas possibilidades e mesmo das possibilidades de outros”, comenta um alto funcionário do Conselho Europeu. “Basta olhar friamente os números e logo se observa a gravidade da calúnia lançada aqui em Bruxelas e em Berlim, com a cumplicidade de José Barroso e a colaboração dos governos de Lisboa que se submeteram à troika e à austeridade”, acrescenta a mesma fonte.
Foi também devido a comportamentos desses, sublinha, “que a troika se sentiu livre para fazer imposições com base até em dados que não são verdadeiros, como o de que as despesas com o trabalho são ainda excessivas em Portugal e prejudicam a competitividade, teses que a situação, comparada com a dos outros países, desmente em absoluto”.
“A situação dos trabalhadores portugueses está a tender cada vez mais na direcção dos trabalhadores da Roménia, da Bulgária e dos pequenos países bálticos - que passaram directamente do sistema soviético para a liberdade absoluta do mercado - do que para a dos países da Europa Ocidental, em certos casos a própria Grécia”, sublinha o alto funcionário do Conselho Europeu.
Os dados divulgados pelo Eurostat demonstram também que os portugueses trabalham por ano 1712 horas, mais do que em 17 países da OCDE. No entanto, as entidades patronais do país são as que menos gastam por hora de trabalho na Europa Ocidental, menos até do que na Grécia, onde se considera que as imposições da troika foram as mais duras dos países sob tutela.
O Eurostat e a OCDE revelam que a hora de trabalho em Portugal custa 11,6 euros, menos dois euros do que na Grécia – 13,6.
“Os governos portugueses, e não falo apenas do que está em funções, por vezes chegaram a parecer mais empenhados na dureza dos pactos de estabilidade e das medidas da troika do que em defender as famílias e os postos de trabalho dos portugueses”, segundo um funcionário da Comissão Europeia que tem acompanhado por dentro os processos de intervenção e prestou declarações a título pessoal e de “cidadão que ainda acredita nos valores da Europa”.  “Por vezes”, acrescentou a mesma fonte, “os representantes portugueses tiveram possibilidade de optar entre medidas diferentes para atingir os mesmos objectivos de contenção, mas raramente se preocuparam em fazer as reflexões suficientes para escolher os que poderiam ser menos prejudiciais para as pessoas, agindo segundo uma gélida tecnocracia”.
As estatísticas oficiais da OCDE e da União Europeia demonstram ainda que entre 2008 e 2013 os custos do trabalho cresceram cerca de 10% na Zona Euro, mas em Portugal diminuíram 5%, desmentindo todas as tendências registadas na zona envolvente e também os argumentos pela austeridade e contra os direitos laborais invocados pelo “arco da governação” em Portugal e pela troika, “com especial envolvimento do presidente da Comissão Europeia Barroso”, segundo o funcionário dos quadros da Comissão.
O cenário é agravado pela carga fiscal sobre o trabalho imposta nos últimos anos em Portugal. Em 2011, segundo as estatísticas, os portugueses trabalharam em média até 29 de Maio para pagar os impostos; este ano a obrigação estendeu-se até 6 de Junho, caminhando assim para meio ano.


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