sexta-feira, junho 12, 2015

"A pseudociência assenta sempre na autoridade de alguém"

MGF Notícias – O seu livro “Pseudociência” ajuda a distinguir ciência de pseudociência. De que forma?

David Marçal – A diferença fundamental entre ciência e pseudociência é que a ciência assenta em provas reprodutíveis, que podem ser confirmadas por outros grupos de investigação de modo independente. Os resultados são divulgados e as conclusões apresentadas de modo transparente, de modo a tornar possível a sua reprodutibilidade. Por outro lado, a ciência não assenta na auto- ridade de ninguém, nem numa linguagem específica que soe a científica. Depende das provas. O físico Richard Feynman costumava comparar a pseudociência ao “culto da carga”, um conjunto de rituais que os habitantes das ilhas do Pacífico começaram a praticar no final da II Guerra Mundial quando os aviões dos norte-americanos deixaram de aterrar nas bases militares desativadas. Depois da guerra, os nativos construíram pistas improvisadas no meio da selva, com estradas de terra batida e cabanas para o controlador aéreo, um indivíduo com metades de coco enfiadas na cabeça. Ou seja, copiavam todos os procedimentos dos militares norte-americanos, mas havia uma coisa que falhava: os aviões não aterravam.

A pseudociência faz a mesma coisa. Procura copiar toda a estética da ciência, mas há alguma coisa que falha. Neste caso, a razão pela qual os aviões não aterram é porque faltam as provas.


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