quinta-feira, janeiro 15, 2015

Criador de "Je Suis Charlie" lamenta uso mercantil do slogan

"Usar o meu logótipo para ganhar dinheiro é vergonhoso", afirma Joachim Roncin, autor do famoso slogan que saltou para as redes sociais e para as ruas, logo após o atentado à redação do jornal "Charlie Hebdo", e que foi depois apropriado por marcas. 



Como diz o ditado popular, "a ocasião faz o ladrão". E o que nasce com um fim solidário pode virar depressa um meio de lucro. Ora, depois do atentado ao jornal satírico "Charlie Hebdo", em Paris, na passada quarta-feira, foram precisos só 30 minutos para que Joachim Roncin, diretor artístico e jornalista da revista "Stylish",  inventasse o slogan "Je suis Charlie", com letras brancas e cinzentas inscritas num fundo preto, com vista a expressar o sofrimento e a solidariedade para com os colegas jornalistas e cartoonistas vítimas do ataque.
A frase transformou-se rapidamente na hashtag mais partilhada nas redes sociais (#jesuischarlie) - cerca de 6500 tweets por minuto - sendo o cartaz com o lema também utilizado em manifestações na capital francesa e noutras cidades do mundo, assim como em milhares de perfis do Facebook e em homenagens noutros jornais, na versão original em francês e traduzida para outras línguas.
Da mesma forma, o slogan foi também impresso em T-shirts, canecas, pins e outros objetos, passando a ser usado com fins mercantis por parte de empresas na internet.
"Usar o meu logótipo para ganhar dinheiro é vergonhoso", afirma Joachim Roncin à AFP, citado pela revista "Paris Match". O autor lamenta que várias empresas se tenham apropriado do slogan para obter lucros.
"É de facto estranho o que se está a passar. Posso só dizer que naquela altura criei o slogan tendo como base a minha dor e solidariedade face às vítimas. Pensei, eu sofro também, 'eu sou também', e depois veio-me à cabeça o nome do jornal e ainda o facto de ler aos meus filhos o livro 'Onde está o Wally'. Ou seja, a ideia surgiu muito naturalmente", explicou o jornalista à AFP.
Reconhecendo que a frase já não lhe pertence, Joachim Roncin garante que não quer ganhar dinheiro com ela, depois de ter recebido conselhos de pessoas para ele próprio registar a marca. "Dezenas de sites estão a vender o slogan, o que acho horrível. Os Repórteres Sem Fronteiras é que já me pediram autorização para usar o slogan em T-shirts, cuja receita será revertida para o 'Charlie Hebdo'. Só este caso é que acho louvável", sublinhou.  

Instituto da Propriedade Intelectual recusa registar marca
Na sua página no Twitter, Joachim Roncin escreveu que "a mensagem e imagem são livres para uso", prescindindo dos direitos de autor, mas logo sublinhando que recusa a apropriação para fins mercantis.
Algumas empresas como o Ebay e a Amazon concordaram em doar os lucros com a venda de objetos com o slogan para o jornal satírico francês, enquanto outros têm retirado os produtos das suas lojas online.
Entretanto, na terça-feira o Instituto Nacional da Propriedade Intelectual francês (INPI) recusou o registo da marca solicitado por várias empresas. "Este slogan 'Je Suis Charlie' não pode ser utilizado por um agente económico por causa da sua ampla utilização pela comunidade", pode ler-se num comunicado do organismo.
Desde 7 de janeiro, dia do atentado ao "Charlie Hebdo" onde morreram dez jornalistas e cartoonistas e ainda dois polícias, o instituto recebeu mais de meia centena de pedidos para registar a marca, mas não foi dada luz verde a nenhum deles por "não atenderem ao carácter distintivo ", acrescenta o comunicado.

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