Na sua crónica régia de hoje, Miguel Sousa Tavares volta hoje - afinal é para isso que o circo comunicacional precisa dele - a investir de forma desembestada contra tudo e todos, baralhando tudo e mais alguma coisa. Não sei se a formação de origem é o Direito, mas certamente que não deve ser, porque por muito enferrujada e distante que esteja há coisas impossíveis de esquecer, em especial em tão douta e doutoral luminária.
Atirando-se como gato a bofe ao sistema judicial, MSTavares pretende colocar os juízes no seu sítio, procurando demonstrar-lhes que os seus poderes não são os que são, mas os que ele acha que deveriam ser. Pelo caminho atropela muitas das regras que, quando se lembra, tanto gosta de invocar contra os desmandos dos políticos. Para ele, os juízes e tribunais deveriam abster-se de intervir em questões que não ofendam “direitos fundamentais” (exclui desta categoria a repetição ad hoc de exames por despacho enjeitado de secretário de Estado) ou quando interfiram no que ele define como “interesse público óbvio” (inclui nesse caso aulas de substituição não remuneradas).
Ficamos à espera do manual tavariano do interesse público e da sua proposta de existência de um único tribunal que seria, de acordo com a sua lógica, o Tribunal Constitucional pois é aquele que é o último garante dessas coisas supremas que são os direitos dos cidadãos, o interesse público e que tal.
Alguém passou um cheque careca? Provocou um desastre só com danos materiais e poucos danos físicos? Isso ofende algum “direito fundamental”? Morreu alguém? Não? Então não há necessidade de tribunais. Aliás só não compreendo porque se encrespou ele quando o acusaram de plágio. Afinal essa acusação colidia com algum “interesse público óbvio”? Não era só com o seu interesse particular? Então porque ameaçou tudo e todos com raiuos, trovões, polícias e tribunais?
Mas o mais divertido - neste exorcismo particular em que Sousa Tavares recai semana sim, semana não, sendo que neste caso os pretextos são fundamentalmente o seu querido futebol (pudera, quantos terão sido os títulos que elogiou que se pode saber terem sido viciados…) e as questões da Educação (algum trauma terá sido criado por alguém naquela infância e/ou adolescência de spoiled brat) - é o facto de ele tudo confundir, para tudo poder atacar de uma vez só do alto da sua presciência.
É caricato como atribui a providências cautelares as decisões judiciais, muitas até já objecto de recurso e julgadas favoravelmente aos queixosos, que têm determinado o pagamento de horas extraordinárias a docentes que deram aulas de substituição para além do seu horário normal de trabalho. Gostava de ver MST sem o pagamento das suas crónicazinhas a tempo e horas. Era um pé de vento de todo o tamanho. Ia-se logo embora de armas e bagagens para outro jornal. Se calhar até começava a gozar com o grafismo da anterior publicação onde lhe pagavam.
O problema de opinadores residentes do regime - aqueles que um estudo académico de Rita Figueiras comprova serem recorrentemente os mesmos década após década - é que achando ter encontrado uma “voz” e um “estilo”, e sendo pagos para o papaguear incessantemente para gáudio da populaça, limitam-se a debitar quase sempre a mesma fórmula semana após semana, mês após mês, ano após ano. A sua aura e a sua virulência muitas vezes desaconselham os m ais cordatos a fazer-lhe notar as falhas nas análises, a lógica fragmentária a o casuísmo na argumentação, tipo o que agora é bom, amanhã já não é.
É conhecido o activismo - alguma qualidade o homem terá para além de vender muitos livros - em defesa de questões ambientais, no qual o suponho adepto do recurso aos tribunais para impedir o avanço de medidas decorrentes de decisões políticas que Ele considera erradas.
Ora, todos os outros cidadãos têm esse mesmo direito, enquanto o manual tavariano das boas maneiras do cidadão cordato não for publicado explicando quando e como se deve protestar e em que moldes. Quando for publicado, assumido como lei da República e decretadas as penalizações para todos aqueles que ofendam a sensibilidade do pseudo-enfant terrible, tudo bem, a malta fica quitinha em casa e só dá a patinha quando o Estado e MST acharem por bem.
Até lá, vai-me desculpar sua Esplendorosa e Majestática Alteza, mas a sua opinião vale tanto como a minha, ou nem isso, já que se fundamenta em factos errados e se desenvolve por ruelas demasiado tortuosas da lógica e coerência.
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