quarta-feira, março 11, 2015

Sobre aquele lado mais magrinho do Estado - Raquel Varela


«Directa e indirectamente, a salvação dos activos da Banca (e a nacionalização dos prejuízos) faz sair do Estado qualquer coisa como o equivalente a 28% do PIB, 47 mil milhões de euros (12 mil milhões de recapitalização e 35 mil de garantias). A PT não é um restaurante familiar que foi à falência porque está afogado em impostos e não tem clientes. É um monopólio de facto que, quando foi entregue aos gestores privados – os que são agraciados com cruzes de mérito – valia 10 vezes mais. Dez vezes mais.

 A verdadeira comissão de inquérito era os trabalhadores obrigarem a PT e o BES a abrir os livros de contas, e estes serem entregues no Ministério Público, e a polícia judiciária – que tem um Gabinete de Recuperação de Activos – começar a recuperar os activos e devolver uma parte, apenas uma parte, deste esquema, a que assistimos na forma de sketchs humorísticos, só que agora é diariamente no parlamento, com uma comissão que não tem qualquer poder de decisão judicial/criminal. Too Big to Fail, Too Big To Jail? Veja-se: o que se pede é o mínimo - cumprimento da lei e respeito pela população. Abertura das contas, escrutínio público, investigação judicial, consequências criminais.

 Não é possível levar duas das maiores empresas do país à falência e ao desmantelamento e o resultado ser sessões diárias para a TV, no Parlamento, a explicar "não sei", "não me lembro" e..., bom, a vida continua, com o salário e as reformas e o Estado Social a carregarem estas cruzes. Se no fim disto tudo ainda alguém acha as altas taxas de abstenção incompreensíveis é porque não tem assistido aos filmes destas comissões com atenção. Cá em casa já optámos por considerar estes filmes um momento de relax ao final do dia, e os Monty Python um debate político elevado.» – Raquel Varela.