domingo, fevereiro 26, 2006

REFLEXÃO SOBRE O SER FILÓSOFO E O FAZER FILOSOFIA

Esta reflexão que pretendo realizar é suscitada pelo diálogo tido nas duas sessões do seminário. Reflexão que pretende fundamentalmente levantar interrogações onde o domínio filosófico está compreendido. Obviamente que o que acabei de dizer é pouco significativo pois se a filosofia tem um teor englobante (posição com a qual todos os intervenientes mostraram estar de acordo) todas as questões lhe dizem respeito. Mas o autor destas linhas tem as suas opções pessoais, que lhe são ditadas pelos seus interesses e pela compreensão que ele faz do mundo. É uma situação que se aplica a todos nós, aprendizes de filósofos, diferindo "somente" na importância qualitativa que atribuímos às diferentes questões. Penso no entanto que podemos estabelecer certos pontos iniciais de contacto, sem querer ser utópico. Naturalmente que não quero criar a ideia de consenso, ideia essa que é importante no domínio científico (direi mesmo mais decisiva), mas que em filosofia, pelo menos na filosofia como a entendo, é um conceito sem grande sentido porque não tem operacionalidade. Há certos pontos que quero começar por questionar. Diz-se que filosofar é interpretar. Só posso aceitar em parte esta afirmação. Filosofar é interpretar pelos motivos apontados nas sessões, mas não é só isso. Filosofar é criar, é construir. É claro que ao interpretar estamos a fazer, logo a criar, mas o tipo de construção a que me refiro é de índole diferente. Só se toca o real modificando-o, transformando-o. O mundo é um todo organizado com sentido, mas no meu entender uma organização em crise, para usar um vocábulo em voga, embora não se queira ter a ousadia de o explorar in extremis. Estou a tentar valorizar naturalmente uma prática que tanto pode ser individual como social. Melhor dizendo: deve ser individual, por um lado, mas, por outro, social. Na sessão disse-se que fazer filosofia é fazer o mundo. Acrescentarei: fazer o mundo, modificando-o. A pergunta que se coloca bem à nossa frente neste momento é a pergunta pelo como. Não quero neste momento responder directamente, mas o que se me apraz dizer é que não se apela aqui para uma solução política, como tudo poderia indicar, mas para uma solução de outro teor qualitativamente diferente, sublinho radicalmente diferente. O domínio político, o domínio ideológico, esmaga o nosso viver que naturalmente quer ser livre e não estar sujeito a categorias formais desta espécie. A filosofia, como eu a entendo, estabelece um fosso com o político embora nalguns momentos possa eventualmente ter alguns pontos de contacto com ele. Numa sociedade como a nossa, com o tipo específico de organização social que todos lhe conhecemos é difícil agir sem que isso não seja aglutinado no domínio político, ou para ser mais correcto, no ideológico, por muito inocente que essa acção seja.
Também se disse que a filosofia é obra. Fazer filosofia implica realizar uma obra nem que isso seja a vida de um homem. Sobre esta questão gostaria também de dizer duas palavras. Concordo com esta posição do fazer a filosofia e para mim fazer uma obra é primeiro que tudo fazer uma obra escrita. Dou o predomínio da escrita, sobre o oral e como exemplo relembro o caso de Sócrates. Mas essa obra que se transmitiu para o papel necessita de ter uma aplicação prática. Aqui há um problema que quero esclarecer. Há filosofias que podemos caracterizar como individualistas e não estou a utilizar este vocábulo no sentido pejorativo, que muitas pessoas lhe dão. Para esses, uma aplicação prática da sua obra está facilitada. Mas há filosofias que chamarei aqui do social e que para a sua aplicação prática implica a sua não recusa por parte dos outros. Nesse caso o autor dessa filosofia deve viver de acordo com a sua obra, ou pelo menos não agir de modo a colocá-la em xeque.
A obra de filosofia para mim está de acordo com esta frase latina: "Opus artificem probat". A obra mostra o artífice. O sentido que quero realçar é o sentido ético. A obra mostra o artífice, no sentido do homem revelar-se, mostrar o que é, pelas suas acções. Só assim a obra escrita tem a sua realidade e a sua fundamentação. Queria só falar de um caso que posso considerar paradigmático na filosofia, que é o caso Heidegger. Ainda hoje não consigo compreender como é que um homem como Heidegger -quando falo aqui em homem não me refiro à sua personalidade, porque nunca o conheci, mas ao conjunto da sua produção filosófica - pode aderir num determinado momento da sua vida ao Nacional-Socialismo. A interrogação aqui fica para quem a quiser desvendar.
Para acabar esta reflexão, quero por esta questão que poderia ser posta ao autor destas linhas. Como é possível defender-se o que aqui se acaba de defender nomeadamente a crítica à dimensão política e para tese de mestrado o autor proponha o pensamento político e social de Proudhon? Parece haver aqui uma contradição, mas é só uma contradição aparente. Sem querer entrar no pensamento proudhoniano que não cabe nesta reflexão por motivos óbvios, quero só dizer que Proudhon corresponde ao autor da obra filosófica como eu o apresentei nestas linhas e chamaria só a atenção para a sua obra de 1846, Système des Contradictions Économiques onde no rosto do livro se pode ler a seguinte sentença "Destruam et Aedificabo". Interpreto esta sentença em Proudhon, como a vontade da mudança, como a vontade da transformação. Como será essa transformação? Isso é uma outra história que não cabe nesta reflexão.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

TIRO E QUEDA

Estado responsabiliza filhos

Estado responsabiliza filhos pelo apoio social aos pais pobres. Para quando é que os pais pobres irão responsabilizar o Estado pelo apoio social que não lhes dá? A última medida do governo constitui um escárnio para os milhares de idosos portugueses que vivem de pensões miseráveis. O regulamento da nova prestação para idosos aprovado em meados de Janeiro estabelece os valores que os filhos devem dar aos pais que vivem na pobreza. Diz-se ali que os filhos em situação confortável devem entregar aos pais pobres uma quantia mensal que vai de dezassete euros e meio a trinta e cinco euros. Verifica-se assim que este governo julga ser necessário obrigar, através de regulamento, que os filhos ajudem os pais pobres; desresponsabiliza-se das suas obrigações quanto à assistência aos idosos; cumprimenta os idosos com o chapéu dos filhos; considera que um auxílio extra de até trinta e cinco euros por mês resolveria algum problema; obriga os beneficiados com tal auxílio a enfrentarem a burocracia se quiserem recebê-lo. O jornal que anuncia isto classifica a medida como "um passo revolucionário na política social". Mas isto é mais um tombo do que um passo. Quem é que precisa dum Estado que lhe diga o que é que tem que fazer?

OS CEM DIAS

Manchetes do jornal parisiense “Le Moniteur” editado na época de Napoleão em Março de 1815
9 de Março: O monstro fugiu do local do exílio
10 de Março: O ogro desembarcou em Cabo Juan.
11 de Março: O tigre apareceu em Gap. As tropas estão a chegar de todos os lados para deter-lhe a fuga. A miserável aventura acabará em fuga nas montanhas.
12 de Março: É verdade que o monstro adiantou-se até Grenoble.
13 de Março: O tirano agora está em Lyon. O terror apoderou-se de todos que o viram chegar.
15 de Março: O usurpador arriscou-se a chegar a umas 60 horas da capital.
19 de Março: Bonaparte adiantou-se em marchas forçadas, mas é impossível que alcance Paris.
20 de Março: Napoleão chegará amanhã aos muros de Paris.
21 de Março: O Imperador Napoleão está em Fontainebleau.
22 de Março: Ontem à tarde, Sua Majestade o Imperador entrou solenemente em Paris e chegou ao Palácio. Nada pôde superar a alegria universal.
E por aqui se vê a importância que a informação de massas tem na procura da verdade e no esclarecimento da opinião pública.


A wikipédia portuguesa tem 100 mil artigos


A Wikipédia em língua portuguesa atingiu os 100 000 artigosÉ uma enciclopédia cooperativa, sem fins lucrativos, e que está em forte expansão nos países de língua portuguesa.
A Wikipédia é cada vez mais uma referência para consulta sobre os mais variados temas. É utilizada pelos mais diversos tipos de utilizadores pois abrange todos os domínios do saber. A Wikipédia, www.wikipedia.org , é uma enciclopédia livre escrita por voluntários. Livre aqui significa que qualquer artigo da Wikipédia pode ser copiado e modificado desde que os direitos de cópia e modificação sejam preservados. O conteúdo da Wikipédia está sob licença GNU FDL, e tem versões nas principais línguas do mundo, incluindo versões em línguas artificiais como o esperanto. A versão em língua inglesa foi iniciada em Janeiro de 2001 e tem cerca de 926 mil artigos. Em termos comparativos note-se que a Encyclopædia Britannica tem 65 mil artigos. A www.pt.wikipedia.org , versão em língua portuguesa, tem 100 mil artigos. A Wikipédia foi fundada por Jimmy Wales, , e Larry Sanger. A Wikipédia é um projeto derivado do projeto Nupedia. Ambos os projectos foram inicialmente financiados por capitais privados de Jimmy Wales sendo que Larry Sanger foi durante vários meses editor a tempo integral dos dois projectos. O modelo de funcionamento da Wikipédia baseia-se num wiki. Um wiki é uma rede de páginas web que podem ser modificadas através de um browser comum como o Internet Explorer. A Wikipédia é então um wiki. Qualquer pessoa pode modificar qualquer artigo. Na Wikipédia, os artigos são escritos de forma colaborativa. A Wikipédia é suportada por um software próprio, desenvolvido por voluntários e sob licença GNU GPL. Vários autores podem trabalhar em conjunto editando sucessivamente a mesma página. Um colaborador pode assumir quaisquer uns dos vários níveis de colaboração. Pode escrever artigos, corrigir artigos, corrigir gralhas e erros ortográficos, participar esporadicamente, produzir software, traduzir artigos, divulgar o projecto ou participar nas discussões sobre o projecto. É um projecto de grande interesse onde se misturam todos os grandes sentimentos sobre a partilha do conhecimento.
A Wikipédia existe em duzentas e doze línguas e com mais de três milhões de artigos.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Reformas de luxo

(Quem é que falou na crise da Segurança Social?)
Bastam cinco anos de serviço no Conselho de Administração do Banco de Portugal para receber uma reforma de luxo. Campos e Cunha, Tavares Moreira, Miguel Beleza e Cavaco Silva são alguns dos políticos que integram a lista de beneficiados.Dezenas de ex-governantes e deputados recebem reformas de luxo do Banco de Portugal. Para além da pensão, os reformados mantêm as regalias sociais a que tinham direito quando estavam em funções, como o carro e o cartão de crédito.
Quem é que falou na crise da Segurança Social?
Ao mesmo tempo, as reformas são actualizadas a cem por cento e podem ser acumuladas com qualquer outra pensão da Caixa Geral de Aposentações.Campos e Cunha usufrui da reforma mais elevada. O ex-ministro das Finanças de José Sócrates foi vice-governador do Banco de Portugal. Em 2002 terminou as suas funções, tendo ficado com uma reforma de oito mil euros.Tavares Moreira e Miguel Beleza recebem, cada um, 3062 euros depois de se terem reformado do cargo de técnico consultor.O recém-eleito Presidente da República, Cavaco Silva, reformou-se da função de técnico consultor em 2004 por ter atingido o limite de idade. Ficou a receber uma reforma de 2679 euros.
Quem é que falou na crise da Segurança Social?
Várias dezenas de ex-governantes e deputados, para além do Presidente da República eleito, recebem reformas do Banco de Portugal.
Estão nesta situação o ex-deputado do Partido Comunista Português, Octávio Teixeira, aposentado como consultor com o nível 18a desde Dezembro de 2001, que recebe uma pensão de 2385 euros por mês, o presidente do Conselho Fiscal do Benfica, Walter Marques, reformado do banco desde Dezembro de 1991 com o mesmo estatuto do ex-deputado comunista e o fiscalista Diogo Leite Campos, que se reformou como administrador em 23 de Fevereiro de 2000.
Quem é que falou na crise da Segurança Social?
Um caso sui generis aconteceu com o ex-ministro das Finanças, Bagão Félix. Trata-se do único quadro superior foi vice-governador do Banco de Portugal que foi exonerado pelo ministro das Finanças Eduardo Catroga e que não aceitou a reforma a que tinha direito. “Entrei para o banco em Fevereiro de 1992 e fui exonerado em Junho de 1994 na sequência do caso Banesto. Saí sem indemnização, sem pensão e sem emprego”disse Bagão Félix a um jornal da nossa praça.As normas que regem as pensões de reforma do Conselho de Administração do Banco de Portugal têm, no seu ponto 4.º, uma “garantia de reforma” que estipula o seguinte: “O Banco de Portugal, através do seu Fundo de Pensões, garantirá uma pensão de reforma correspondente ao período mínimo de cinco anos, ainda que o membro do Conselho de Administração cesse funções, a qualquer título”.
Quem é que falou na crise da Segurança Social?
As pensões atribuídas aos membros do Conselho de Administração do Banco Central são actualizadas, a 100 por cento, na base da evolução das retribuições dos futuros Conselhos de Administração, sem prejuízo dos direitos adquiridos, especifica o ponto 6 das referidas normas.O ponto 7 regula a cumulação de pensões, consagrando a possibilidade de, “obtida uma pensão de reforma do Banco de Portugal, o membro do Conselho de Administração pode obter nova pensão da Caixa Geral de Aposentações, ou de outro qualquer regime, cumulável com a primeira”. No entanto, a parte da nova pensão correspondente aos anos de serviço que já tenham sido contados para a reforma concedida pelo banco deverá ser restituída.
Quem é que falou na crise da Segurança Social?
Para além da pensão, os membros reformados do Conselho de Administração gozam de todas as regalias sociais concedidas aos administradores no activo, carro e cartão de crédito e também aquelas dadas aos trabalhadores da instituição.A frota de automóveis do Banco de Portugal é de fazer inveja a muitos ministérios. Os contratos de ‘leasing’ das viaturas têm a duração de três anos, sendo os modelos renovados após esse período. Recentemente, foi divulgado que a administração encomendou no passado mês de Dezembro seis nova viaturas; três Volkswagen Passat, dois Audi A4 e um Mercedes classe E. No entanto, sabe-se que, a somar a estes estão também encomendados dois Jaguar que deverão ficar adstritos a directores da instituição.Recorde-se que, segundo um estudo realizado pelo Central Banking Journal, o Banco de Portugal é a terceira instituição de supervisão que mais gastos tem com pessoal em percentagem do PIB (0,08 por cento) entre os 30 países da OCDE, só superado pelo banco grego e islandês.
ALGUNS DOS REFORMADOS DO BANCO CENTRAL
Nome: Campos e CunhaCargo que ocupava: Vice-governadorInício da reforma: 2002, por cessação de funçõesValor da reforma: 8000 euros
Nome: Tavares MoreiraCargo que ocupava: Técnico consultor de nível 18cInício da reforma: 1 de Junho de 1999 – negociadaValor da reforma: 3062 euros
Nome: Miguel BelezaCargo que ocupava: Técnico consultor de nível 18cInício da reforma: 1 de Novembro de 1995 – negociadaValor da reforma: 3062 euros
Nome: Cavaco SilvaCargo que ocupava: Técnico consultor de nível 18bInício da reforma: 15 de Julho de 2004 – por limite de idade Valor da reforma: 2679 euros
Nome: Octávio TeixeiraCargo que ocupava: Técnico consultor de nível 18aInício da reforma: 1 de Dezembro de 2001 – negociadaValor da reforma: 2385 euros
Nome: Ernâni LopesCargo que ocupava: Técnico consultor de nível 18Início da reforma: 1 de Setembro de 1989 – negociada Valor da reforma: 2115 euros
Nome: Rui VilarCargo que ocupava: Técnico consultor de nível 18bInício da reforma: [n.d.] Ocupa o cargo de presidente do Conselho de AuditoriaValor da reforma: N.D.
Nome: António de SousaCargo que ocupava: Administrador de nível IInício da reforma: 23 de Fevereiro de 2000 – Regime dos Membros do Cons. Adm.Valor da reforma: N.D.

Quem é que falou na crise da Segurança Social?

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Os Verdadeiros Donos do Planeta

A petroleira BP é a segunda maior empresa do mundo, seguida pela Exxon Mobil, Shell, General Motors, Daimler Chrysler, Toyota Motor, Ford Motor, General Electric, Total, Chevron pela ordem de entrada da sua facturação até 2005. Cada uma delas constituem economias maiores que Portugal, Israel, Irlanda ou Nova Zelândia. A maior empresa do mundo continua a ser a Wal-Mart, cujo volume de vendas é maior do que o produto interno bruto da Arábia Saudita e da Austria. A Wal-Mart é a vigésima economia do planeta. Dentre as 100 maiores economias do globo há outros supermercados, como Carrefour, Home Depot, Metro e Royal Ahold, processadores de alimentos, como a Nestlé e o Grupo Altria, proprietário da Kraft Foods e da Phillip Morris, juntamente com grupos financeiros como o Citigroup, ING e HSBC, e empresas de informática e telecomunicações como IBM, Siemens, Hitachi, Hewlet Packard, Samsung e Sony. A este, o fortalecimento de cartéis globais de tecnologias.Com tal poderio, e cada vez mais legislações nacionais e internacionais em seu favor, é isso a verdadeira globalização de que tanto se fala, as multinacionais condicionam diariamente a vida de todos, criando guerras reais e de mercado, entremeadas em governos e meios de comunicação, deslocando um enorme poder de propaganda e apropriando-se dos mercados, desde a produção até a compra directa do consumidor.Segundo o relatório do Grupo ETC, Oligopoly Inc 2005, que monitora as actividades das corporações globais, fundamentalmente na agricultura, alimentação e farmacêutica, desde o relatório anterior, publicado em 2003, as 10 maiores indústrias de sementes saltaram do controle de um terço do comércio global para a metade de todo o sector. Com a compra da empresa mexicana Seminis, a Monsanto passou a ser a maior empresa global de venda de sementes, não só transgénicas, das quais controla 90 por cento, como também de todas as sementes vendidas comercialmente no globo, seguida pela Dupont, Syngenta, Groupe Limagrain, KWS Ag, Land O'Lakes, Sakata, Bayer Crop Sciences, Taikii, DLF Trifolium e Delta and Pine Land.Em agrotóxicos, as 10 principais recebem 84 por cento das vendas globais e são: Bayer, Syngenta, BASF, Dow, Monsanto, Dupont, Koor, Sumitomo, Nufarm e Arista. Com tal nível de concentração, os analistas prevêm que sobreviverão apenas três: Bayer, Syngenta e BASF. A Monsanto não renunciou a este lucrativo mercado, mas o seu atraso relativo — do terceiro para o quinto lugar — deve-se ao facto de estar voltada para a produção de transgénicos como frente de venda dos agrotóxicos. Várias das mesmas empresas estão entre as 10 maiores farmacêuticas e de produtos veterinários. As 10 maiores farmacéuticas controlam 59 por cento do mercado: Pfizer, Glaxo SmithKline, Sanofi-Aventis, Jonson & Jonson, Merck, AstraZeneca, Hoffman-La Roche, Novartis, Bristol Meyers Squibb e Wyeth. As dez maiores em produtos veterinários têm 55 por cento do mercado. As 10 maiores empresas biotecnológicas dedicadas a subprodutos para a farmacêutica e a agricultura são apenas 3 por cento da totalidade desse tipo de empresas, mas controlam 73 por cento das ventas. As principais são Amgen, Monsanto e Genentech. Em processamento de alimentos e bebidas, a Nestlé mantém o seu poderio, duplicando ou triplicando o volume de vendas dos seus competidores mais próximos: Archer Daniel Midlands, Altria, PepsiCo, Unilever, Tyson Foods, Cargill, Coca-Cola, Mars e Danone. Juntas controlam 24 por cento do mercado global e recebem 36 por cento dos lucros das 100 maiores. Todas as empresas mencionadas finalmente dependem das vendas ao consumidor. Aí estão os tiranossauros do mercado global, condicionando desde quem produz e onde produz, até o que chega ao consumidor, com que qualidade e com que preço, passando pelos processadores e distribuidores. A lista é encabeçada pela Wal-Mart, cujas vendas são quase iguais à soma das dos quatro competidores mais próximos: Carrefour, Metro, Ahold y Tesco. Quando o New York Times começou a falar da "walmartização" referia-se ao modo como a Wal-Mart havia pressionado a baixa de salários e da segurança social dos trabalhadores nas suas lojas nos Estados Unidos. Situação que se repete por todo o mundo nos lugares onde se instala, além de liquidar as pequenas lojas locais, efeito que têm todos estes grandes supermercados. Em 8 de Fevereiro de 2004, Peter Goodman e Philip Pan escreviam no Washington Post: "Enquanto o capital revista o globo à procura de trabalhadores mais baratos e maleáveis, e enquanto os países pobres recorrem às multinacionais para que lhes proporcionem empregos e abram mercados de exportação, a Wal-Mart e a China constituiram-se na mais extrema empresa conjunta de capital de risco. A sua simbiose influencia as condições de trabalho e de consumo por todo o mundo". Actualmente, devido a condições laborais e preços tão baratos que as maquinadoras miseráveis de Bangladesh não conseguem superar, 80 por cento das 6 mil fábricas que abastecem a Wal-Mart estão na China.Frente a esta enormidade, o fortalecimento das estruturas comunitárias e solidárias não é uma opção ideológica: é um princípio de sobrevivência.
Também por isso a justeza e a oportunidade do meu combate.

sábado, fevereiro 04, 2006

ESCUTAS E MAIS ESCUTAS

A crescente convicção de que a banalização de escutas telefónicas a cidadãos estranhos aos processos judiciais em investigação está fora de controlo é um dado adquirido com a revelação de que haverá milhares portugueses a serem escutados. Sensação de insegurança fornecida por um sistema dito de segurança.A justiça corresponde a um domínio de confiança no futuro quando ela existe.
Quem não deve não teme sabemo-lo que é um dito demasiado simplista tendo em conta os ensinamentos da História. A sensação pública e publicada de que deixou de haver qualquer escrutínio e qualquer controlo sobre a investigação faz com que se levantem todas as dúvidas sobre a bondade e a justiça de qualquer operação relacionada com o mundo da cidadania.Quando o poder quer as escutas são um meio particularmente perverso para a instalação da suspeição junto de pessoas totalmente inocentes e não directamente relacionáveis com a matéria em investigação.E num país com uma crise de justiça instalada, esta convicção de que há um lado oculto, não verificável e subterrâneo na investigação pode conduzir a uma falência do sistema. Uma falência múltipla dos seus órgãos, que já de si valem tão pouco.As múltiplas fugas de informação relativamente a material e a pessoas escutadas tem tido um duplo efeito. Por um lado, tem instalado um ambiente de suspeita generalizada sobre a população; por outro lado, tem estendido essa suspeita às entidades com responsabilidade na recolha das provas a Polícia Judiciária e o Ministério Público.A extensão desta vigilância a nichos e a pessoas aparentemente alheias à suspeita ou à prática de crimes põe em causa os princípios que sustentam o Estado de democracia representativa. Foucault escreveu abundantemente sobre os sistemas de vigilância e punição. Mas somos levados a verificar que nunca como hoje o seu método de avaliação das sociedades e dos regimes vigiados foi tão oportuno.A proliferação de suspeitos antes da existência de qualquer prova ou mesmo indício, e a sua apresentação na comunicação social, é qualquer coisa que só beneficia os verdadeiramente implicados. E a ideia de que pode satisfazer algum interesse corporativo acaba por ser contrariada pela extensão da suspeita à própria corporação.Parece estar a passar-se esta situação, hoje, neste rectângulo de país. Mas era importante que se percebesse que, a confirmar-se esta suspeita, são os próprios actores dessa justiça que vão pagar o bilhete mais caro. Quem vigia os «escutadores», que ficam na posse e no uso de revelações que depois, evidentemente, são usadas como arma?
Os culpados, os verdadeiros culpados, esses saem satisfeitos e sorridente de todo este processo, como aliás é já costume. Porque sairão inocentados por um sistema que já fez ruir a sua própria credibilidade. Um sistema que se auto consume. O que passa a querer dizer "culpado ou inocente"? O problema das escutas atingiu os limites do teste à democracia. Como cidadãos, estamos todos nas mãos de uma nomenclatura oculta, sem nome, que escuta e intimida por escutar.
Entretanto, é mesmo preciso fazer qualquer coisa, e que essa coisa seja radical no sentido etimológico da palavra, e a solução não é dizer que é preciso continuar a acreditar na justiça, mesmo que ela mostre que não acredita em nós.