segunda-feira, maio 11, 2015

O mistério do desemprego

Na conversa do poder, o desemprego tem sempre ar de mistério. Tudo na economia parece caminhar no bom sentido, até já há crescimento, diz o governo, mas estranhamente o desemprego não baixa. O mistério desfaz-se se atendermos a duas ou três verdades que o mundo capitalista não pode ver nem aceitar.
Uma, é que a actual crise resulta de uma produção superabundante para a qual não há mercado, em larga parte porque a massa dos assalariados não tem suficiente capacidade de compra — uns por terem sido despedidos, outros por verem os salários reduzidos. Logo, não é o aumento da produção em moldes capitalistas que resolve o problema.
Outra, é que a resposta da burguesia à crise se resume, logicamente, a baixar a produção e a dispensar mão de obra. É sobretudo daí que advém mais alguma margem de ganho para o patronato e é isso que leva o poder a falar de “recuperação”.
Outra ainda, é que no capitalismo de hoje qualquer avanço técnico se traduz numa dispensa cada vez maior de mão de obra, sem que o trabalho tornado excedente possa ser absorvido por um alargamento da produção — que aliás não se verifica.
Isto mostra 1) que o capitalismo atingiu os seus limites de expansão e se tornou um obstáculo ao progresso, 2) que o tempo de trabalho socialmente necessário diminuiu e vai continuar a diminuir. Dito de outro modo: o desemprego é um exército de reserva de mão de obra que, sob o capitalismo, só pode crescer — fazendo, paralelamente, baixar os salários de quem trabalha.
Diante disto, não serve acusar a “má gestão” do governo, nem basta exigir medidas de “fomento do emprego”, como toda a esquerda oficial faz. Importa sim mostrar que este é o destino que o capitalismo reserva aos trabalhadores. Combatê-lo exige uma luta anticapitalista. Nesse sentido, a luta pela redução do horário de trabalho sem redução de salários junta o interesse imediato dos trabalhadores em resistir à exploração ao seu interesse numa sociedade livre das pragas do capitalismo.