quarta-feira, maio 13, 2015

O respeitável populismo institucional

Entre as várias coisas desagradáveis que a crise na zona euro trouxe ao de cima, a banalização do discurso nacionalista suave é porventura a que mais impacto assume ao nível do espaço público e do debate político. Tornou-se de tal forma frequente ler que «a Grécia» fez isto e «a Alemanha» fez aquilo que qualquer esforço para deslocar a discussão para lá dessas categorias se depara com incontáveis obstáculos. A isso soma-se uma crescente tendência para a desinformação por parte do discurso jornalístico e governamental, até às instituições europeias propriamente ditas.
Não se trata apenas de constatar que a imprensa tablóide reduz tudo à mais populista e primária expressão, como não cessam de o demonstrar jornais como o Bild, onde uma ida de Varoufakis à praia (foi de ferry a uma ilha situada a 1 hora de Atenas) é utilizada para demonstrar que os gregos não trabalham aos fins de semana, apesar de tudo aquilo que se sabe sobre a sua dívida pública. Comprado por 2,2 milhões de pessoas, o jornal tem uma obsessão ligeiramente perturbadora com o Ministro das Finanças gregas e a respectiva sexualidade, que não se explica apenas pela  disponibilidade deste para se fazer fotografar em casa por uma revista de temas mundanos. Este tipo de jornalismo de buraco de fechadura, para recorrer a uma expressão célebre, parece apostado em fazer da vida quotidiana dos gregos – por via de uma sinédoque que a resume à vida privada do seu ministro das finanças – um elemento explicativo da situação financeira do respectivo Estado. Os sucessos de semelhantes incursões literárias estão à vista.