Ainda assim, continua a haver quem acredite – ou diga que acredita – que este é "o" caminho.
Outros que este é "o" caminho mas que falta dar-lhe uns pequenos retoques, alegadamente suavizadores, capazes, simultaneamente, de convencer a economia a crescer e de continuar a agradar àqueles que vão regando a nossa agonia enquanto povo e enquanto país com milhares de milhão que se distribuem cada vez mais assimetricamente entre a minoria que enriquece com a receita e a esmagadora maioria que empobrece para os enriquecer.
Outros ainda, em muito menor número e alvo de toda a espécie de desconfianças apesar de sempre terem alertado para o desastre económico e social que tais políticas desencadeariam, defendem que apenas conseguiremos, já não seria nada mau, voltar a ser o que já fomos invertendo o sinal destas políticas, renegociando a dívida, auditando-a, eventualmente saindo do euro e definitivamente redistribuindo melhor o rendimento, combatendo as desigualdades, aumentando o investimento público e pondo a economia ao serviço das pessoas.
Mas a grande maioria ou não quer saber ou desconfia. Dedico estas linhas a estes últimos. A desconfiança é uma praga que se propaga por contágio. Uma das teses que mais leio e ouço é a de que a esquerda até tem umas propostas interessantes, pena é que não sejam "credíveis". O conceito merece reflexão. Se a esquerda propõe o inverso do que está a ser feito e o que está a ser feito tem provocado uma autêntica calamidade, a credibilidade está aqui, na própria calamidade.
Por que raio, então, é que a calamidade é credível e as propostas para a combater, pelo contrário, não o são? Onde está a credibilidade da austeridade? Não dou novidade nenhuma se disser que a austeridade conta com um exército de Marcelos, outro de Medinas Carreiras e ainda outro de Galambas – havia para aí um Costa, mas retirou-se entretanto – que todos os dias trabalham para credibilizá-la. E que, apesar do que defendem nos tempos de antena que lhes são oferecidos para o fazerem ser a calamidade que todos conhecemos, os públicos respectivos continuam a confiar, a ouvi-los religiosamente e a fazer a média aritmética da credibilidade à prova de realidade que vai saindo da boca de cada um dos seus comentadores de eleição para saberem o que dizer à mesa do café onde mostram que são cidadãos informados. Afinal, é a sua credibilidade que fica em causa se se saírem com ideias menos "credíveis". Fazer um figuraço. Ser consensual. Dizer o que o público respectivo gosta de ouvir. Não arriscar a partilha de textos como este
– os outros que o façam – apesar de concordar com as ideias nele contidas, eventualmente até comentar com um quejando de "muito bom", mas reservar o mural para a difusão de esterilidades com "likes" garantidos. Ser "credível".