quinta-feira, janeiro 22, 2015

Debaixo dos nossos narizes

OIT fala em 61 milhões de empregos destruídos em 6 anos em todo o mundo, em melhorias recentes nos Estados Unidos e Japão mas não na Europa e em perspectivas de que o número de desempregados continue a crescer a bom ritmo até ao final da década. Quanto mais desempregados, maior o desespero. E quanto maior o desespero, tanto melhor para obrigar as pessoas a aceitarem trabalhar recebendo salários menores e com piores condições de trabalho. Nada que preocupe o directório europeu, antes pelo contrário. A austeridade que enriquece uma pequena minoria empobrecendo a restante maioria está a correr pelo melhor, como confirma outra organização, a Oxfam, que reporta como os 1% mais ricos conseguiram aumentar os já inacreditáveis 44% da riqueza mundial que detinham em 2009 para 48% em 2014 e como a manutenção das políticas que proporcionaram tal aumento da concentração da riqueza poderá fazer com que esses 1% sejam donos de metade de toda a riqueza produzida mundialmente já em 2016, para chegarem ao final da década ainda mais ricos, com 54,32% de um bolo que continua a encolher para os restantes 99%, sublinhe-se bem, em clima de harmonia e paz social. E lá nisto somos mesmo o melhor povo do mundo. É  verificar como fomos aceitando pacificamente que esta mesma austeridade aplicada por cá em doses crescentes por sucessivos Governos fosse dando cabo do nosso Serviço Nacional de Saúde, como não reagimos nem mesmo ao sabermos que o resultado da última década desta austeridade consentida produziu o inferno que por estes dias em apenas duas semanas já fez mais 1000 mortos do que seria suposto nos nossos hospitais  e como não se verá qualquer reacção à rentabilização destas 1000 mortes que se lê no despacho do secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde que abre a possibilidade de, em períodos de maior afluência , as urgências de hospitais privados poderem substituir as do SNS que se desmantelou para fortuna dos 1%. Talvez em 2020 já sejam donos do filão que lhes faltava explorar. Talvez em 2020 apenas aqueles que tenham capacidade económica tenham acesso a cuidados de Saúde. Para já, a grande maioria ficará muito satisfeita ao saber que vai ao privado, à rico, como nas revistas dos famosos. Quem tenha a sorte de adoecer, até pode ser que tenha a felicidade de privar por lá com algum. Nunca se sabe. Como diz o ditado, mais vale rico e saudável do que pobrezinho e doente.

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