sexta-feira, novembro 14, 2014

A consensualizar


A Procuradoria-Geral da República (PGR) não encontrou quaisquer indícios de crimes de sabotagem informática que pudessem ter originado o bloqueio do Citius, a versão que Paula Teixeira da Cruz inventou para se desresponsabilizar da decisão de não ter feito caso aos pareceres técnicos que a avisaram do crash da plataforma informática dos tribunais com que a sua esperteza e o país tiveram que se confrontar depois. Tanta imaginação reunida numa perspicácia só sugere que, caso fosse Ministra da Saúde, o surto de legionela a estas horas já estaria a ser investigado pela PJ como guerra química da autoria mais que certa da Al Qaeda. Se fosse Ministra da Educação, a bronca que deixou alunos sem professores até Novembro seria obra de sindicalistas infiltrados pela CGTP nos serviços do Ministério para dar cabo do excelente trabalho da equipa de Nuno Crato. Se ocupasse o lugar de Pedro Passos Coelho, a pobreza que varre o país, a destruição da nossa economia e a derrapagem constante das contas públicas nestes últimos três anos e meio seriam da responsabilidade exclusiva da governação Sócrates. Se fosse Primeira-ministra socialista, a culpa seria repartida pela governação laranja e pelos partidos de esquerda que não permitiram que fosse Sócrates o intérprete da austeridade criticável em Passos Coelho por não ser do PS. E se fosse uma raposa apanhada em flagrante a comer as galinhas do galinheiro – tudo legal, atenção, este avanço civilizacional já está devidamente acautelado, como vimos no post anterior – faria como o Presidente da Comissão Europeia e declararia guerra às raposas papa-galinhas, apresentando-se como alguém que vai liderar uma campanha europeia contra a evasão fiscal e os regimes especiais que permitem às empresas pagar menos impostos. Como é bom de ver, o que está a dar é ter imaginação. Não sei como é que não se lembram de se juntar todos num daqueles consensos alargados e proibir de uma vez por todas essa coisa horrível e chatérrima, que antigamente afligia governantes incapazes e mafiosos, chamada DEMISSÃO. Mas já faltou menos.

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