sábado, maio 09, 2015

A praia para os “asseadinhos”

É o Verão. A praia já está artilhada com o material de salvamento e entram em vigor algumas regras, entre as quais: animais, não. Ou melhor, cães não, porque o sinal é omisso relativamente a cavalos e aves há bastantes.
Esta manhã já fui chamado à atenção pelo nadador salvador, que não faz mais do que cumprir as ordens da Polícia Marítima.
Ora, eu vou regularmente à praia. Quase todos os dias. Faça sol ou faça chuva. Nunca encontrei um pedaço de lixo, um único pedaço de lixo deixado por um cão. Mas já encontrei muitos isqueiros, garrafas, embalagens, pensos, sacos, beatas e até uma bisnaga de bebegel.
Também nunca vi um cão a atacar ninguém, mas já soube de assaltos e arrastões, sobretudo nesta linha de Cascais.
Ora, as pessoas é que deviam estar proibidas de ir à praia, porque são elas que a estragam, não são os cães.
Mas enfim, cães não, pelo menos na parte habitável das praias, que estão agora reservadas para os humanos que deslocam para lá as suas despensas e enfiam os seus traseiros num buraco que os próprios desenham no areal. Ah, que maravilha. Não há cães, só há corpos a torrar e pacotes de iogurte e cascas de banana que “eu depois levo para o lixo”.
Não podiam conviver todos, não? Claro que há cães que não se sabem comportar e outros que ladram muito, por exemplo. Nesses casos, a polícia marítima e os nadadores salvadores podiam pedir aos donos para levá-los da praia, uma vez que estavam a incomodar as outras lontras, na sua maioria com headphones enfiados pelo canal auditivo, mas pronto.
Podia ser uma avaliação caso a caso. O mesmo bom senso que regula a legitimidade das próprias pessoas para continuarem na praia. Se eu começar a saltar por cima das pessoas e correr atrás de bolas, deslocando-me sobre quatro membros, devo sair da praia ou posso ficar? O que diz a lei? É mesmo o cão que está proibido ou é o comportamento de cão? Aqueles namorados que se entregam no areal, não equivalem ao cão que tenta fazer o amor com uma perna?
E o pessoal que joga com as raquetes, não chateia? E os que jogam à bola? Quantos turistas não vi já eu, levarem do nosso país as marcas de uma bolada numa nádega!?
Apetecia-me urinar na perna de quem toma estas decisões, de quem não distribui o poder de perceber se um cão, assim como uma pessoa, pode ou não continuar na praia. Hoje, a praia estava vazia, mas de repente apareceu a estupidez humana, como é costume quando o sol espreita.