terça-feira, dezembro 16, 2014

SIR RICHARD SALTY

Ricardo Salgado pode ter feito uma porção de asneiras muito razoável, mas ainda assim, olhando por alto para as comissões para lamentar de inquérito, ainda era a ele que entregava as minhas poupanças. Quais poupanças? – Perguntará o Leitor mais cruel e é uma boa pergunta. Também não sei. Mas pronto, é uma força de expressão.
Não deixa de ser notável como um homem cai de uma altura tão grande, tão direitinho. Eu sempre que vejo a minha conta fico dois dias em casa de roupão e o Ricardo Salgado viu o grupo e o banco irem pelos ares e parece que se vai casar.
Era, sem dúvida, a ele que entregava as minhas poupanças. Dirá o Leitor mais revoltado que me deixei levar pela sua estratégia de defesa. Confesso que não vi estratégia de defesa alguma. Ricardo Salgado esteve igual a si próprio, como se diz na gíria fofa.
E não se viu estratégia de defesa provavelmente porque a actividade bancária é uma permanente estratégia de defesa. Os bancos, na verdade, não apresentam resultados. Defendem-se. Neste caso em concreto, Ricardo Salgado está apenas a defender-se de resultados menos bons. Dir-se-ia até resultados muito fracos, na medida em que o banco e o grupo foram à vida, mas são resultados.
O que eu sei é que do que vi até agora, seria Ricardo Salgado o meu director financeiro. O seu primo Ricciardi não podia ser porque é um pouco histérico e acorda tarde. Também é demasiado frontal e eu tenho cá para mim que as pessoas demasiado frontais caíram quando eram “piquenas” e partiram a mola da elegância.
Ricciardi, ao tomar conta das minhas poupanças, andaria uns meses a dar-me palmadinhas nas costas na esperança de que houvesse mais. Quando percebesse que não havia mais nada, ia directo ao Banco de Portugal apresentar queixa contra mim.
A outra hipótese era Pedro Queiroz Pereira mas ele próprio disse várias vezes que é só industrial, pá. E eu fábricas não tenho, pá. Tenho uma pequena garagem e algumas ferramentas, mas duvido que o ‘pqp’ conseguisse fazer papel com aquilo. Agora que penso nisso, sediando a pequena garagem no Luxemburgo e obtendo um financiamento de 200 milhões talvez seja possível levá-la ao PSI 20.
Mas enfim, vou sempre precisar de alguém para gerir as minhas poupanças, que no caso da garagem correr bem vão passar a ser uma fortuna. E esse alguém, repito, feita uma análise às comissões para lamentar de inquérito, seria Ricardo Salgado, o gentleman disto tudo.
Insistirá o Leitor mais revoltado que eu me deixei levar pela estratégia de defesa de Ricardo Salgado. E eu insisto que não há como sair desta história sem ser enganado, pelo que o melhor mesmo é escolhermos a nossa personagem preferida, como em qualquer novela. Ora, pela minha parte, não costumo simpatizar com as personagens cómicas e a verdade é que Ricardo Salgado fez o que devem fazer nestes casos os homens de bem. Protegeu a sua família, lutou pelo seu império e no fim culpou o contabilista.
Reconheça-se que arcar com as culpas é uma das principais competências dos contabilistas. Donos que são de uma ciência que ninguém compreende, só eles conseguem fazer magia com números. - Mas senhor presidente, como eu já lhe disse, o senhor está falido. – Não diga isso, seu incompetente, a culpa é sua, que não sabe fazer contas, eu vou matá-lo com o meu corta charutos, seu imbecil, veja lá melhor as contas. – De facto, vendo bem, o seu império apresenta resultados positivos de 3 milhões. – Era preciso pregar-me um susto daqueles!?
Creio que com este exemplo se percebe bem o nível de responsabilidades. Um tenta lutar pela sua faustosa sobrevivência, o outro faz apenas a sua magia, registando-se tão-somente uma ameaça com um corta charutos, que não passa de um pequeno delito.
Não tenho dúvidas em declarar a minha confiança em Ricardo Salgado e a minha disponibilidade para com ele fazer bons negócios, na certeza de que se não correrem bem, só não quero ser inquirido pela Mariana Mortágua, que me parece a pior parte de se estar envolvido num escândalo financeiro.