quarta-feira, janeiro 14, 2015

Economia de expectativas

Em que momento da história é que os ministros da Economia viraram ministros do Alto Astral? Olhando com atenção, hoje em dia os ministros da Economia não tratam concretamente da Economia – que é um bicho que lhes escapa, de resto – e por isso investem o seu tempo a criar bom ambiente.
Para os ministros da Economia está sempre tudo bem e ainda vem melhor a caminho. Fábricas, investimento, oportunidades, emprego, tudo.
Quem não se lembra do ministro Pinho, aquele que disse que a crise tinha passado quando ainda nem sequer tinha levado bem com ela? O que lhe passou pela cabeça para achar que pelo facto de ele dizer que a crise tinha passado, ela ia-se mesmo embora? Quão enorme um indivíduo se tem de considerar?
Mas Pinho também era só investimentos. O Governo de então fez uma festa para anunciar um investimento de 11 milhões de euros da Mitsubishi, por exemplo. Só a festa deve ter custado 15 milhões e os 11 milhões por acaso nunca vieram, pois entretanto a Mitsubishi mudou de ideias. Se é que alguma vez teve ideia de investir.
Depois, mas não imediatamente, apareceu Álvaro. Outro economista da escola do marketing de Estado. Menos espalhafatoso, é verdade, mas também foi capaz de dizer que a solução passava por exportar doces.
Agora está no palco Pires de Lima, que tem animado bastante. Hoje parece que sacou mais 250 engenheiros à Bosch para Portugal. É pena não anunciar estas coisas já com os 250 engenheiros atrás, pois sempre dava mais consistência.
Claro que a Bosch deve ter-lhe dito que sim senhor, mas se calhar queriam só ver-se livres do taxas e taxinhas, que quando engata deve ser de uma pessoa oferecer vagas para engenheiros, senão ninguém almoça.
Ou então não, mas o que era mesmo bonito era os ministros da Economia deixarem de fazer de tontinhos, porque pior que uma economia fraca só uma economia ridícula. Sacar 250 engenheiros é bom, mas não é preciso começar aos pulinhos e a gritar “Bosch é bom”, pois o que parece é que acabámos de enganar mais uns.
Por outro lado, já devia estar comprovado que o “optimismo para telejornal” dos ministros do Alto Astral não faz nada pela Economia. Talvez tenha algum efeito no plano eleitoral, sim. Aliás, no lugar de Pires de Lima eu ia já anunciar um investimento de 11 milhões da Mitsubishi. E se alguém dissesse “ei, essa já foi dita”, então eu corrigia: “Eu disse Mitsubishi? Queria dizer Toyota. Ou Isuzu, uma que ainda não tenha sido dita”.