Não sei se
existem adjectivos suficientemente adequados para classificar com rigor as
elites que têm dominado o país. Refiro-me às elites política, económica e
financeira. Esta trindade tem sido fatídica para os portugueses. Aquilo em que
tocam é destruído. A última década tem sido particularmente ilustrativa desta
desgraça.
A nível
político, os últimos dez anos deram-nos quatro primeiros-ministros cujas
qualidades políticas e técnicas só podiam conduzir o país ao estado a que
chegámos. Seria muito difícil sobreviver, com saúde, a lideranças que à
primeira dificuldade e à primeira oportunidade abandonam o país e fogem das
responsabilidades que tinham assumido para com o eleitorado; ou a lideranças
que têm do exercício de governação uma ideia confundível com uma vida gerida
entre o glamour e a passerelle;
ou a lideranças que colocam a vaidade pessoal, a arrogância e a obsessão pelo
poder à frente dos interesses dos portugueses; ou, finalmente, a lideranças
mentirosas, fanáticas e subservientes a ditames estrangeiros, que destroem a
vida presente e hipotecam a vida futura de milhões de indivíduos. Estou
certo de que nenhum país seria capaz de sobreviver, com saúde, a governos
liderados por políticos como Durão Barroso, Santana Lopes, Sócrates e Passos
Coelho.
A nível
económico, continuamos a ter demasiados patrões e poucos empresários. Sem saber
ler nem escrever economicamente e sem saber ler nem escrever civicamente, o
patronato português é tecnicamente incompetente e eticamente carroceiro. A
fraquíssima qualidade da nossa produtividade e as péssimas condições de
trabalho existentes são da sua directa responsabilidade.
A nível
financeiro, o desastre é quase indescritível: não só nenhum dos grandes bancos
foi capaz de sobreviver sem a ajuda directa do Estado, como este sector tem
sido o domínio que, nos índices, mais rivaliza com a criminalidade de rua.
Curiosamente, esta criminalidade financeira é tratada pela imprensa dominante
com uma impressionante complacência.
Mas, nos
últimos dias, tivemos conhecimento de que alguns protagonistas das elites
financeira e económica decidiram cruzar trapaças: administradores da Portugal
Telecom e do Grupo Espírito Santo uniram-se em negócios escuros, isto é, feitos
às escondidas de quase todos e com a exclusiva finalidades de salvar interesses
particulares, mesmo que isso significasse poder dar cabo do valor de uma
empresa como a PT.
Agora, se
alguém se der ao trabalho de revisitar os jornais e as revistas dos últimos
anos, verificará facilmente que todos estes responsáveis políticos, económicos
e financeiras não apenas nos eram apresentados como arquétipos da excelência
lusitana como lhes era atribuído o poder e a legitimidade de se pronunciarem
criticamente contra a generalidade dos portugueses, porque estes, segundo a sua
ponderada opinião, andaram a viver acima das suas possibilidades.
Estas
elites continuam a destruir o país, e os portugueses, mais ou menos
impávidos, continuam a permitir que isso aconteça.