segunda-feira, novembro 17, 2014

Manual do lambe-botas

Que têm que ver Rui Machete, Bruno Maçães e os Tupolev russos que puseram em alvoroço a base aérea de Monte Real?
Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros, é o chefe de Maçães, secretário de Estado dos Assuntos Europeus. Quando Machete dizia “senta”, Maçães sentava. Mas Machete, repescado de uma longa vilegiatura à cabeça da FLAD para um cargo de ministro que já ninguém parecia querer, também tinha os seus donos, de quem era voz. Na dúvida, os Estados Unidos.
 
E, para não esquecermos estas lealdades antigas, aí tivemos agora a prova dos noves. Quando a Suécia anunciou o reconhecimento da Palestina, a fina diplomacia israelita acusou Estocolmo de fazer política externa como quem monta um móvel do IKEA. Já a pragmática diplomacia norte-americana mandou aos seus fiéis pelo mundo fora uma mensagem mais lacónica – e mais eficaz: “Senta”. E Machete, a correr, sentou-se. Sem perda de tempo, declarou que a homóloga sueca se tinha precipitado e que ainda não é “o momento”.
 
Não façamos a Machete a injustiça de só o julgar capaz de genuflexões perante os EUA. Na dúvida, são essas. Mas, nos entretantos, ele lá vai ajoelhando e pedindo desculpas, para si ou para os tribunais portugueses, perante qualquer bicho careta que lhe fale com voz mais grossa e com credenciais para Visto Gold.
 
Claro, algumas das mais notórias genuflexões da diplomacia portuguesa excediam mesmo a agilidade do veterano Machete para esse movimento tão ensaiado e treinado. E então foi preciso delegá-las em pessoa mais jovem, mais ágil e mais ansiosa de trepar nesta pirâmide de atletas da vénia. O escolhido foi Bruno Maçães.
 
Até ao momento da histórica visita a Atenas, Maçães só era conhecido pela sua foto viral na Embaixada polaca, em que obviamente tinha acabado de regressar de uma caçada aos gambosinos, decepcionado por não apanhar nenhum. Em Atenas, a sua subserviência à patroa alemã dos tais Assuntos Europeus valeu-lhe imediatamente o cognome de “mais alemão que os alemães” e eclipsou a memória daquela foto viral.
 
Mas agora Machete precisou de alguém mais americano que os americanos para marcar distâncias face à veleidade de Juncker de fazer apreciar em tribunais europeus aqueles litígios que as empresas norte-americanas prefiram ver julgados em tribunais norte-americanos. E, na carta de 14 governantes europeus, a demarcarem-se de Juncker e Merkel, lá está então o nome de Maçães – ontem alemão, hoje americano, sempre mais que o Papa, e qualquer dia tão plurinacional como Efromovich.
 
Subserviência e mansidão caninas? Nem sempre: a diplomacia portuguesa também sabe rosnar, desde que seja mandada pelo dono certo. E foi vê-la, alvoroçada com a façanha guerreira dos F-16 portugueses, que “interceptaram” os Tupolev russos. Bom, depois apurou-se que esses Tupolev não sobrevoavam o espaço aéreo português e que evoluíam sobre o Atlântico, algures entre Portugal e a Grã-Bretanha. Mas ele há caniches que não são para brincadeiras, e saltam como uma mola, logo que o ambiente seja de saltar – e não de sentar.


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