sexta-feira, junho 19, 2015

Crescimento, vantagens competitivas e desigualdades

O economicismo impôs-se como a ideologia adequada ao capitalismo. Este precisa de um crescimento incessante do capital, através da expansão dos mercados ou da redução constante dos custos com os fornecedores de força de trabalho. Conta ainda com a especulação, com a criação de capital-dinheiro, desligada da produção de bens, serviços ou de coisa alguma de útil para a Humanidade.

Dessa volúpia resulta a exuberância das considerações sobre a economia, a ansiedade colocada sobre os últimos resultados da conjuntura, das cotações da bolsa, da enorme seriedade com que se divulgam índices de confiança dos consumidores. O frenesi do crescimento insaciável da economia comanda a vida; esse pesadelo comanda a vida, não é o sonho.

Nessa linha, o semovente Passos afirma preferir a prosperidade à felicidade. A prosperidade para os porcos é a abundância de bolota; esta abundância é também a concepção suína de felicidade. Pode mesmo dizer-se que Passos e a sua governação pretendem interpretar o Triunfo dos Porcos.

O economicismo traduz essa necessidade essencial do capital, apontando para uma constante criação de acréscimos no PIB, para um “crescimento económico sustentado”, permanente. Para obter consenso social para a prossecução desta volúpia, cria-se uma sucessão de ações que materializam um círculo vicioso:

· induzem-se, ou melhor, “vendem-se” junto da multidão, pulsões consumistas e o elevado endividamento que alimente a compulsiva satisfação daquelas pulsões;
· na sequência, para se ter acesso a esse consumo inveterado – diretamente ou através do crédito - é preciso rendimento, na grande maioria dos casos proveniente de um emprego;
·    entende-se que o acesso a um emprego, exige o mergulho no ditoso “mercado de trabalho”, nas suas incertezas, precariedades e humilhações;
·   e que esse mergulho significa a passagem à categoria de colaborador[3] e a submissão a um empresário (atualmente rebatizado de empregador) que magnanimamente se dignará pagar uns €500 mensais, que serão diminuídos por dentadas de IRS e contribuições para a Segurança Social, enquanto a magnanimidade durar.

Há, neste percurso, uma verdadeira aldrabice que envolve o candidato a consumidor; em regra, o rendimento líquido obtido não vai permitir a satisfação do tão sonhado grande consumo e apenas produtos alimentares baratos, casa modesta com encargos elevados de prestação bancária, IMI, eletricidade, taxa de saneamento… e, diariamente, muito IVA.

Se o resultado imediato do binómio emprego-consumo é pouco satisfatório para o colaborador já o mesmo não sucede com o empregador, mais que preparado para substituir o colaborador insatisfeito por outro elemento, mais passivo e mais barato.


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