sexta-feira, junho 19, 2015

Estranha forma de rigor

Quando nos vêm falar sobre a má gestão da coisa pública, recordo-me sempre desta intervenção da parlamentarmente saudosa Ana Drago, que durante menos tempo do que seria desejável representou efectivamente os portugueses na Assembleia da República e foi entalando uma série de boys e outros fantoches arregimentados como quem tirava doces a crianças. Era inspirador vê-la reduzir produtos de universidades de Verão, do abanamento de bandeiras e de outras formas de parasitismo político-partidário ao absoluto ridículo. Tenho saudades dela e o Parlamento ficou, com a sua saída, indubitavelmente mais fraco.
Voltando ao dia em que Ana Drago explicou ao ainda deputado Adriano Rafael Moreira o porquê de ele ser um péssimo gestor público, de uma longa linhagem de péssimos gestores públicos provenientes das castas partidárias do bloco central, que destruíram empresas do Estado e as enterraram em dívidas como a actual ministra das Finanças ou osecretário de Estado dos Transportes Sérgio Monteiro, o motivo que me faz puxar este assunto prende-se com a notícia de hoje do JN que dá conta de uma festa organizada pela Infraestruturas de Portugal (IP) – a empresa que resultou da fusão entre a REFER e a Estradas de Portugal –cujo conselho de administração, nomeado pelo actual governo, inclui Adriano Rafael Moreira, o tal péssimo gestor público que acha que o Estado (ele) gere mal, e que, a título de curiosidade, faz parte daalegada rede de homens de mão do Marco António Costa denunciada por Paulo Vieira da Silva. Interessante como tantos caminhos vão dar à mesma pessoa. Será que tem ligação a Évora?
Ora a tal festa, organizada pelo próprio conselho de administração da IP, empresa que de resto foi criada pelo actual governo com o intuito de reduzir despesa, teve um custo directo de 130 mil euros, de um total que,segundo o JN, se terá cifrado em 300 mil euros. Um gasto absurdo e injustificável, agravado se considerarmos os cortes e outras penalizações que o governo impôs aos trabalhadores das duas empresas agora agregadas na IP. Chega a ser obsceno que se gaste este montante sob a supervisão de um governo que vomita rigor e que alimenta de forma hipócrita uma cruzada contra o despesismo que na realidade só existe quando em cima da mesa estão pensões, salários da função pública ou o SNS.
É interessante verificar que, apesar da sua posição sobre o seu desempenho e o dos seus pares no que à má gestão pública diz respeito, o deputado tenha já estado envolvido na gestão de empresas públicas como a CP e REFER, curiosamente duas empresas que vêm acumulando prejuízos relativamente aos quais este indivíduo tem responsabilidades, e que agora esteja no conselho de administração da IP sem que se conheça uma nega que tenha sido do deputado para se envolver nessa prática nefasta que é a gestão de empresas públicas por irresponsáveis que as deixam na penúria. O sujeito defendeu inclusive, no Parlamento, que se responsabilizasse quem conscientemente lesar o Estado. Que tal começar pelo conselho de administração da IP?

Sem comentários: