terça-feira, dezembro 16, 2014

Parasitas

O Governo vai ter que dar cumprimento à decisão do Tribunal Constitucional sobre a matéria e repor o pagamento sem cortes do trabalho prestado em dias feriados e das horas extraordinárias já a partir de Janeiro. Os parasitas do país não tardaram a reagir.

Os representantes dos patrões da indústria e do comércio dizem que têm que ser compensados com um desconto na TSU por não poderem continuar a dispor das vidas de cada trabalhador com um desconto de 50%, pagar cada primeira hora extraordinária a 125% e não a 150%, cada hora a seguir à primeira a 137,5%e não a 175% e cada feriado a 150% e não a 200%. Uma empresa recorre a trabalho extraordinário quando o negócio corre bem, não quando corre mal e não há encomendas. Fá-lo porque o acréscimo de proveitos é superior ao acréscimo de custos. Mas a falta de vergonha destes senhores diz que a borla tem que continuar porque estamos em crise, o argumento que durante estes últimos anos tem servido para intensificar o mais possível a transferência de rendimentos do trabalho para o capital que tem ajudado a afundar o país.

Ao aprovar esta medida, uma de muitas com o mesmo objectivo, o Governo incentivou as empresas a sobrecarregarem os seus funcionários com trabalho suplementar em vez de criarem novos empregos: quanto maior o número de desempregados, maior o desespero que durante estes anos tem obrigado cada vez mais pessoas a aceitarem remunerações e condições de trabalho progressivamente piores, com prejuízo para os próprios e para a Segurança Social – salários menores geram contribuições menores – e com benefícios exclusivamente para os empregadores, diferenciadamente segundo a sua dimensão. Foram as empresas maiores, as que multiplicam por centenas de trabalhadores o ganho obtido com a exploração de cada um deles, as que mais ganharam e mais cresceram com esta borla de dois anos, não as mais pequenas e com menos trabalhadores, para as quais os míseros 75 cêntimos que voltarão a pagar por cada primeira hora extraordinária, os 1,25 euros por cada hora seguinte ou os cerca de 24 euros por cada feriado não farão grande diferença.

Pelo contrário, para tantos e tantas que recebem um dos salários mais mínimos de toda a Europa – os cálculos foram feitos para um salário mensal de 500 euros – e conta os tostões para sobreviver, um ou dois euros muitas vezes é a diferença entre poder ou não poder dar o pequeno-almoço aos filhos. Os grandes patrões e o Governo dos grandes patrões gostam muito de falar em responsabilidade social. Fica-lhes bem. Mas responsabilidade social é isto. E responsabilização política é usar o voto para desfazer o tal arco que sempre usa o poder para alimentar as fortunas de uma minoria com os quotidianos de miséria de milhões de portugueses.