quarta-feira, janeiro 21, 2015

BASE DAS LAJES – O RENTISMO E A SUBSERVIÊNCIA NUNCA ACABAM BEM

1 - O problema

Prepara-se uma redução (anunciada há dois anos) da presença militar norte-americana na ilha Terceira (base das Lajes) o que significará o desemprego para 500 dos 900 trabalhadores portugueses que lá têm trabalhado. Segundo o presidente da autarquia de Praia da Vitória as perdas no emprego direto ou indireto, já concretizado ou a completar até ao outono, poderão corresponder a 2000 pessoas[1]. Nesse contexto, o governo regional propôs a Passos Coelho, em outubro, um plano de revitalização, embora todos saibamos que o atual primeiro-ministro é mais expedito em planos de desvitalização económica e empobrecimento; e de facto, já foram ultrapassados os 60 dias para a prometida resposta. Veremos se Passos responde antes de terminados os 30 dias apontados e se serão avançadas pelo autarca de Praia da Vitória “medidas radicais nunca antes vistas nesta terra pela luta intransigente dos nossos interesses e dos interesses de todos os praienses”[2].

Essa proposta do governo regional, tardiamente preocupado com os efeitos sociais de uma retirada parcial dos EUA da base, contempla uma "revalorização estratégica" que possa envolver a NATO (… dirigida pelo Pentágono) ou a UE, para além de utilizações não militares das instalações aeroportuárias (terminal de cargas e a equiparação a Santa Maria no que respeita a valências e taxas) e portuárias na Praia da Vitória (cais de cruzeiros, transporte de passageiros e náutica de recreio). O governo regional esteve a proceder a um estudo, secreto, durante dois anos, a revelar na próxima semana e que contempla apoios públicos sob a forma de benefícios fiscais, incentivos e programas de apoio às empresas[3]. Quem acarretará com esses encargos, quando os orçamentos se confrontam com cargas fiscais já elevadíssimas e gastos sociais insuficientes para as necessidades? Tentar viabilizar empresas dessa forma e esperar que isso surta em sociedades com o poder de compra deprimido é viável? Não será mais uma aposta falhada de “supply side economy”?

A reconversão de uma economia baseada num arrendamento gratuito não é fácil, para mais numa pequena ilha situada no meio do Atlântico, a uns 2000 km de Lisboa. As propostas apresentadas não têm nada de original; baseiam-se em pesados investimentos para servir mercados externos e descuram as capacidades dos terceirenses de gerirem, coletivamente, a satisfação das suas necessidades, em ligação prioritária com os restantes açorianos.