segunda-feira, maio 18, 2015

Exames nacionais: encomendas e manipulações

Já tive oportunidade de explicar, neste blogue, o que penso sobre os múltiplos problemas que envolvem as provas de avaliação com a natureza de exame nacional (cf. coluna lateral do blogue: «Pastas da Educação — Exames Nacionais - apontamentos»). Como aí afirmo, trata-se de um assunto demasiado sério cuja discussão pública tem sido lamentavelmente protagonizada por fanatismos ideológicos e/ou pela leviandade e incompetência. 
Felizmente que, de quando em vez, surge alguém, com lucidez, a lembrar que, nesta coisa dos exames nacionais, o rei vai nu. As afirmações que o presidente do Conselho Científico (CC) do Instituto de Avaliação Educativa (Iave) proferiu, no passado sábado, são disso um exemplo. Seguem-se excertos dessas afirmações, retiradas do sítio do Público.
«O presidente do Conselho Científico (CC) do Instituto de Avaliação Educativa (Iave), João Paulo Leal, disse [...] que o actual Ministério da Educação e Ciência (MEC) tem feito “a encomenda dos exames nacionais”, [...] com a indicação de que se deve “manter a estabilidade nos resultados” dos alunos “em relação aos anos anteriores, porque socialmente é difícil de explicar que as notas tenham grandes variações”.» 
«Na sua intervenção, Leal [...] explicitou que aquele organismo “tem feito os exames escolhendo os itens de maneira a que se repliquem as notas dos exames dos anos anteriores”.» 
«Na conferência, [João Paulo Leal] deixou claro que se podem promover resultados, em média, mais altos ou mais baixos, alterando, simplesmente, as cotações dos vários itens ou, então, uma ou duas questões em todo o exame. Apontou como exemplo, duas perguntas de gramática muito semelhantes para não especialistas, mas que têm variações de acerto que caem de 12% para 71%, consoante se pede um verbo na negativa ou no condicional. Da mesma forma, a Matemática, indicou duas questões similares podem ter resultados díspares, de 80% ou 40%, conforme a resposta implica um raciocínio ou dois raciocínios articulados, explicou.» 
«“Hoje temos um historial de cinco mil itens a Português, por exemplo. Se quero que haja notas altas é muito fácil. Pego numa ou em duas perguntas, substituo-as por outras, aparentemente semelhantes, e a minha expectativa em relação aos resultados dá um salto de cinco valores”, sublinhou.» 
«Disse, ainda, pensar que “não é segredo para ninguém que as equipas do Iave que realizam os exames fazem uma estimativa de que resultados, em média, cada exame vai ter”: “Com uma diferença de mais ou menos um valor em vinte, acertam em 95% dos casos”, disse, sublinhando que aquelas equipas “conseguem fazer um exame para a nota que querem”.»

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