Os vistos gold e os vistos lead. Os primeiros dão vidas de ouro a uma minoria que tudo pode comprar, os segundos impõem vidas de chumbo a quem por tudo tem que lutar. Comecemos o nosso passeio de hoje por esse entreposto gold que mora na Praça do Parecer, onde tudo se compra e tudo se vende. Três catedráticos da Universidade de Coimbra, Calvão da Silva, Vieira de Andrade e Pedro Maia, passaram outros tantos “atestados de carácter” a Ricardo Salgado para ajudá-lo na renovação do visto gold de banqueiro, então a expirar.
Segunda paragem, Assembleia da República: "Se pudesse, tirava a idoneidade a Ricardo Salgado. Mas não tinha poderes", disse o Governador do Banco de Portugal na manhã de ontem na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES. Será que Carlos Costa cedeu o poder que tem de conceder e retirar o visto gold aos banqueiros que alegadamente regula à avozinha do Capuchinho Vermelho? Há favores e trocas de favores que ficam caríssimos. Carlos Costa ficou a dever a nomeação a Sócrates e a manutenção no cargo a Passos Coelho, e Sócrates e Passos Coelho e respectivos partidos muito ficaram a dever a Salgado.
Terceira paragem, Banco de Portugal, outro entreposto comercial de vistos gold. “Nos últimos anos o trânsito entre o banco central e os gabinetes do Ministério das Finanças acentuou-se. A política funciona como um “trampolim”: quem regressa ao banco é promovido”.
Quarta e última paragem, Instituto de Segurança Social, vistos lead, que é como quem diz “requalificação”, essa forma suave de despedir que contou com o contributo de valor gold do atrás citado Hélder Rosalino, e é como quem diz contratos “inserção”. O Instituto de Segurança Social (ISS) colocou 697 trabalhadores em “requalificação” – a receber 60% do salário no primeiro ano e depois 40% até ao despedimento definitivo – três técnicos de orientação escolar/social, sete enfermeiros, 22 técnicos de terapêutica, 139 docentes e 526 assistentes operacionais. O ISS tem ao seu serviço centenas de trabalhadores desempregados a ocuparem postos de trabalho efectivos a troco de uma bolsa, ao abrigo do Programa Contrato Emprego-Inserção. Actualmente, há cerca de 60 mil portugueses que trabalham gratuitamente ao abrigo deste visto lead.
Vagamente relacionado: PS e PSD apresentaram uma emenda ao Orçamento de Estado de 2015 que permite que os ex-titulares de cargos políticos voltem a receber as subvenções vitalícias que estavam suspensas desde 2014.