sábado, maio 09, 2015

Austeridade: muito, pouco ou nada? Um estudo a partir da trajetória grega

Sebastian Gechert e Ansgar Rannenberg do IMK (Institut für Makroökonomie und Konjunkturforschung), o Instituto para Política Macroeconómica alemão, compararam a trajetória macroeconómica grega entre 2010 e 2014 com duas situações hipotéticas: uma sem medidas de austeridade, outra apenas com medidas de austeridade do lado da receita. Os dois cenários foram construídos admitindo que a Grécia se mantinha no euro e que os empréstimos da troika se concretizavam. As projeções sugerem que as trajetórias macroeconómicas para qualquer uma das alternativas (pouca ou nenhuma austeridade) seriam melhores do que a realidade (muita austeridade). Estes resultados são importantes no quadro das negociações gregas com os credores e a União Europeia, apoiando a posição grega. Têm também implicações para uma leitura da situação portuguesa: tanto na interpretação da trajetória macroeconómica de Portugal nos últimos quatro anos, como das propostas que os partidos levarão a votos nas próximas legislativas.
Gechert e Rannenberg, que publicaram este estudo em março, começam por estimar o impacto da austeridade na contração do Produto Interno Bruto (PIB) grego. O efeito cumulativo das medidas de austeridade no período de 2010 a 2014 resultou numa contração de 26% do PIB. A partir daqui, os autores estimam a proporção da contração do PIB que se deve aos cortes na despesa e a proporção que se deve ao aumento de impostos. Estas estimativas definem trajetórias do PIB em dois cenários hipotéticos, que são apresentados tomando como referência a taxa de crescimento do PIB em 2007 (“2007=100”).
As trajetórias estimadas estão representadas na figura abaixo. Na figura consideram-se: uma taxa constante de crescimento do PIB de 2,5% (o valor registado em 2007), representado com a linha roxa; a trajetória prevista na ausência de medidas de consolidação orçamental (linha azul); a trajetória prevista na ausência de cortes na despesa do estado (linha laranja); e, com a linha vermelha, a evolução real do PIB grego no período considerado.