terça-feira, abril 21, 2015

E SE MANUEL VALLS SE OLHASSE AO ESPELHO?

O primeiro-ministro da administração de François Hollande é aquilo que um chefe de governo de um país como a França nunca deveria ser. O seu comportamento ajuda a compreender porque está a União Europeia no estado em que se encontra, embora a maior das responsabilidades não lhe pertença, mais culpado é quem o escolheu e nele confia.

Manuel Valls é dos tais que acha que o seu Partido Socialista deveria mudar de nome, na verdade a única das suas opiniões coerente e bem fundamentada - era um favor que faria à palavra socialismo.

O maior problema de Manuel Valls não é sequer a truculência de uma pose mal estudada e pior maquilhada de “enfant terrible” e de irreverência quando, de facto, ele é “terrible” apenas para os trabalhadores e a inteligência dos cidadãos em geral; e de uma reverência asinina para com os patrões.

Numa das suas mais recentes declarações públicas, Manuel Valls comprovou o quanto é também irresponsável, razão mais do que suficiente, repete-se, para não ser chefe de governo em França ou em mais parte alguma. Verdade se diga que muitos há como ele por essa União Europeia, mas façamos aqui um juízo qualificativo dizendo que os efeitos do caso francês são ainda mais nocivos tratando-se de um país que forma com a vizinha Alemanha o eixo governante da comunidade dos 28.

Valls declarou-se preocupado com o crescimento exponencial da xenofobia e dos crimes de raiz xenófoba, étnica e racista depois do atentado supostamente islamita – e quanto à sua vertente religiosa haveria ainda muito a dissecar – contra o Charlie Hebdo.

É verdade, ele disse isto e, como suporte da tese, brandiu números aterradores de actos de violência anti hebraicos e antimuçulmanos. Sendo dramáticos os números exibidos, igualmente trágica é a admiração do primeiro ministro de Hollande.

Senão recordemos. Como ministro do Interior e já como primeiro-ministro, Valls lançou hordas policiais contra acampamentos de ciganos e procedeu expulsões arbitrárias de imigrantes desta etnia para os seus alegados países de origem, violando normas elementares dos tratados europeus. As explicações xenófobas em que assentou essas práticas brutais fariam corar de inveja a senhora Le Pen, coisa que não aconteceu porque a chefe neofascista percebeu que tem quem lhe faça o trabalho sem sujar as mãos enquanto vai capitalizando apoios graças à deriva governamental.

As atitudes de Valls denunciam-no como um ente intrinsecamente xenófobo. De tal modo que isso lhe entorpece a actuação política, o que ficou ainda mais claramente exposto nos acontecimentos relacionados com o atentado contra o Charlie Hebdo. Nas suas declarações foi difícil traçarr fronteiras entre os conceitos de muçulmano e terrorista; as encenações montadas por ele e o seu presidente tendentes a demonstrar a revolta internacional com os atentados privilegiaram um Estado e um primeiro-ministro – Israel e Benjamin Netanyahu – com mãos bem sujas de terrorismo. Agora admira-se que na sociedade francesa por tudo e por nada se façam ajustes de contas entre comunidades de imigrantes e núcleos habitacionais com raízes e origens distintas, lançados umas contra os outros pela prática e o discurso oficial.

O Manuel Valls que se queixa do recrudescimento da xenofobia deveria olhar-se ao espelho e fugir. Que grande favor faria a todos os que vivem em França e, já agora, em toda a Europa.