sexta-feira, abril 17, 2015

Da longa série "não há-de ser nada"

Foram mais de dois anos a alimentar guerras entre trabalhadores do privado e trabalhadores do público, a espicaçar invejas entre quem recebe salários de miséria e prestações sociais de miséria, a diabolizar quem luta pelos seus direitos e a elogiar quem deles abdica de cara alegre. O Governo sente que conseguiu dividir um povo hoje incapaz de se reorganizar para repetir  o protesto que o obrigou a recuar no seu objectivo de transferir para quem trabalha os descontos para a Segurança Social que quis aliviar a quem emprega e volta à carga com a redução da TSU. Em ano de eleições, agora diz que irá reduzi-la aos patrões sem aumentá-la aos trabalhadores e, magia, sem comprometer a sustentabilidade da Segurança Social, o argumento que utilizou constantemente ao longo dos últimos quatro anos para confiscar pensões de reforma, reduzir subsídios de desemprego, abonos de família e rendimento social de inserção e, num contexto de desemprego jovem na casa dos 40%, obrigar velhos a prolongarem a sua vida activa aumentando a idade mínima para se ter o direito a poder ceder o posto de trabalho a um jovem sem sofrer qualquer penalização. Ao mesmo tempo, o Governo reanuncia, como se fosse a primeira vez que o faz, para vigorarem   num tempo que já não será o seu, uma redução gradual da sobretaxa de IRS e a reversão, também gradual, dos cortes salariais na função pública. O rebuçadinho há-de apaziguar os poucos que reparem que a redução da TSU não será gradual e os ainda menos que antecipem que tal redução implicará que a idade mínima para a aposentação a partir de agora aumentará ainda mais rapidamente. Vamos todos trabalhar até aos 80, alguns de nós conhecerão o desemprego aos 70, mas não faz mal. O número de milionários também vai continuar a aumentar. E nós somos o melhor povo do mundo, compreendemos tudo menos como é que o sacana do vizinho consegue comer carne todos os dias e ainda ter a lata de meter toda a família no carro novo para irem tirar uns dias de férias ao sol. Isso é que não.