sábado, maio 16, 2015

Preparar a saída do euro

Num cenário em que o próprio Syriza assuma a impossibilidade de cumprir o programa político para o qual foi eleito e passe a defender a saída é de esperar que isso também tenha uma influência na apreciação popular.
De qualquer forma o referendo é um risco. A saída do euro pode não ser aprovada e o governo fica com um programa político impossível de aplicar no cerco da zona euro. Neste sentido, as declarações do ministro das finanças alemão incentivando a Grécia a fazer o referendo não devem ser motivo de espanto. Schäuble sabe que o apoio ao euro tenderá a diminuir à medida que o cerco anti-democrático apertar ainda mais e que uma eventual decisão popular de manutenção na zona euro arrasa o governo grego. Por outro lado, a zona euro já trabalha num cenário provável de saída da Grécia e, sobretudo a Alemanha e as suas empresas, têm cada vez menos exposição à dívida grega. Merkel, e os seus capatazes em vários governos da Europa, trabalham agora para que uma eventual saída da Grécia seja vista como uma desgraça e um exemplar castigo para qualquer outro governo que se arrogue a invocar a legitimidade popular para questionar as suas políticas.
Na verdade, o que é verdadeiramente decisivo em todo este processo é a forma como o governo grego estará a preparar a possível saída do euro. A “feliz surpresa” com que Tsipras caracterizou o convite da Rússia para que a Grécia adira ao Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) fomentado pelos BRICS é um sinal importante de um apoio internacional que tardava em concretizar-se.
O futuro dos gregos não se prevê risonho mas fazer prevalecer a decisão popular é um bom princípio para recuperar a soberania, a democracia e a dignidade.


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