quinta-feira, outubro 09, 2014

PT: como todas as outras

Era uma vez uma empresa pública, feita com o dinheiro dos portugueses, que fornecia serviços de qualidade, garantia a muita gente empregos qualificados e bem pagos e, porque operava num mercado sem concorrência, gerava avultadas receitas ao Estado português. Foram assim a Galp, a EDP, os CTT e tantas outras empresas que, apesar do seu valor estratégico, foram vendidas ao desbarato a privados ao longo dos últimos quinze anos. Os argumentos que justificaram as privatizações foram basicamente dois, o de uma concorrência que se sabia nunca aconteceria depois de deixarem de ser públicas e o da eficiência da gestão privada, que entusiasmados governantes e comentadores vendiam à opinião pública como incomparavelmente superior à da gestão pública.


A PT foi uma destas empresas. Como todas as outras, foi vendida a preço de saldo. Como em todas as outras, as receitas que proporcionava ao Estado para financiar Saúde e Educação foram transformadas em rendas garantidas a privados pela ausência de concorrência. Como todas as outras, distribuiu lugares na sua administração pagos a peso de ouro a figuras do centrão que pôs o país a rentabilizar negócios como o seu. Como todas as outras, deixou de ser um dos maiores e melhores empregadores do país, tendo os seus empregos qualificados, estáveis e bem pagos sido postos nas mãos de empresas de trabalho temporário às quais a PT confiou a sua transformação em trabalho o mais mal pago e o mais precário possível, de forma a maximizar lucros também maximizados pelas isenções e perdões fiscais concedidos pelo mesmo centrão ao qual foi retribuindo com os salários principescos atrás referidos.


Uma destas isenções fiscais aconteceu com o negócio da fusão da PT com a OI. Ao mesmo tempo que sobrecarregava os portugueses com sacrifícios draconianos e uma carga fiscal nunca vista, o Governo abdicou de receber um cêntimo sequer da parte que caberia ao Estado se a legislação fiscal então em vigor fosse aplicada a este negócio que renderia várias centenas de milhão. Justificação: da fusão resultaria o maior operador de telecomunicações de Língua oficial portuguesa. Um gesto muito bonito, tenho que concordar. Mas a empresa já não era pública e, sendo privada, um perdão de centenas de milhão é um donativo de centenas de milhão, de um povo que conta os tostões para conseguir comer até ao final de cada mês a uma empresa que rende milhões todos os dias. Um roubo mesmo nada bonito.


E agora adeus à tal maior operadora de Língua oficial portuguesa. A OI quer ver-se livre da PT. A tal gestão privada, tão mais eficiente do que a pública, andou a emprestar às escondidas 900 milhões a esse universo de delinquência tão dona disto tudo que faliu o BES como lhe apeteceu sem que o regulador visse o mais pequeno indício de irregularidades. Dois dos responsáveis pelo desfalque, reconhecidíssimos como gestores pelo regime ao ponto de receberem condecorações presidenciais, HenriqueGranadeiro primeiro e Zeinal Bava hoje, já foram corridos da PT/OI, embora sem o procedimento criminal aplicável ao comum dos mortais que se aventure a abusar da confiança nele depositada para emprestar dinheiro que não é seu a uns amigos do peito.


Quem necessita dos préstimos de (pelo menos) um gestor premiadíssimo e com um registo criminal imaculado? Quem quer comprar uma empresa de telecomunicações de um país onde pode explorar “colaboradores” à sua vontade, pode combinar preços com uma concorrência colaborante e pode contar com Governos que colaboram até na restrição a quatro canais do TDT que noutros países emite mais de 50? Colabore, não se mexa. Estas histórias terminam sempre bem. A continuação é Já a seguir, num telejornal perto de si.