terça-feira, maio 12, 2015

Hora do recreio


O princípio é sempre o mesmo, “aquilo que em mim é um direito, em ti é um privilégio”. O truque é tão velho como eficaz, colocar trabalhadores contra trabalhadores, há sempre uma multidão que se deixa tentar. Quem queira aliviar a pressão política sobre um Governo que, apesar de ser liderado por um especialista em evasão contributiva, não tem pejo algum em deixar famílias sem tecto para recuperar uma dívida fiscal de um par de milhares de euros vai com   toda a certeza deliciar-se com este título: “Em dez anos, cobrança coerciva rendeu 635 milhões ao fundo que premeia funcionários do fisco”. Se é o seu caso, caro leitor, tem a caixa de comentários deste post à sua disposição para dar largas à sua criatividade. Faça uma pausa relaxante e escreva não menos do que dez insultos dirigidos aos funcionários do fisco. Tem toda a razão, eles deviam ser maus funcionários, ler o jornal em vez de cumprir com as instruções de trabalho que recebem, fazer por desmerecer o prémio de desempenho a que têm direito e, de caminho, evitar-lhe a chatice de se confrontar com as consequências das últimas quatro ou cinco vezes que ou votou em quem invariavelmente o assalta, ou não votou em quem sempre o defende. Reparou na foto que ilustra este post? Aquele é o pai das cobranças automáticas. Há quem diga que é o melhor ministro deste Governo. Também poderá confirmá-lo na próxima vez que necessite de recorrer ao SNS e tenha que esperar horas na sala de espera ou o deixem a uivar de dor numa das muitas macas que se amontoam nos corredores dos hospitais. Volte a fazer como fez hoje, insulte os médicos, os enfermeiros, o pessoal auxiliar e quem esteja mais à mão. A culpa também é toda deles, não de quem reduziu pessoal, concentrou urgências, deu ordens para encerrar enfermarias e desviou o produto das cobranças coercivas e não coercivas do financiamento da sua Saúde para o pagamento de uma dívida impagável. Saiba agradecer com solidariedade a quem lhe dirija elogios como “melhor povo do mundo”.

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