sábado, abril 18, 2015

Não, não é porque ele gosta muito de ti

Falemos de violência doméstica, sem rodeios. A violência doméstica é dos tipos de violência que acertando numa só pessoa – ou em duas ou três – acaba por acertar em todos ao mesmo tempo. Só o simples relato de um caso é uma pancada gigantesca na nossa colectiva nuca.
E o mais dramático é que é um problema sem solução. Podem ser inventadas as mais eloquentes leis, que nada trava um animal destes. Só mesmo um projéctil de considerável calibre, disparado no momento em que a besta salta, tal qual se faz com os animais selvagens. Mas como sabemos, as vítimas não costumam estar apetrechadas com material de caça. Infelizmente.
Os anúncios na televisão – as campanhas – também não fazem grande coisa. Podem ajudar as vítimas a denunciar e seguramente já salvaram alguém, mas não são solução.
Então não há nada que se possa fazer? Há. Há uma coisa que se pode fazer, logo lá no começo. No início da história. É ter mais cuidado quando se escolhe a cara metade. Sabemos que é preciso “escolher as companhias”, pois bem, escolher as companhias com quem se vai viver é ainda mais fundamental.
Para quem, como eu, tem muitas dúvidas sobre o amor à primeira vista – a menos que se trate de um automóvel – a paixão é um processo. Ora, há sinais de alerta. E as mulheres – falo nas mulheres pois são a esmagadora maioria das vítimas – devem ter cuidado nas escolhas que fazem. Não se devem entregar, com juras de amor eterno, a idiotas chapados. Claro que há pessoas optimistas, que acreditam que os idiotas vão ao sítio, mas diz-nos a experiência que, em geral, se tornam cada vez mais idiotas.
Haverá seguramente muitas mulheres que foram enganadas e claro que os idiotas podem ser mais ou menos chapados, mas eu não tenho dúvidas de que o melhor combate à violência doméstica passa por se dar mais atenção às “companhias” e não aceitar correr riscos, às vezes negando o próprio amor a um patife.
“Pois, eu sei que ele é assim, mas eu gosto dele” – Está certo, mas em princípio ainda gostas mais de ti, por isso sai daí depressa. Há biliões de homens por esse mundo fora, não me digas que tens mesmo de juntar os trapinhos com o maior imbecil à face da terra!?
Este é o ponto. A prevenção. E sim, temos de ser preconceituosos. Temos de estereotipar a rodos, porque é tudo muito lindo, sobretudo na Primavera, mas há um código. Por exemplo, aquilo que às vezes começa por ter piada e ser até motivo de orgulho, o macho muito ciumento, que gosta tanto de nós que até se passa e nem nos quer ver com mais ninguém… se calhar era melhor despachá-lo rapidamente. Assim como outro, que é o líder do grupo, ninguém se mete com ele, quando ela passa na rua vai tudo para dentro… à primeira vista parece que até é bom para nos proteger, mas talvez seja bom perguntar às pessoas porque é que vão para dentro quando ele passa.
Acredito mesmo que há um nível de prevenção que devia ser mais explorado, uma vez que a reacção é sempre mais dramática e quase sempre infrutífera. Por isso, se me pedissem a mim para pensar num campanha contra a violência doméstica, jamais seria com uma mulher esmurrada e uma música a condizer. Seria qualquer coisa como “encontrar homem deve demorar pelo menos mais do que a encontrar casa”. E para as mais jovens, “não, não é porque ele gosta muito de ti”.