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terça-feira, março 27, 2007

IKEA na Índia: emprego desmontável

Por trás da imagem de empresa “ética


Depois de ter implantado lojas na Rússia e na China – mercados prometedores –, o gigante sueco IKEA fez saber, em Outubro, que neste momento não pensava abrir lojas na Índia «devido à regulamentação muito constrangedora para as empresas estrangeiras». O grupo limita-se a fazer com que os seus produtos sejam ali fabricados, sem constrangimentos – e sobretudo sem os dos sindicatos –, pagando a cada assalariado 1,60 euros por dia...

Quatrocentos e dez milhões de clientes por todo o mundo, cento e sessenta milhões de catálogos distribuídos (ultrapassando portanto a difusão da... Bíblia): a IKEA, multinacional do pronto-a-habitar, vai de vento em popa. E o seu volume de negócios mantém uma impressionante espiral positiva: 3,3 mil milhões de euros em 1994, 14,8 mil milhões de euros em 2005; ou seja, uma progressão de mais de 400 por cento. Melhor era difícil. A empresa procura actualmente conquistar dois territórios que até hoje lhe resistiram: a Rússia e a China. Tal como se escreve na sua publicação interna Read Me, «o objectivo é melhorar o quotidiano da maior parte das pessoas. Para alcançá-lo, as lojas devem conseguir vender sempre a um número cada vez maior de clientes» [1]... Para a IKEA, a felicidade do povo passa pelo consumo.

Num fenómeno excepcional, para uma multinacional que simboliza a tal ponto a uniformização planetária e o mercantilismo, a IKEA consegue esquivar-se aos ataques das associações de consumidores, dos activistas pela alterglobalização e de ambientalistas [2]. A façanha é de monta. A verdade é que a marca conseguiu estabelecer laços muito particulares com os seus clientes graças a preços imbatíveis, à instalação de áreas para crianças nas suas lojas, a um conceito total para se encontrar de tudo um pouco, de imediato (e, de preferência, tudo aquilo de que não se precise).

Não faltam sequer os pequenos episódios para ilustrar a união sagrada entre cliente e empresa. Em 2004, um conselheiro municipal de Stockport (Reino Unido) exclamava: «Uma IKEA dentro do território da comuna, eis a glória!» [3]. Como eco deste entusiasmo, foi lançada uma petição pelos habitantes de Mougins, pequena localidade francesa: «Se também tem de passar mais de duas horas de carro, conduzir por mais de 200 quilómetros (ida e volta) para poder fazer compras numa loja IKEA, então aproveite a oportunidade (talvez a última) de que dispõe para ver finalmente uma loja IKEA abrir nos Alpes Marítimos!» [4]. Não será surpreendente? Pessoas que lançam uma petição (mais de duas mil assinaturas em Agosto de 2006!), que afirmam os seus valores, que se mobilizam... porque não existe uma sucursal da multinacional do móvel num raio de cem quilómetros.

Semelhante sucesso pode porém ter consequências mais dramáticas. A 1 de Setembro de 2004, durante a inauguração de uma loja na Arábia Saudita, por ocasião da qual a multinacional ofereceu um cheque de 150 dólares às cinquenta primeiras pessoas a chegar, foi a loucura geral: dois mortos, dezasseis feridos, vinte desmaios...

Como explicar tamanho entusiasmo mundial pela IKEA? Para além dos baixos preços praticados, uma das chaves do sucesso está relacionada com a imagem ambiental e social que a multinacional conseguiu criar.

Desde que recorreu ao seu primeiro fornecedor estrangeiro (a Polónia, em 1961), a IKEA deslocaliza uma parte da sua produção, procurando uma mão-de-obra barata e submissa. A parcela da produção realizada na Ásia não pára assim de crescer. Actualmente, a China (conhecida pelo respeito que exige pelos direitos dos trabalhadores...) ultrapassa a Polónia, tornando-se desta forma o maior fornecedor da empresa, com 18 por cento dos produtos do grupo. Globalmente, 30 por cento do «made in quality of Sweden» provém do continente asiático [5]. Segundo o The Observer, a parcela de países em vias de desenvolvimento na produção da IKEA teria aumentado de 32 por cento para 48 por cento entre 1997 e 2001 [6].

Desde a sua origem, as imposições do grupo sueco centraram-se na proposta de produtos a “preços extremamente baixos”. Em 1976, no seu «Testamento de um negociante de móveis», o fundador Ingvar Kamprad declarava-o: «Nenhum esforço deverá ser poupado para manter os preços ao mais baixo nível [...], estes preços baixos sempre justificados impõem assim enormes exigências a todos os nossos colaboradores [...]. Sem uma estrita limitação das nossa despesas, jamais poderemos cumprir a nossa missão» [7].

No entanto, contrariamente ao que afirma a IKEA, os preços baixos tiveram – e têm sempre – um considerável custo social. Entre 1994 e 1997, três reportagens televisivas de um canal alemão [8] e de canais suecos acusaram a firma de empregar crianças em condições degradantes no Paquistão, na Índia, no Vietname e nas Filipinas.

A Ásia não possui, porém, o monopólio da exploração “ikeana”: em 1998, na sequência da denúncia de condições de trabalho deploráveis na Roménia, o sindicato dos trabalhadores da madeira e da construção, a International Federation of Building and Wood Workers (IFBWW), ameaçou a multinacional com um boicote, que levou à celebração de um acordo entre o sindicato e a multinacional [9].

O IWAY – nome do código de conduta da IKEA nos domínios do ambiente e das condições de trabalho – exige assim, no âmbito social, e como ponto prévio a qualquer colaboração, a ausência de trabalho forçado e de trabalho Infantil. O seu ponto sete (“Saúde e segurança dos operários”) especifica as condições de trabalho dos assalariados, que deverão usar as protecções necessárias para a produção. Procura igualmente garantir a possibilidade de os empregados se associarem a um sindicato ou outra associação profissional, não devendo o subcontratado impedi-los, seja de que forma for. Outro ponto: nenhum tipo de discriminação é tolerado, seja relativamente ao sexo, à origem, ao estatuto, etc. Finalmente, a nível salarial, ninguém deverá ser pago a um nível inferior ao mínimo legal praticado no país. O trabalho semanal não pode ultrapassar o limite imposto pelo horário legal.

Redigir um código de conduta para mostrar, pura e simplesmente, que se vai cumprir a lei pode parecer bizarro... Um pouco como se um indivíduo declarasse solenemente estar disposto a conduzir pela esquerda no Reino Unido. Seja como for: terá tido o IWAY um impacte positivo sobre as condições de trabalho dos trabalhadores das empresas subcontratadas?

SINDICATOS? IMPENSÁVEL!

Relativamente ao trabalho infantil (tema muito sensível para as consciências ocidentais), a IKEA erradicou seguramente esta prática das “suas” fábricas, muito embora o IWAY prefira basear-se nas legislações locais e especifique que «as legislações nacionais podem permitir o trabalho a pessoas de 13 a 15 anos ou de 12 a 14 anos para trabalhos ligeiros» [10].

No que respeita à organização dos operários em colectividades ou sindicatos, ou ao pagamento de horas extraordinárias, o caso é diferente. No curso de uma viagem, em Maio de 2006, a uma aldeia próxima de Karur, uma cidade têxtil indiana do Tamil Nadu, no Sudeste do país, procurámos estabelecer contacto com assalariados de uma fábrica subcontratada. Shiva [11], na casa dos trinta anos, pretendia responder a algumas perguntas do visitante ocidental, mas a sua mãe, uma velha indiana de cabelos brancos, mostra se inquieta. E se Shiva perdesse o seu ganha-pão? O seu salário representa a única fonte de rendimentos da família, composta, para além das duas mulheres, pelo filho da operária, um adolescente de 15 anos.

No entanto, não há do que ter medo. A jovem mulher não critica propriamente o seu empregador. Fala de pausas para chá, de protecções para os olhos e para as mãos. Evoca um ambiente são. E tudo isso corresponde à verdade. «A IKEA oferece as melhores condições, não há que ter dúvidas», assegura Maniemegalai Vijayabaskar, professor assistente no Madras institute of Development Studies. Este universitário, que co assinou um estudo [12] solicitado pela Oxfam-Lojas do Mundo acerca dos fornecedores da multinacional do móvel, não obstante afirma: «Assumem uma face humana para evitar criticas e controvérsias. Mas não fazem grandes esforços para melhorar as condições de trabalho».

As condições de trabalho? À primeira vista são boas. As instalações são limpas e arejadas. Existem pausas para chá e material de qualidade. Enfim, o IWAY encontra-se afixado sobre as paredes da empresa. Mas... Em 2003, o sindicato holandês FNV encomendou à organização não governamental holandesa SOMO, especializada em auditoria social de multinacionais, um inquérito sobre os fornecedores da IKEA em três países: Índia, Bulgária e Vietname. Em cada um desses locais, os investigadores encontraram-se com os operários de três ou quatro empresas e realizaram entrevistas fora do local de trabalho. Visitaram as empresas e conversaram com os quadros das mesmas.

As conclusões diziam respeito a dez fornecedores que representavam cerca de dois mil empregados. A SOMO constatava então: «Existem ainda evidências de diversas violações do código de conduta da IKEA em qualquer um dos três países e em todas as empresas estudadas». As transgressões mais frequentes referiam se à liberdade de associação, ao direito de negociação colectiva, aos salários e às horas extraordinárias. No pior dos casos: inexistência de sindicato, trabalho semanal de sete dias, salário mínimo não respeitado. E, claro, ninguém conhecia os seus direitos ou os compromissos da multinacional do móvel.

História antiga? Do que nos foi dado a constatar na Índia, em 2006, não existe qualquer sindicato entre os subcontratados da IKEA. Oficialmente, contudo, a sua presença é tolerada, mas, a acreditar em Shiva, na realidade nem seriam necessários: «Quando há um problema, reunimo-nos e discutimos. Habitualmente para receber instruções acerca da limpeza das casas de banho. E se tenho qualquer exigência a fazer, posso falar com o director». Talvez se deva à juventude de Xana, ao facto de não ter uma criança para alimentar, mas o facto é que a resposta desta operária soa de outra forma: «Um sindicato? Não, nunca aceitariam. E se vêm de fora controlar a fábrica, os patrões ensinam nos as mentiras que devemos dizer...»

A situação não é excepcional nesta região. Cada iniciativa sindical é morta à nascença. Como qualquer outra multinacional que se instala na Índia, era esta a situação que a IKEA esperava encontrar. Ela é a garantia de salários particularmente baixos. Shiva afirma receber 2300 rupias por mês (40,3 euros). Paga 500 rupias (8,7 euros) por mês para chegar ao trabalho de autocarro. Contas feitas, será o rendimento suficiente para viver? Shiva sorri pudicamente. Quando a sua mãe cozinha, à porta de casa, a receita é sempre a mesma. «Comemos modestamente, sopa ou sobretudo molho com arroz». E carne? «Sim. Uma vez por semana, ao domingo. Mas este domingo não porque é fim do mês». O encontro dera-se a 20 de Maio de 2006.

O código de conduta da IKEA não alimenta os seus empregados. Nem tão-pouco chega a mobilar as suas casas. Não há nenhuma estante Billy ou cama Malm à vista... A casa de Shiva é rudimentar: duas divisões, alguns calendários na parede, fotos a preto e branco, duas enxergas, duas pequenas arcas, como espécie de guarda roupas. Um relógio, representações de divindades.

Quando se lhe pergunta o que faria com mais 1000 rupias por mês, Shiva descreveu-nos o seu modesto sonho de conforto: «Compraríamos um fogão a gás com uma botija. Cozinhar com fogo é penoso, com o fumo todo nos olhos. Durante a estação das chuvas, é difícil encontrar lenha seca. E recolher esta lenha dá muito trabalho». A pobreza de Shiva não constitui uma excepção no universo dos fornecedores da IKEA. Constitui antes a regra.

Outra operária, Manjula, uma jovem casada, diz-nos ganhar 2360 rupias (41,4 euros). Mas quando nos mostra as suas fichas de pagamento de Outubro de 2005, a título de exemplo, esta soma representa um montante bruto (em ambos os significados do termo), do qual é ainda necessário subtrair duas prestações sociais e um seguro de vida. Alguns cálculos depois, as 2360 rupias evaporaram-se. Assim, Manjula trabalhou 24 dias em Outubro e recebeu 1818 rupias (31,8 euros). Apesar de trabalhar seis dias por semana, a sua situação roça o limiar da pobreza extrema. E tudo dentro do mais estrito respeito pelo código de conduta da IKEA...

Para ganhar a vida, os operários multiplicam as horas extraordinárias. «Trabalham doze horas por dia. Sem contar com o tempo de ir e vir», sublinha Maniemegalai Vijayabaskar. «Durante os picos de produção, podem trabalhar até 15 horas por dia».

A IKEA procura reduzir estas horas extraordinárias, mas a pressão imposta pelos prazos de entrega e pela necessidade de ganhar dinheiro torna inevitável este excesso de trabalho. As oito horas diárias estendem se das 9h30 às 13h30 e das 14h30 às 18h30. No entanto, no coração de um bairro popular de Karur, Kalaya sublinha: «Se fizeres horas extraordinárias das 19 horas às 20 ou 21 horas, não te pagam nada. Se trabalharmos até às 22h30, dão-nos um extra de 50 rupias [0,87 euros]. O trabalho extraordinário ocorre normalmente duas vezes por semana».

Assam, que trabalha no mesmo local, assegura-nos que não existem horas extraordinárias na sua empresa. Na mesma noite, as máquinas trabalharão toda a noite e, a postos à entrada, veremos equipas a entrar na fábrica até às vinte horas. Isto prova que os relatos podem ser condicionados por instruções e pelo medo de perder o emprego. Deenosha, por seu turno, precisa de um rendimento suplementar. Com alguma dificuldade falou nos logo à saída da fábrica, desculpando-se de imediato. Tem um outro trabalho das 20 horas até à 1 hora da manhã. Recebe então 80 rupias (1,4 euros), mais a comida.

De facto, para a IKEA, Shiva, Kalaya, Deenosha não são senão «custos que precisam de ser estritamente restringidos»; é este facto que explica a presença da multinacional na Índia. Tanto mais que, para satisfazer as encomendas a tempo, os subcontratados por sua vez subcontratam. O IWAY, que já não é aplicado entre os fornecedores directos da IKEA, torna-se então uma verdadeira abstracção. Nenhum controlo, nenhuma exigência, nenhum limite, a não ser o prazo de entrega.

Mas, mesmo entre os fornecedores oficiais, o controlo do respeito do código de conduta continua a ter muitas lacunas. Quem conduz as auditorias? São sobretudo as 46 agências de compras da IKEA disseminadas por 32 países que realizam o essencial das mesmas (93 por cento). Estas agências são constituídas pelo Compliance and Monitoring Group (Grupo de Controlo e de Conformidade), uma estrutura do grupo sueco dedicada à verificação da aplicação do código de conduta. Composto por cinco pessoas (três em 2004), realizou 53 inspecções em 2005 [13]. Quanto aos auditores externos, como a KPMG, a PricewaterhouseCoopers e a Intertek Testing Services, só realizaram sete auditorias em 2004. A multinacional do móvel admitiu que o número era fraco mas assegurava que «2005 virá a ser diferente, com um número elevado de auditorias realizadas por terceiros» [14]. O número “elevado” já é conhecido: 26 entre as 1012 realizadas...

A LINHA VERMELHA DO TRABALHO INFANTIL

Para além disto, estas poucas auditorias efectuadas por terceiros resultam em parte do sistema de controlo interno desenvolvido pela IKEA. Os auditores não podem publicar os estudos que efectuam, dos quais dão conta, directa e unicamente, à direcção do grupo. Cada controlo, efectuado de dois em dois anos (a cada seis meses ou anualmente na Ásia), demora entre um e dois dias. Os noventa critérios IWAY são então passados a pente fino. À razão de oito horas por dia, este regime significa que a cada um dos pontos avaliados sejam dedicados dez minutos e quarenta segundos. Será possível, em dez minutos, confirmar que não existe pressão contra a formação de um sindicato? E quanto a horas extraordinárias? E o pagamento atempado dos salários? E o respeito pelas pausas? E o trabalho forçado? O trabalho infantil? É simples. Pergunta se ao patrão. Consultam se os registos da empresa. Ou pior, pergunta-se ao operário dentro da fábrica.

As pessoas que efectuam estas inspecções são talvez sinceras e voluntariosas, mas as condições a que são submetidas não permitem efectuar um controlo sério. O método é assim, pelo menos, “ligeiro”, e pouco propício a que os operários se expressem acerca das suas condições de trabalho; tanto mais que este “controlo” se processa ao mesmo tempo que se controla a qualidade dos produtos. Assim, Toneesh, controlador de qualidade, viu duas vezes durante o ano passado os auditores da IKEA: «Eles colocaram algumas questões, sobretudo acerca da qualidade dos produtos, para verificarem a produção. São indianos de Deli ou de Madrassa. Mas também europeus. Estes só contactam ao mais alto nível. Por causa da língua, os trabalhadores não podem falar directamente com eles».

Kalaya, uma operária, confirma: «Ontem, um homem da IKEA veio cá. Mostrou-nos um vídeo sobre a preparação do produto de qualidade. E fez perguntas, mas apenas sobre o produto». Não será certamente este tipo de interrogações evitará que Kalaya fique sem receber as suas horas extraordinárias...

A política da IKEA limita-se assim a introduzir alguma suavização na exploração entre os subcontratados. É verdade que os assalariados têm água filtrada à sua disposição, luvas, casas de banho separadas, por vezes até pausas para chá. Mas beber chá não ajuda o trabalhador a chegar ao fim do mês e sempre que surgem temas de natureza verdadeiramente social – como os salários, a presença de sindicatos, as horas extraordinárias – o tom, como vimos, muda rapidamente.

Não será a própria empresa a grande beneficiária de toda esta responsabilidade social, incarnada no código de conduta? Por um lado, e como sublinha Maniemegalai Vijayabaskar, «a IKEA fez com que fossem os seus fornecedores a pagar os custos da sua política social». Por outro, consegue desta forma valorizar a sua imagem, por via deste compromisso sem custos, mantendo-se com a precisão de um metrónomo abaixo do limiar de tolerância para o Ocidente: o trabalho infantil.

Progressos como estes são conseguidos a tão baixo custo que os compromissos assumidos pelo IWAY acabam por não constituir grandes entraves. A pretensa responsabilidade social da IKEA não chega sequer a arrancar a uma miséria total alguns dos seus empregados. Para que pudesse, com propriedade, autoproclamar-se “ética”, a empresa deveria permitir uma vida decente aos seus empregados. E não falamos propriamente de luxos, de televisão ou de telemóvel. Apenas de comer carne com maior frequência, de ver que o filho, perdendo um ano na escola, não terá de abandoná-la por falta de dinheiro, de não ter de acumular dois empregos; enfim, falamos de se permitir ter um verdadeiro dia de repouso, sem o peso de todas as tarefas domésticas da semana. Nem sequer se está a falar de permitir que Shiva ofereça a si própria um pequeno luxo das prateleiras da IKEA...

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* Respectivamente, jornalista, investigador e secretário-geral da Oxfam – Lojas do Mundo (Bélgica); autores de IKEA, un modèle à démonter, Luc Pire, Bruxelas, 2006.

[1] Read Me, revista internacional interna da IKEA, n.º 1 (versão francesa), Março de 2006.
[2] Para um exemplo de contestação em Portugal, ler Plataforma Convergir, Comunicado de imprensa sobre o caso da IKEA, GAIA, 02/11/2006 (n. IA).
[3] “Un IKEA sinon rien!”, dossiê “IKEA: la secte mondiale du kit”, Courrier International, n.º 722, Paris, 2 8 de Setembro de 2004.
[4] Pour un IKEA à Mougins!, petição na Internet.
[5] IKEA, Social & environmental responsability report 2005.
[6] “Trying to assemble a perfect reputation”, The Observer, Londres, 25 de Novembro de 2001.
[7] Declaração retirada de “Testament d’un négociant en meubles” integralmente publicado na biografia official de Kamprad: Bertil Torekull, Un design, un destin. La saga IKEA, Michel Lafon, Paris, 2000.
[8] O documentário alemão Mattan é mencionado por Manuel Balza e Davor Radojicic, “Corporate social responsibility and nongovernmental organizations”, Avdelning, Linköping, 30 de Janeiro de 2004. As reportagens suecas foram citadas por Susan Christopherson e Nathan Lillie, “Neither global nor standard : Corporate strategies in the era of new labor standards”, University of Oxford, Novembro de 2003, e Lowry Miller, Piore Adam e Theil Stefan, “The Teflon shield: Trench war”, Newsweek International, 12 de Março de 2001. Cf. igualmente IKEA accused of exploiting child workers, BBC, Londres, 23 de Dezembro de 1997.
[9] Olivier Bailly, Jean-Marc Caudron e Denis Lambert, Entre silêncio e mito, Le Monde diplomatique, Dezembro de 2006.
[10] IWAY Standard, ponto 15.
[11] Em virtude de diversas pessoas entrevistadas terem afirmado o receio de perder o seu emprego caso fossem reconhecidas, todos os nomes dos operários são fictícios.
[12] Disponível em www.madeindignity.be.
[13] IKEA, Social & environmental responsability report 2005.
[14] Ibid.
Olivier Bailly, Jean-Marc Caudron e Denis Lambert
Le Monde diplomatique
http://www.infoalternativa.org/mundo/mundo220.htm

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