sábado, abril 18, 2015

ÁFRICA, UM “CAMPO DE BATALHA” DA NATO

África vive o colonialismo de terceira geração, se quiserem, o pós-neocolonialismo, desta feita através do expansionismo militar norte-americano levando atrás o aparelho da NATO para garantir a devastação neoliberal do continente a pretexto de – quanto a isso, nada de novo – da “segurança colectiva” e da guerra contra o terrorismo.

Nos gabinetes do Quartel-General da NATO, em Bruxelas, dizer que a África “é um campo de batalha” não é cometer uma inconfidência ou um exagero do discurso. A frase corresponde à realidade do terreno e limita-se a reproduzir os ecos dos jogos de guerra delineados na pátria do império, seja em Washington, na Florida, onde quer que o Pentágono decida renuir os representantes aliados, melhor seria dizer os subordinados.

Desde que em 2008 os Estados Unidos deram asas ao AFRICOM, o seu comando operacional para África, as intervenções militares norte-americanas transformaram-se num dos quotidianos do continente.

Só durante o ano passado, tropas norte-americanas participaram em 674 operações, quase duas por dia, um aumento de 300 por cento em comparação com a situação que se vivia antes de 2008 – isto de acordo com números oficiais.

As razões invocadas no discurso dos chefes militares são as ameaças representadas pelo radicalismo islâmico, sobretudo na África do Norte e Central, sem esquecer o Corno de África e toda a costa do Índico. Organizações como o Boko Haram da Nigéria, o Al Shabab da Somália, a Al Qaida do Magrebe, no Mali e outros países e, principalmente, o reforço do Estado Islâmico (Isis ou Daesh) e a respectiva aliança com o Boko Haram, recentemente anunciada, alimentam a verborreia militarista e securitária.

Atrás dos aliados ou subordinados da NATO, os Estados Unidos arrastam tropas de países como a Argélia, Senegal, Mali, República Centro Africana, Marrocos, Líbia (ou o que resta do país), Camarões, Turquia, Tunísia e Egipto –  por aqui se percebe como as “primaveras árabes foram rapidamente adaptadas ao novo espírito colonial.

Os comportamentos repugnantes de entidades como o Estado Islâmico, o Boko Haram e aparentados justificam o inflamado militarismo? À primeira vista, sim. Pelo menos, é quanto basta para alimentar as confortáveis teses de articulistas, observadores, analistas, politólogos e outros papagaios da propaganda. A observação do fenómeno, porém, não ficará completa se não lhes juntarmos alguns elementos relevantes. Grupos aliados da NATO na Líbia, por exemplo milícias radicais islâmicas ligadas às redes da Al Qaida e do Estado Islâmico, abastecem com mercenários e armas uma miríade de unidades terroristas que espalham a barbárie desde a Síria à Nigéria. Esconder esta realidade não a apaga do mapa.

À boleia desse pretexto, Washington estendeu até 2044 a presença na base estratégica de Lemmonier, no Djibuti, e instalou postos avançados, pequenas bases e aeródromos em toda a margem Sul do Mediterrâneo e também no Senegal, Mali, República Centro Africana, Burkina Faso, Níger, Chade, Sudão do Sul, Uganda, Quénia e Etiópia. Sem esquecer o constante patrulhamento marítimo do Mediterrâneo e das costas africanas por navios militares dos Estados Unidos e outros países da NATO.

“Onde os interesses nacionais nos impelem a inclinar os pratos da balança para o nosso lado e a aumentar a segurança colectiva teremos de dar o nosso melhor, seja em conjunto com os aliados seja de modo unilateral”, confessa David Rodriguez, o comandante do AFRICOM. Como em qualquer discurso colonial dos séculos XVII ou XIX, não é difícil perceber, nas linhas e entrelinhas das palavras deste falcão norte-americano do tempo da guerra das estrelas, os mesmos objectivos de sempre em relação a África e aos africanos: saque, rapina, exploração.