domingo, fevereiro 15, 2015

Os alemãezinhos (de calcinhas na mão)

Afinal, diz-nos o Público, Portugal está entre os países da zona euro que concederam até agora um menor volume de empréstimos à Grécia, quer em percentagem do PIB, quer levando em conta a dimensão da sua população, tudo pelo facto de Portugal, a partir do momento em que lhe foi aplicado também um programa da troika, ter ficado dispensado dos custos associados à ajuda financeira à Grécia. Como se vê, os colaboracionistas estão a ficar cada vez mais encurralados. Passos Coelho e o seu gang de repetidores não arranjou melhor argumento do que um dado falso para justificar a sua opção de continuar alinhado com os credores que nos têm a saque em vez de explorar as vantagens da aliança com o novo Governo grego que a defesa do interesse nacional exigiria a qualquer Governo  decente de um país nas nossas condições.

Ignorância? Também. Ou desonestidade, que vai dar ao mesmo. Mas apostar tudo  na explicação estupidez natural é ingenuidade, é não perceber que a crise de quase todos fez a fortuna de uma casta muito seleccionada que enriqueceu como nunca. A troika deu-lhes o argumento dívida que os pôs a reconfigurar a distribuição de riqueza do país e em troca puseram o país ao serviço do pagamento dos juros agiotas exigidos por essa troika. É natural que estejam desesperados.

De um momento para o outro, vêem-se na iminência de deixarem de poder contar com a chantagem da dívida à qual os gregos disseram basta. Sabem que sem  ela deixarão de poder continuar as "reformas estruturais" que fizeram estas fortunas: o desmantelamento de serviços públicos que fez crescer o negócio aos colégios e hospitais privados, os cortes salariais e a liberdade de despedir que enriqueceram os grandes empregadores e provocaram o encerramento de milhares de pequenas empresas cuja clientela foi absorvida pelas grandes que sobreviveram, as privatizações a preço de saldo, quem sabe por haver comissões combinadas em segredo entre os amigos vendedores e os amigos compradores, um dia haveremos de sabê-lo, a classe média que sobrecarregaram com impostos sobre os rendimentos do seu trabalho e com impostos sobre o consumo, ao mesmo tempo que aliviaram impostos sobre lucros e rendas e mantiveram as grandes fortunas à margem de qualquer contribuição.

E sabem que vão ter que explicá-lo, mais cedo do que tarde. Os amigos alemães explicarão a sua parte com as contas públicas, a balança comercial e o sector financeiro que salvaram e equilibraram com os nossos impostos, com a destruição económica do nosso tecido empresarial e com o desmantelamento dos nossos serviços públicos. Para eles, foi bom negócio. Já os nossos alemãezinhos não poderão explicar a sua parte com os ricos que fizeram semeando pobreza e destruindo e endividando o seu país. Para nós, o negócio foi péssimo. Não vai ser mesmo nada fácil contrariar a evidência de que o que Portugal afinal nunca foi não era a Grécia. Era a Alemanha.