quarta-feira, maio 31, 2006

Os megafones portugueses do Pentágono

O director do Público: um caso típico

A actual crise política entre os EUA e o Irão é um terreno em que podemos observar o papel de porta­‑vozes da política imperial dos EUA que é o de alguns “jornalistas” e comentadores dos média portugueses, como Luís Delgado, Pacheco Pereira, Vasco Rato, Severiano Teixeira e outros. O problema deles é que são muito pouco credíveis: há bem pouco tempo, a propósito do Iraque, enganaram descaradamente os seus leitores e ouvintes; a memória não é assim tão curta. Mas nem isso, agora, os inibe. O caso de José Manuel Fernandes (JMF), director do jornal Público, é típico por vários motivos:
(1) foi um dos mais acérrimos defensores do ataque militar ao Iraque e, ainda hoje, o é da sua ocupação;
(2) uma vez oficialmente desmascaradas as mentiras com que esse ataque foi justificado (inexistência de armas de destruição massiva, inexistência de ligações de Saddam com a Al-Queda), foi, tal como o foram os seus mentores da Casa Branca e do Pentágono, incapaz de admitir publicamente o seu “erro” e, de forma totalmente ignóbil e intelectualmente desonesta, limitou-se a reproduzir as “desculpas de mau pagador” propaladas a partir de Washington (Saddam não tinha ADMs, mas “tinha a intenção” de as ter; não tinha relações com a Al-Qaeda, mas “podia vir a ter”); e, sobretudo,
(3) as suas “tomadas de posição” – no Público e nas TVs que o convidam para “comentar” – foram seguindo, dia a dia, às vezes hora a hora, as indicações das chamadas “Global Messages” emitidas por Washington como guias de opinião e de “factos” para os seus porta-vozes “jornalistas” e “comentadores” em todo o mundo – facto que ficou magistralmente demonstrado pelo depoimento do jornalista Rui Pereira na Audiência Portuguesa do TMI, em Março de 2005, na Torre do Tombo, o qual analisou, deste ponto de vista, principalmente o papel de JMF, de Pacheco Pereira, de Luís Delgado e Vasco Rato.
Presentemente, a função de JMF como propagandista dos interesses imperiais dos EUA gira, principalmente, em torno da “questão iraniana”. Primeiro, apresenta sistematicamente esse “problema” como uma decorrência normal do Tratado de Não Proliferação Nuclear; acontece que as principais potências nucleares ocidentais (EUA, Reino Unido, França) são as primeiras a não cumprir esse tratado (no que respeita ao desarmamento dos arsenais existentes) e, por isso, suscitam, por parte dos outros Estados, a vontade de, também eles, se munirem desse poder dissuasor, ou seja, provocam aquilo a que Pezarat chama a “contra-proliferação nuclear”. Em segundo lugar, com o mesmo desonesto sistema “dois pesos, duas medidas”, nunca JMF faz qualquer referência ao facto de que, na mesma região do mundo, existe uma potência nuclear clandestina, equipada com ogivas atómicas pelos próprios EUA, e que se chama Israel.
Por fim, é interessante verificar como JMF inverte os termos reais de comparação quando – como no seu editorial de 16 de Abril último, no Público – argumenta, a propósito do presidente actual do Irão, que «um dos maiores erros cometidos pelos líderes das democracias [refere-se JMF a Léon Blum, e aos anos 1930/40] foi lidarem com Hitler tomando a sua palavra pelo valor facial». Induzida por JMF como eco do que vem da Casa Branca (foi “noticiado” que Bush se refere a Ahmadinejad, nas reuniões do governo, como “Hitler”), esta comparação do presidente iraniano com Adolf Hitler tem uma função muito precisa: evitar que nós reparemos que, na realidade, a actual política expansionista e agressiva dos EUA é que se pode, de algum modo, assemelhar à política expansionista (“lebensraum”) e agressiva do nazismo.
O controlo do Irão – quarto produtor mundial de petróleo, corredor fundamental entre o oeste e o leste (Iraque­‑Afeganistão) e entre o norte e o sul (Rússia­‑Índia) –, com este ou com qualquer outro presidente, é um objectivo fundamental da estratégia de médio prazo do império EUA, ou seja, controlar a chamada “rota da seda”, precisamente o eixo islâmico Turquia­‑Iraque­‑Irão­‑Afeganistão­‑Paquistão (com prolongamento até à Indonésia). Segundo o conceituado analista canadiano Michel Chossudovsky (www.globalresearch.ca), o controlo da “rota da seda” é fundamental para os objectivos imperiais dos EUA porque, assim, (1º) garantem o acesso ao petróleo e ao gás do Médio-Oriente e da bacia do Cáspio; (2º) controlam o encaminhamento desses produtos para ocidente (v. golpe pró-EUA na Geórgia e apoio estadunidense ao terrorismo islâmico na Tchechénia) e não para oriente (China e Índia, grandes compradores de petróleo e de gás); (3º) controlam também, através da CIA e das máfias a ela ligadas (v., por exemplo, a biografia de Richard Armitage, em nndb.com, e o depoimento de Michael Ruppert no Brussels Tribunal), a produção de heroína e o seu transporte para oeste; e (4º), com dezenas de bases militares no Médio-Oriente e na bacia do Cáspio, acham que podem manter em respeito os seus principais rivais estratégicos, a China e a Rússia.

Podemos portanto ler os editoriais de JMF à luz de outro tipo de informações:
– Que país tem, hoje, uma política abertamente expansionista e hegemonista, como teve o IIIº Reich alemão? Os EUA.
– Que país invade e ocupa outros países ao arrepio da Carta da ONU, como Hitler o fez ao arrepio das leis internacionais então em vigor? Os EUA.
– Que país é orientado por um projecto estratégico assumidamente hegemónico (o PNAC e seus derivados, “um milénio americano”), como a Alemanha nazi o foi (Mein Kampf, “um Reich para mil anos”)? Os EUA.
- Que país apoia ou promove, como o IIIº Reich, acções genocidárias e limpezas étnicas tendentes a “clarificar” determinadas situações demográficas e culturais regionais, ou a facilitar projectos de domínio e expansão económica (Palestina, Bósnia, Kosovo, sunitas do Iraque, índios do México centro­‑americano, índios da Amazónia, etc.)? Os EUA.
Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler, baseava a sua acção no seguinte princípio: “uma mentira, repetida o número suficiente de vezes, transforma-se em verdade”. Não foi Goebbels que inventou isto. Já nos primórdios do séc. XX, quando a publicidade comercial se desenvolveu nos EUA, alguém teorizara sobre a “transformação de mentiras em verdades” e aplicara essa teoria às campanhas políticas. É conhecido o caso exemplar de Ivy Lee, pioneiro do lobbying, que, depois de ter apoiado, em 1904, a campanha presidencial de Alton Parker contra Th. Roosevelt e, em 1912-14, o esforço de guerra dos EUA durante a 1ª Guerra Mundial, utilizou as técnicas mediáticas para (ao serviço de Rockefeller) derrotar a grande greve dos mineiros da Virgínia Ocidental (o massacre de Ludlow, em 20 de Abril de 1914). Ivy Lee morreu em 1934 quando trabalhava afanosamente na promoção das relações entre os EUA e o IIIº Reich…
JMF fala-nos de Hitler, e dum suposto “novo Hitler”. Mas comporta-se como um “pequeno novo Goebbels” ao serviço do único “novo nazismo” que nos ameaça (v. Freitas do Amaral, Do 11 de Setembro à crise do Iraque): o imperialismo dos EUA.

José Mário Branco

terça-feira, maio 30, 2006

O currículo oculto dos manuais escolares

Os manuais escolares constituem apenas uma parte do que se aprende nas escolas – uma vez que nelas também se aprendem coisas tão impregnantes como a obediência, a imobilidade, a forma competitiva de nos relacionarmos com os outros, quantas vezes sob a capa da cooperação etc – mas a verdade é que são uma boa ( e amarga ) amostra das categorias e dos esquemas mentais que se pretende socializar junto das gerações mais novas, esquemas e atitudes essas que vão estar, mais tarde, na origem das opiniões e da visão do mundo dos actuais jovens.Apesar dos manuais serem apenas uma fonte, entre outras, de formação escolar e educativa, eles são bem representativos do que o Estado, e com ele, as ideias dominantes numa dada sociedade, pretende difundir e impor aos alunos. Para agravar mais as coisas, não é raro encontrarmos pessoas para as quais o conteúdo dos manuais escolares assume um carácter de verdade absoluta e inquestionável !!!Encontramos, desde logo, em muitos senão mesmo todos manuais um rasgado e incondicional elogio à tecnologia, e pouca e mesmo nenhuma referência aos seus aspectos negativos. Pretende-se passar a ideia que será a tecnologia a resolver os problemas presentes e nunca se enfatiza a necessidade de transformação das estruturas sociais e dos convencionalismos dominantes.Muitos grupos sociais tornam-se completamente invisíveis a quem leia a maior parte dos manuais escolares portugueses. Desde os homossexuais até às mulheres domésticas, passando pela terceira idade e pelos operários, muitos grupos sociais e profissionais são suprimidos ou é o mesmo que não existissem à face da terra, tudo isso numa estratégia discursiva que visa consagrar os grupos e elementos que sejam importantes para o mercado, os com papel activo segundo a retórica dominante.Ignoram-se e desprezam-se igualmente as culturas e práticas locais que, como não se revestem de natureza depredatória, são encaradas as mais das vezes como …atrasadas.A natureza, a terra e a vida mostram-se sempre como actividades subordinadas à economia e ao mercado. Prevalece uma lógica produtivista. A ecodependência das sociedades humanas é permanentemente uma ilustre desconhecida para os livros escolares, e passa-se ao lado da natureza insustentável dos actuais processos económico-sociais. Celebram-se, por exemplo, os transportes rápidos, e a longa distância, sublimando-se explícita e sub-repticiamente os valores ligados velocidade custe o que custar.Pior ainda é o profundo e marcado etnocentrismo que todos ou quase todos os manuais dão mostras evidentes, qualquer que seja o nível escolar para que foram destinados.A história é convertida numa história dos Estados e do poder, com mapas e fronteiras amiúde, relegando para um plano secundário as histórias das culturas e a dinâmica social.Perpassa em todos esses livros uma noção linear da evolução que acaba por sublimar, invariavelmente, as virtudes da modernidade, esquecendo-se de referir o quanto de barbárie esta mesma modernidade tem engendrado.As soluções políticas e individuais são sempre de natureza individualista. Parece que não há decisões estruturais a assumir. Fazem-se recomendações e conselhos para o indivíduos, mas não se denunciam as soluções tecnocráticas e lucrativas tomadas pelas autoridades para as sociedades capitalistas.E passam em branco muitas das áreas fundamentais da nossa vida, desde a educação sexual até à realidade, muito bem escondida, do vil e rentável negócio de armas e do domínio do complexo militar-industrial., passando pela repressão e controle dos cidadãos, a exploração económica, as mentiras e a manipulação mediática, etc,etc.No fundo, os manuais escolares não preparam nem para o presente, nem muito menos para o futuro. Ignoram ou fazem por ignorar as grandes linhas que movem o mundo e a civilização actual. Servem antes para legitimar um modo de vida adequado às realidades sociais do sistema económico dominante, mas insustentável a curto prazo.Não falamos, obviamente, dos erros científicos e metodologias discutíveis que pululam nos vários livros de texto editados em concorrência por várias editoras a preços proibitivos, que custam os olhos da cara a muitas famílias. Tudo para bem da reprodução social do capitalismo depredatório.

http://pimentanegra.blogspot.com/

segunda-feira, maio 29, 2006

CowParade - a peste em lisboa

As vacas pintadas vão estar em Lisboa este ano. Uma coisa desta envergadura merece um pouco da nossa atenção. É também a possibilidade de reflexão sobre mais um fenómeno globalista, desta vez no mundo das artes plásticas e da estética. A “arte” pública industrializou-se, centenas de “artistas” trabalham como operários colorindo estes modelos em PRFV (poliéster reforçado com fibra de vidro), como crianças que pintam dentro dos contornos as figuras dos livros para colorir, à conquista do mercado mundial e das multidões. Merece bem a pena reflectir sobre este fenómeno, inegável marco da globalização no mundo da arte. Os simulacros da vaca, excentricamente pintados, que este ano vão estar em Lisboa e também em: México City, México (2006), Buenos Aires, Argentina (2006), Madison, Wisconsin (2006), Boston, Massachusetts (2006), Denver, Colorado (2006), São Paulo, Brazil (2006), no continente americano, em Paris, França (2006), Lisboa, Portugal (2006), Edinburgh, Scotland (2006), Moscovo, Rússia (2006), na Europa, depois de terem passado por Portland, Oregon (2005), Harrisburg, Pensilvânia (2004), West Hartford, Connecticut (2003), Atlanta, Geórgia (2003), Las Vegas, Nevada (2002), Santo António, Texas (2002), Houston, Texas (2001), Kansas City, Missouri (2001), Nova York, Nova York (2000), Stamford, Connecticut (2000), West Orange, New Jersey (2000) no continente americano e em Florença, Itália (2005), Barcelona, Espanha (2005), Bucharest, Romenia (2005), Varsóvia, Polónia (2005), Bratislava, Slovakia (2005), Genebra, Suiça (2005), Mónaco (2005), Praga, Republica Checa (2004), Manchester, Inglaterra (2004), Estocolmo, Suécia (2004), Dublin, Irlanda (2003), Bruxelas, Bélgica (2003), Isle of Man (2003), Londres, Inglaterra (2002), Ventspils, Letônia (2002), na Europa e Sydney, Austrália (2002), Tóquio, Japão (2005), Africa do Sul (2004), Auckland, Nova Zelândia (2003) (Africa/Asia/Australia), são o maior fenómeno de todos os tempos da arte de temática “vacum”. Os mais radicais poderão mesmo considerar que este ícone tridimensional seriado em fibra de vidro reforçada com poliéster, colorido por “artistas, presidiários, aficionados do Benfica (no caso português), e outros “curiosos” denotam sobretudo o apagar da memória, numa fútil atitude de objectos levianos, onde Arte, é o que ali está ausente. Dirão mesmo que dada a semelhança de processos de expansão geográfica e social se assemelhar às grandes multinacionais, tem o cunho do poder que não respeita os protocolos ambientais de Quioto, que impõe o lucro com base nos trangénicos, que desenvolve as sementes “terminator”, que tenciona privatizar o acesso à agua em regiões pobres da América Latina, que desencadeia um "ataque preventivo", o mesmo que desencadear uma guerra, o que é considerado crime contra a humanidade desde Nuremberga, que criminaliza tudo o que lhe é adverso e que sobretudo diz que o que faz é para proteger e cuidar do cidadão. Segundo a Wikipedia a CowParade «é uma exibição pública internacional da arte que se caracteriza por acontecer nas principais cidades do mundo. As esculturas em fibra de vidro das vacas são decorados por artistas locais, e distribuídas sobre o centro das cidades, em lugares públicos tais como estações de comboio, avenidas importantes, e parques.
Caracterizam frequentemente a arte gráfica e os aspectos da cultura local e também a vida na cidade e outros temas relevantes. Após a exposição na cidade, a qual dura muitos meses, as vacas são leiloadas e os rendimentos revertem para a caridade. Há algumas variações da forma, mas as 3 formas mais comuns da vaca foram criadas por Pascal Knapp, escultor nascido na Suíça que foi encarregado de criar especificamente as vacas para a série de eventos das CowParade.». Manifestação de uma cultura globalista que procura uniformizar as identidades locais para gerir e mercantilizar em proveito próprio, também o fenómeno artístico. O estatuto do artista, fica neste contexto reduzido, e substituído por qualquer pessoa ou grupo que decore estes pré-fabricados com motivos excêntricos ou alusivos ao seu clube de futebol, instituição, etc.. O que ganha o ensino artístico, a memória das pessoas e os próprios artistas com estas realizações? Para todo este mega evento, simulacro do “vacum” parodiado, um artista apenas é notado, Pascal Knapp, autor dos três principais modelos, equivalentes a três bonequinhos dos tradicionais livros de colorir. Mas se agora são notadas na nossa capital, estas “vacas” já infestam a Europa de lés a lés, colocadas em tudo quanto é sítio, das grandes cidades, bermas de estrada, sapatarias, lojas de moda, talhos, estações de serviço, etc., é a moda da vaca pintada que conquistou a cultura do mundo. É uma epidemia de simulacros do martirizado animal. Depois vem as réplicas em formatos reduzidos, de vários tamanhos, para os coleccionadores de bugiganga gastarem o seu dinheiro. Está tudo industrializado e propriedade de grandes corporações. O mundo mudou, o quadro de mentalidades mudou, a arte e o estatuto do artista, com este modelo de arte pública, distancia-se já bastante do que foi o séc. XX. Nenhuma qualidade estética interessante, nenhuma referência coerente, nenhum interesse memorial encontramos inscritos naquelas frivolidades, a não ser a constatação óbvia da profunda crise humanista que se instalou e que arrasta também a arte para uma profunda crise. Este ícone tridimensional da vaca para colorir, está muito distante da qualidade escultórica e memorial das estátuas bovinas que encontramos em algumas cidades europeias, como a vaca de Leeuwarden designada por onze muder, o excelente conjunto que compõe a fonte dos pastores em Siegen, os touros ibéricos como o de Pamplona ou aquele que compõe o monumento ao campino em Vila Franca de Xira. O que resta dos milhares de decorações pictóricas diferentes desta forma é a ideia de vaca, uma marca subliminar ligada ao hambúrguer e ao bife, que se tornaram na dieta diária de milhões de pessoas. Um modelo alimentar que nada tem que ver com as formas locais de alimentação, derivadas da cultura, tradição e recursos das populações nos diversos lugares geográficos. Assim, a Cow Parade publicita subliminarmente o consumo de carne de vaca, cujos interesses só podem ser o das grandes explorações do Texas, da Irlanda e de outros locais em prejuízo dos pequenos criadores. É um fenómeno de rancheiros e cowboys que se instalou no mundo. Torna-se a vaca como suporte de decorações vistosas, com o objectivo de motivar emoções afectivas e oculta-se na totalidade como são criadas em série, com rações contendo grande quantidade de produtos químicos e OGM, abate-se em série de forma desumana os animais e processam-se de modo a virem embalados os pedaços para os mercados. É uma fabricação de grandes indústrias. Muitos hindus se abstêm completamente de carne. Principalmente a de origem bovina, dado que a vaca é um animal sagrado, mas não há impedimento ao uso do leite e dos laticínios em geral. No entanto algumas castas inferiores podem comer carne de búfalo. Atualmente, o consumo da carne de vaca está ganhando alguma adesão na Índia, por influência da cultura global. A carne de vaca também é rejeitada pelos mais velhos em Taiwan. A razão para isso está na crença de que seja errado comer um animal tão útil na agricultura. Na cultura global em formação, a base alimentar é carne de vaca. Daí a arte global se iniciar pela representação deste animal. Aí está o principal alvo deste ícone, o estômago, a primeira das três necessidades básicas freudianas (fome, sede e sexo). Não sou contra comer carne de vaca, eu próprio como vaca uma a duas vezes ao ano, portanto não é uma observação vegetarianista. Ademais não esqueci uma frase de Jean Cocteau “não há venenos, há doses”. Neste caso estamos perante uma overdose de vacas de plástico com pretexto artístico vanguardista. Não poderá esta enormíssima quantidade de exemplares e realizações maciças envenenar a consciência de muitos consumidores de obra plástica urbana? Estamos perante mais um ataque à diversidade e uma uniformização das consciências em torno de significados alheios à natureza e a leituras coerentes do real. É a massificação do pueril, e a deslocação dos significados e dos afectos para o nonsense do insignificante, frívolo, vão e leviano. Sendo a Europa, a seguir à América Central o continente com mais realizações Cowparade, é caso para referir o arrefecimento de programas e propostas estéticas coerentes, e a notada falta de criatividade dos responsáveis pela cultura europeia nas instituições. É isto que abre as portas da Europa a estes fenómenos culturais de qualidade duvidosa, em muito maior quantidade que na Africa ou na Ásia, em período de crise de fenómenos bem mais interessantes como as “capitais europeias da cultura” e outras realizações afins. E no caso português? Mais uma vez, somos notados no mudo. Somo bons, estamos muito internacionalizados. Depois do Euro 2004 estamos na rota dos noticiários internacionais, Rock in Rio, Rali Lisboa – Dakar, Cow Parade, visita do Bill Gates e em Setembro vamos ter em Lisboa os 300 altos-quadros e dirigentes das multinacionais mais ricas , vão debater sedes de negócio. Lisboa quer ficar no mapa destas multinacionais. Ficarão muito contentes por encontrar a cidade cheia de bonecos/vacas pintados. A publicidade online ao evento vacum mostra os hotéis disponíveis, ao mesmo tempo que divulga actividades para dinamizar o evento: « Vacas do Cow Parade já estão a ser criadas». As vacas que irão ser exibidas em vários locais da capital durante a iniciativa Cow Parade, de 14 de Maio até finais de Agosto, começaram ontem a ser decoradas e pintadas nas antigas instalações do Metropolitano de Lisboa, em Sete Rios, tranformadas numa enorme galeria de arte. No «Atelier de Pintura ao Vivo», artistas de diversas várias localidades portuguesas estão a pintar 74 das 100 vacas escolhidas, num «espectáculo» aberto ao público de terça-feira a domingo, entre as 15 e as 22 horas. Além das vacas que estão a ser decoradas aqui, outras 12 começaram a ser enfeitadas em 12 centros comerciais espalhados pelo país e pelas regiões autónomas, e outra no Estabelecimento Prisional de Aveiro. As restantes 11 vacas vão ser pintadas pelos artistas seleccionados nos seus próprios ateliers de pintura. ”Democratizar a arte, aproximando-a do público” é um dos objectivos do Cow Parade, segundo a organização da iniciativa, que irá apresentar exemplares como a Chococow, Vaca MUUuuóvel, Vacamões, Vaca Portuguesa, Portucow e Cow-Mões, entre muitas outras.» . Até os nomes das vacas são ridículos. Só mesmo para débeis mentais. Temos pois elementos suficientes para reflectir sobre a Cowparade como marco importante nas mudanças do mundo e dos seus reflexos na arte. As coisas estão mesmo a mudar, e temos que estar preparados para a mudança. Mas temos que saber para o que queremos mudar - se para pessoas conscientes ou para débeis mentais. Haverá forma de combater esta praga?

j. filipe vieira
http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=75669&cidade=1

domingo, maio 28, 2006

A Mentira Autoritária da “Liberdade Absoluta”

A ideia de liberdade absoluta acarreta na redução da sociedade em estágio de selvageria e caos. Nenhuma sociedade, em quaisquer orientações políticas, inclusive a anárquica, pode admitir a liberdade absoluta, sendo que esta é mais uma ideia difamatória de inspiração burguesa. Liberdade Absoluta implica no direito de liberdade até mesmo para aqueles que querem suprimi-la. Resulta em dar o direito aos fascistas, ou partidários da monarquia, de existirem e de promoverem suas acções contra uma ordem estabelecida, sem que sofram represálias por isso. Aos inimigos da Liberdade não se pode conceder nenhum direito, nem o direito de viver. A “Liberdade Absoluta” implica na negação da organização social, nos seus meios de produção e de direitos políticos. Ou seja, implica na negação da própria ideia de liberdade, de direitos de decisão iguais para todos. A sociedade necessita de normas para que sua funcionalidade e harmonia existam, como, por exemplo, a organização do ensino, dos correios, da produção de bens de consumo, etc. Imaginemos se cada indivíduo ou organização que desempenha certa função social resolvesse fazer o que bem entendesse. Se, por exemplo, os responsáveis pelos correios resolvessem queimar todas as cartas de envelope branco ao invés de encaminha-las aos seus destinatários, pelo simples fato de que preferem os envelopes azuis. Se indivíduos de certa região resolvessem destruir as cidades, sem dar satisfações a ninguém, por acreditarem que as cabanas de palha são mais agradáveis. Certamente, este seria o caos, não só numa ordem capitalista ou socialista, mas também na ordem anarquista. Se nós podemos dizer que preferimos o caos ao invés do capitalismo, é porque temos a ideia de que o capitalismo é o verdadeiro caos, com suas injustiças e mazelas, que possibilita a existência do bandidismo e crueldades, e em contrapartida, o que chamam de “caos anárquico”, é a verdadeira ordem, é a organização promovida pela própria sociedade em benefício de todos. O Caos proclamado pelos anarquistas nada mais é do que a negação da ordem capitalista e a defesa de uma nova ordem, radicalmente contrária a esta, que promove a autogestão, a liberdade e igualdade dos indivíduos na sociedade. Penso que no momento em que as forças populares estiverem suficientemente organizadas e com condições reais de suprimir a actual ordem capitalista para pôr em prática a ordem que acreditamos ser a mais justa e harmoniosa entre os homens, a anarquista, a organização insurreccional, a nível nacional, deve propor seus novos métodos de organização social, de modo que a produção seja feita com as visões nas necessidades económicas nacionais, e que cada comuna, cada federação de comunas, deve construir suas próprias normas sociais, de acordo com as necessidades regionais. As normas não são limitações da liberdade, e sim meios para as quais sejam constituídas da melhor forma possível as relações sociais, e com a fundamental diferença de que a própria sociedade construirá suas normas, não como as leis do Estado, feitas pelas classes dominantes com o fim de manter sua hegemonia e subjugação. A consciência da democracia directa, do altruísmo, é a peça fundamental para manter a sociedade livre e igualitária num regime anárquico. E a desobediência ao bem geral, por uma simples questão de ego, deve ser punida como atentado às liberdades colectivas pela própria sociedade através de suas normas livremente constituídas e aceitas. As punições, longe dos métodos canibais e coercivos utilizados pelos Estados hoje, serão feitas das formas mais eficazes e humanas possíveis, com métodos de regeneração social. Hoje em dia, também devido às difamações burguesas-liberais, se rotula “Autoritário” em tudo que se trata de normas de convivência. Penso que autoritário é deixar que os meios de mídia, usufruindo e sua “liberdade de pensamento e expressão”, exibam seus filmes e novelas pornos ao meio-dia, incentivando o sexismo e fazendo sua apologia sobre as drogas e violência. Igualmente autoritário seria se o indivíduo, usufruindo de sua “liberdade absoluta”, resolvesse subjugar toda uma sociedade por seu bel-prazer, chantageando pessoas ou destruindo vidas em nome de uma “liberdade” psicótica que manda as pessoas fazerem o que quiserem. Para isso, não seria necessário destruir o sistema actual, nem pregar a “liberdade absoluta”, pois essas barbáries já existem e ditam a convivência social no capitalismo.


«As populações têm na não-violência uma arma que permite a uma criança, a uma mulher ou mesmo a um velho sem forças resistir e derrubar o mais poderoso dos governos»
Gandhi
A VIOLÊNCIA
– é um desperdício estúpido de vidas humanas, de muitos recursos da inteligência, e muitas vezes, da enorme riqueza da vida vegetal e mineral que deveriam ser conservadas· – é elitista, pois gera hierarquias disciplinadas de especialistas, que seguem um lógica própria, difícil de controlar. Além disso, a violência privilegia os jovens e os saudáveis (normalmente, os homens)· – é mistificante, porque normalmente manipula as emoções, utilizando expedientes, truques, mentiras, hinos, bandeiras, medalhas, uniformes, veneração de heróis, tendo quase sempre uma veneração reverencial à arma, supremo símbolo da violência.·- É perturbadora da personalidade, uma vez que encoraja atitudes de agressão, levando as pessoas a tratar dos outros como objectos a remover ou eliminar, tal como num jogo se tratasse· – é corruptora e auto-perpetua-se, originando a sua própria espiral de paranóia, fugindo a qualquer controle político· – é sexista, já que tem sido praticada, historicamente, pelos homens·-é injusta, porquanto tende à vitória do mais forte, e não do mais justo·
A NÃO-VIOLÊNCIA
– é humana, porque utiliza sobretudo as qualidades que só a espécie humana possui· – é subversiva, porque mina a legitimidade das instituições vigentes que se mantêm pela força (por definição, o Estado tem o monopólio da violência), ataca as fontes de poder, não respeitando as normas sociais impostas, e permite a mobilização de outros valores sociais, estranhos a todas as formas de dominação· – é um método civilista, uma vez que pressupõe a politização e a consciencialização da população, baseando-se na bravura física e na força de vontade das pessoas, permitindo a participação popular de todos, e não só dos mais aptos, nem apenas dos especialistas· – é voluntária, já que nos métodos de não-violência as pessoas não são recrutadas obrigatoriamente, nem pela pura propaganda, nem a disciplina é mantida pelo medo· – é radical, porquanto os seus métodos envolvem incentivos à consulta e participação da maior parte da população, constituindo uma prefiguração das sociedades mais livres.·- Ajusta-se a todas as comunidades, não sendo necessário o recurso e o investimento a tecnologias, a máquinas nem a indústrias que são característica da civilização ocidental tecno-burocrática· – restringe e inibe a violência descontrolada e a fuga dos conflitos para fora do controle político das populações· – é dignificante, já que só depende da vontade de afirmação das pessoas e da sua recusa em abdicar dos seus argumentos, considerados os mais justos Conclusão: A não-violência é, portanto, muito mais do que uma táctica útil e pragmática. Na realidade, a não-violência promove activamente a participação popular e a criação de estruturas descentralizadas. Para além disso, supõe a mobilização das consciências e das energias individuais e colectivas para novas formas de relacionamento, opostas às relações de dominação, à violência e à exploração, típicas das sociedades hierarquizadas e estratificadas como é a actual sociedade capitalista.

sábado, maio 27, 2006

A “nova economia”: alta tecnologia, alto desemprego e baixos salários

A nova lógica da economia global pode ser resumida em poucas palavras: Uso intensivo de alta tecnologia combinado com alto nível de desemprego e baixos salários. Essa é a verdadeira “nova economia”.
No final dos anos 1990, começou-se a falar muito em “nova economia”. Seria uma nova lógica económica que seria baseada no uso intensivo dos recursos de alta tecnologia de informática e telecomunicações que permitiria ganhos espantosos com as novas empresas “ponto.com”.
Teoricamente essa nova economia não sofreria de crises cíclicas, típicas do sistema capitalista de produção, por se achar concentrada em novos mercados ainda inexplorados e praticamente inesgotáveis. As facilidades da internet e os aperfeiçoamentos da logística, de âmbito global, abriam um verdadeiro universo de possibilidades às novas empresas que estavam sendo criadas.
Além das aparentemente ilimitadas possibilidades de ganhos com acções, por parte de quase todo mundo, prometia-se um novo mercado de trabalho. Os empregos não só não seriam eliminados pelas novas tecnologias, como na realidade seriam criados milhares de novos empregos especializados e bem remunerados, seja nas empresas que utilizassem as novas ferramentas tecnológicas, seja nas novas empresas que iriam desenvolvê-las.
Dois novos paradigmas surgiram para representar a “nova economia”: A rede Wal-Mart e o “Vale do Silício” na Califórnia. Eles eram o contraponto da velha economia, centrada nas indústrias, e obedecendo a velha lógica “fordista”. Os tempos agora eram outros. Chegava à era do “just-in-time” e do sistema “toytista” de produção.
Nas relações trabalhistas, deviam ser deixados de lado os anacrónicos sindicatos e suas idéias bitoladas de negociações colectivas, reivindicações salariais e de benefícios padronizados e partir-se para a “flexibilização” do trabalho. Afinal os novos empregos iriam exigir alta qualificação e especialização. O trabalho deixaria de ser monótono para ser muito criativo e estimulante, podendo ser realizado no conforto da própria residência do empregado.
Muitos especialistas em mercado financeiro alertaram para os perigos da “bolha especulativa”, para a “exuberância irracional”, para os exageros de optimismo e para as “fortunas virtuais” criadas pelo NASDAQ. Mas poucos se lembraram de alertar para os sinais que apontavam claramente para a deterioração do mercado de trabalho.
Dizia-se que a um “curto” período de provável surto de desemprego, se seguiria uma verdadeira revolução no mundo do trabalho. Os leigos em tecnologia digital e em sistemas informatizados eram simplesmente incapazes de perceber que as novas máquinas exigiam um número muito pequeno de técnicos, altamente especializados para criá-las, e apenas pessoas com o nível mental de uma criança de 10 anos para operá-las.
Todos ficavam admirados com a facilidade com que as crianças aprendiam a lidar com vídeo game, computadores e a internet. Ninguém notou, no entanto, que o que permitia isso eram as “interfaces amigáveis” dos novos equipamentos. Essas interfaces logo estariam nas máquinas industriais, nos veículos, nos bancos e nas grandes redes varejastes.
Em resumo, a “nova economia” representaria, na prática, um espantoso decréscimo da necessidade de mão-de-obra qualificada. Operadores de máquinas gigantescas só teriam de manipular “joisticks”, caixas de supermercado e funcionários de bancos, só teriam de seguir instruções ilustradas, com desenhos e ícones coloridos, de aparência infantil.
Depois do estouro da “bolha” das empresas “ponto.com”, muito se falou sobre a necessidade de se repensar o uso irresponsável das novas tecnologias. Mas todas as preocupações se concentraram apenas no fato óbvio de que havia um enorme desconhecimento sobre as reais consequências económicas do novo paradigma tecnológico.
Os “profetas” da “nova economia” imediatamente caíram em descrédito. Acções de empresas de alta tecnologia foram substituídas pelas das velhas e boas empresas tradicionais. Mas a crença de que os trabalhadores só poderiam esperar por melhorias, permanece misteriosamente intacta até hoje.
Livros, artigos, manuais, palestras e simpósios de gurus da “nova economia” foram discretamente arquivados e esquecidos após os fiascos do “crash” do NASDAQ. Mas os profetas da “empregabilidade” e do “novo trabalhador” continuam fazendo sucesso. Isso apesar da realidade estar estampada por toda à parte.
Jeremy Rifkin, já alertava em meados da década de 1990 que: “O desemprego global atingiu agora seu nível mais alto desde a grande depressão da década de 1930, Mais de 800 milhões de seres humanos no mundo estão desempregados ou sub empregados”. (1)
A verdadeira “nova economia”, como haviam previsto os “pessimistas” como Rifkin, agora se impõe de forma muito clara. Já vai longe o tempo dos eufemismos e dos discursos optimistas:
“Já se fala em uma ‘teoria económica a.WM (antes do Wal-Mart)’ que estaria sendo superada por outra. A ‘antiga’ teoria, ‘pregava que a prosperidade é criada quando as grandes empresas pagam bons salários e seus milhões de funcionários podem ir às compras como consumidores abastados. O Wal-Mart desdenha essa lógica”.
“Do alto de um faturamento anual de US$ 256 biliões, sua contribuição ao ciclo económico mundial consiste em três itens: pressionar os fornecedores para reduzir preços, usar tecnologia digital de primeira linha para baratear a gestão de seus estoques e, finalmente, pagar aos seus 1,6 milhões de funcionários o menor salário possível, encolhendo os custos da empresa’”. (2)
Mas é claro que nada disso é um problema para a classe trabalhadora. Isso porque existe uma nova lógica que os críticos não conseguem perceber em toda a sua excelência:
“Enquanto todos os manuais dizem que é preciso paparicar a mão-de-obra, o Wal-Mart nadou na direcção oposta. Combatem a sindicalização, paga salários 20% menores do que os concorrentes, resiste em remunerar horas extras e é espantosamente mesquinho quando se trata de planos de saúde”.
“Ao contrário do que fizeram General Motors e General Electric na construção da economia americana, o Wal-Mart não massifica a prosperidade, ele produz deflação. A teoria de Bill Wertz, diretor de Relações Internacionais da empresa, ouvido pela revista é simples: ‘Nós permitimos que as pessoas comprem mais gastando menos. Isso é como dar um aumento. Competindo, nós ajudamos a melhorar a vida dos trabalhadores’”. (3)
Em outras palavras, não importa muito que agora os trabalhadores fiquem pobres e desunidos. Eles sempre poderão comprar o essencial, e até algumas bugigangas, nas próprias lojas da rede. É por isso que o Wal-Mart “não massifica a prosperidade”. Afinal para que os trabalhadores precisam de dinheiro, não é mesmo? Mais um pouco e voltaremos ao velho empório da fábrica ou ao armazém da fazenda, onde o operário ficava endividado para sempre...

É claro que junto com todas as quinquilharias vendidas pela rede, os preços de imóveis, os planos de saúde e qualquer outra coisa que um trabalhador precise, estará caindo de preço na mesma proporção em que os seus salários. Não faz todo sentido? É nisso que todos devem acreditar. Nada como baixos salários e nenhum benefício para “melhorar a vida dos trabalhadores”.
Mas agora vamos ver o outro lado da questão, ou seja, os trabalhadores que produzem a própria tecnologia. Como estariam eles? Em recente artigo do New York Times, reproduzido na Folha de S. Paulo, o título já nos responde boa parte da pergunta: “Lucro maior não gera emprego no Vale do Silício”.
“As coisas estão melhorando na Wyse Tecnology, uma respeitada fabricante de terminais de computador. Só não estão Melhorando para os interessados em trabalhar para a empresa no Vale do Silício”. (4)
“Nos últimos três anos, os lucros das sete maiores empresas do Vale do Silício, em termos de valor de mercado, aumentaram em mais de 500% em média. Ao mesmo tempo, o número de pessoas empregadas no condado de Santa Clara caiu de 787.200 para 767.600”.(5)
Isso só parece um contra-senso para quem não é do ramo de tecnologia digital e microeletrônica. Mas é sem dúvida um golpe decisivo nos argumentos dos “optimistas”, que pregavam o deslocamento natural do emprego das áreas industriais convencionais, como o metalúrgico, têxtil, automobilístico e electrónico, para o de informática e telecomunicações.
Quem acreditava que a fabricação de computadores e periféricos, bem como a indústria de software, iria criar empregos “aos milhares”, simplesmente não conhecia nada sobre o assunto. A eliminação de milhares de empregos nas áreas bancária, de contabilidade e consultoria, fez ruir o conceito de que a “terceira revolução industrial”, na verdade, iria gerar empregos no “sector de serviços”.
O artigo esclarece: “As mudanças tecnológicas e na estratégia económica estão levantando dúvidas fundamentais sobre o futuro do vale, onde está concentrada a alta tecnologia americana. As mudanças estão sendo provocadas em parte pela automação possibilitada pelo próprio Vale do Silício, tornando possível às empresas gerar mais valor com menos pessoas”. (6)
Hora, essa é exactamente a afirmação que nós, os “pessimistas”, sempre fizemos: As novas tecnologias tendem a eliminar empregos sempre numa velocidade muitas vezes maior do que o mercado livre pode criar. O desemprego passa a ser cumulativo, e aumenta na razão directa do sucesso dos novos sistemas.
É exactamente o caso da empresa citada, que reagindo ao aumento da demanda na Ásia e Europa, “esta montando novas equipas de desenvolvimento na Índia e na China e ampliando sua força de trabalho mundial de 260 para 380. Seus lucros são registrados no Vale do Silício, mas quase nenhuma das novas vagas de trabalho surgiu ali”. (7)
Em outras palavras, mesmo as empresas de alta tecnologia, quando geram algum emprego (380 empregados em seu quadro “mundial”), utilizam essa mesma tecnologia para “exportar” as vagas para países onde podem pagar salários miseráveis.
Além disso, nas próprias empresas de alta tecnologia, o “aumento de produtividade”, sempre traduzido em dispensa de funcionários, vem aumentando. “A grande fabricante de equipamentos para internet Cisco hoje tem vendas anuais de US$ 680 mil por funcionário, contra US$ 480 mil em 2001”. (7)
Isso significa que a Cisco teria de ter um aumento no volume de vendas de mais de 40%, em apenas quatro anos, apenas para manter o mesmo número de empregados. Devemos notar que a média de valor adicionado por funcionário nos Estados Unidos é de US$ 85 mil. O que reforça a tese de que a tendência à eliminação de mão-de-obra é directamente proporcional ao nível tecnológico da produção, e não existe nenhuma área imune a novos “enxugamentos”.
Em resumo, a sombria perspectiva de que as novas tecnologias eliminam empregos até mesmo entre os que a produzem, vem se tornando realidade. Mas quem sabe se na Índia e na China, a exemplo da Califórnia, os trabalhadores não tenham sempre uma loja do Wal-Mart para socorrê-los...

Notas:
(1) Rifkin, Jeremy, “O Fim dos Empregos”, São Paulo, Makron Books, 1996, Pág. XVII.
(2) Revista “Isto é” Dinheiro, 28-4-04, Citada em: “a.WM e d.WM“ – Disponível em: http://www.unisinos.br/ihu/index.php?coming_from=noticias&dest=20040428590956 - Acesso em: 17/07/2005.
(3) Idem.
(4) Markoff, John e Richtel, Matt “Lucro maior não gera emprego no Vale do Silício”. – New York Times – Reproduzido pela Folha de S. Paulo – 17/07/2005 – Pág. B-10.
(5) Idem. (6) Idem. (7) Idem.
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br

sexta-feira, maio 26, 2006

Democracia libertária versus democracia representativa

Democracia libertária opõe-se à democracia representativa.
A democracia libertária reconduz-se essencialmente à democracia directa que tem as seguintes características:
1) A Assembleia geral soberana que reúne o conjunto dos membros de um determinado colectivo a fim de decidir sobre tudo o que diga respeito à vida desse colectivo, ouvindo os vários pontos de vista em presença e decidindo por consenso ( não confundir com unanimidade)
2) A revogabilidade dos mandatos a qualquer momento
3) O mandato imperativo vincula o delegado a tomar só aquelas decisões para o qual foi especificamente mandato pelo colectivo
4)
Por ter estas características a democracia libertária traduz-se por ser mais demorada, se bem que os últimos avanços tecnológicos possam resolver algumas dificuldades para a sua operacionalidade. Para um bom funcionamento da democracia libertária exige-se normalmente que estejam reunidas um certo número de condições: igualdade, afinidade, confiança mútua, sentido prático, etc "Quando cada um combater pela sua própria causa, ninguém terá necessidade de ser representado" O anarquismo rejeita a figura do «representante» não só no plano da representação política mas em toda e qualquer outra forma de representação uma vez que esta é encarada como uma «força» exterior e manipuladora, distinta das forças reais que é suposto representar e de que tende a apropriar-se logo que possa. A figura do «representante» pode ser exemplificada com o Deputado, a Burocracia sindical, o Partido, o Estado, a Igreja ou até a própria comunidade científica. Opondo a democracia directa à democracia representativa o anarquismo exprime uma critica radical à representação mas também dá a ver intuitivamente qual é a natureza e sentido do seu projecto revolucionário.
Pergunta de alguém anónimo:

Tenho lido com interesse muitos dos comentários aqui publicados, e apesar de ser anarquista (sou comunista confesso) há certos aspectos no anarquismo que atraem-me bastante especialmente no aspecto economico. Infelizmente nunca encontrei pensadores anarquistas com a profundidade intelectual por exemplo de Marx ou Engels, capazes de uma analise séria e critica da realidade social e de apreender a luta de classes e as contradiçoes apresentadas pelo capitalismo (e atenção que não me estou a referir a proudhon, bakunine e outros que tais pois esse nunca conseguiram). Gostaria portanto de saber se realmente existiram ou existem pensadores de grande calibre entre as vossas fileiras capazes de analisar um problema economico de forma coerente e perspicaz e de propor soluções alternativas ao sistema dominante. Creio que vos deixo aqui uma questão pertinente. Abraços


Resposta de Francisco Trindade:

A questão é pertinente...a maneira como a colocas é que de pertinente não tem nada. A maneira como colocas a questão toma o nome de falácia. Repara: perguntas se houveram anarquistas "capazes de uma analise séria e critica da realidade social e de apreender a luta de classes e as contradiçoes apresentadas pelo capitalismo" para logo de seguida responderes que "atenção que não me estou a referir a proundhon, bakunine e outros que tais pois esse nunca conseguiram" Chama-se a atenção para a expressão " e outros que tais" ou seja, "outros esquerdistas, outros anarquistas, gajos do mesmo tipo" Depois rematas dizendo que "Gostaria portanto de saber se realmente existiram ou existem pensadores de grande calibre entre as vossas fileiras capazes de analisar um problema economico de forma coerente e perspicaz e de propor soluções alternativas ao sistema dominante". Subentende-se, "do tipo de Marx e Engels" ou seja "comunistas de pendor marxista"... Chamo a esta falácia "pescadinha de rabo na boca" Por isso a questão muito "pertinente" que colocas já está respondida.

Diálogo retirado do Indymedia

Francisco Trindade:

Estes últimos comentários que estão do meu ponto de vista a elevar o debate (ainda bem, não desejo outra coisa)levam-me a tecer algumas considerações que à dois dias pensava serem desnecessárias... Mas como o Milé Sardera diz: "Pode sempre voltar-se a discutir. A verdade final não existe."
atraso de vida:
"Dizer que alguem é cobarde por fazer uma pichagem..?! Será que é o termo mais adequado? Ou para ti (francisco trindade) o termo cobarde não é agressivo? para mim é agressivo e depreciativo..." A questão do cobarde que utilizei no meu primeiro comentário não se aplicava às pessoas mas sim ao acto em si. Será que houve outras pessoas que interpretaram as minhas palavras da mesma maneira? Pela releitura de vários comentários anteriores parece que sim...
Vanglohria:
"vai haver alguém no futuro a interessar-se por reconhecer a imortalidade a um autor de livros a dizer o que o Proudhon disse." Este sim é uma questão muito interessante, mas este espaço não é muito prático para a análise duma questão com várias vertentes. Mas contudo importante. Não há imortalidade do autor. O que há é a obra. E isso é que conta. De qualquer das maneiras não falaria de imortalidade, porque é metafísica!
Francisco Trindade:

"autor de livros a dizer o que o Proudhon disse."
E esta, então, é uma questão decisiva e é também para mim decisiva. Mesmo assim do meu ponto de vista um "autor de livros a dizer o que o Proudhon disse." será sempre importante porque: 1 - Proudhon é, na minha perspectiva o pensador anarquista mais importante de todos eles, em vários sentidos - mas aqui foco só este - no sentido que todos os anarquistas lhe são devedores. O testemunho histórico mais célebre e que tive ocasião de mencionar num ensaio é o de Kropotkine no Processo de Lyon. Quando compareceu perante o juiz que lhe perguntou: "Então você é que é considerado o fundador da anarquia?" Resposta de Kropotkine em pleno tribunal: "É muita honra que me querem fazer. O pai da anarquia é o imortal Proudhon, que a expôs pela primeira vez em 1848.”2 - Em língua portuguesa as reflexões sobre os grandes temas proudhonianos que são os grandes temas do anarquismo serem praticamente inexistentes. Era importante para o florescimento ou para sermos mais precisos o reflorescimento do movimento que esse trabalho fosse feito.Se eu sou "simplesmente" um "autor de livros a dizer o que o Proudhon disse" sem reflexão própria, sem âmago interior, aquilo que em literatura se chama de estilo, ou seja sem estilo, para responder cabalmente a esta pergunta (obrigado Vanglohria por a teres feito) é preciso:
1 - ler a obra de Proudhon
2 - ler a obra de Francisco Trindade
3 - tirar conclusões.
Alguém quer ter o prazer de realizar essa obra?


Nenhum testemunho é suficiente para demonstrar um milagre, a não ser que o testemunho seja de natureza tal que a sua falsidade seja mais milagrosa do que o facto que tenta demonstrar. David Hume, «Dos Milagres» (1748)




[Usarei] esta ideia de Hume no que diz respeito a um dos milagres melhor atestados de todos os tempos, um milagre que se afirma ter sido presenciado por 70 000 pessoas e recordado por algumas delas ainda vivas. Trata-se da aparição de Nossa Senhora de Fátima. Vou citar um website católico que refere que, das muitas aparições da Virgem Maria, esta é rara porque é oficialmente reconhecida pelo Vaticano:
A 13 de Outubro de 1917 estavam mais de 70 000 pessoas reunidas na Cova da Iria, em Fátima, Portugal. Tinham vindo presenciar um milagre que tinha sido anunciado pela Virgem Maria a três jovens visionários: Lúcia dos Santos e os seus dois primos, Jacinta e Francisco Marto […] Pouco depois do meio-dia, a Nossa Senhora apareceu aos três visionários. Quando estava prestes a partir, apontou para o Sol. Lúcia repetiu o gesto, emocionada, e as pessoas olharam para o céu […] Depois, uma onda de terror varreu a multidão porque o Sol parecia romper-se dos céus e esmagar as pessoas horrorizadas […] Justamente quando parecia que a bola de fogo iria cair e destruí-los, o milagre parou e o Sol reassumiu o seu lugar normal, brilhando pacífico como nunca.
Se o milagre do Sol em movimento tivesse sido observado apenas por Lúcia (a jovem que no fundo foi responsável pelo culto de Fátima), não haveria muita gente que o levasse a sério. Poderia facilmente ser uma alucinação individual ou uma mentira com motivos óbvios. O que impressiona são as 70 000 testemunhas. Será que 70 000 pessoas podem ser simultaneamente vítimas da mesma alucinação? Ou conspirar numa mesma mentira? Ou, se nunca houve 70 000 testemunhas, poderia o repórter do acontecimento safar-se ao inventar tanta gente?
Apliquemos o critério de Hume. Por um lado, é-nos pedido que acreditemos numa alucinação em massa, num artifício de luz ou numa mentira colectiva envolvendo 70 000 pessoas. Isto é reconhecidamente improvável, mas é menos improvável do que a alternativa: que o Sol realmente se moveu. O Sol que estava sobre Fátima não era, afinal, um Sol privado: era o mesmo Sol que aquecia todos os outros milhões de pessoas no lado do planeta em que era dia.
Se o Sol se moveu de facto, mas o acontecimento só foi visto pelas pessoas de Fátima, então teria de se ter dado um milagre ainda mais notável: teria de ter sido encenada uma ilusão de não-movimento relativamente a todos os milhões de testemunhas que não estavam em Fátima. E isso se ignorarmos o facto de que, se o Sol se tivesse realmente deslocado à velocidade referida, o sistema solar se teria desintegrado. Não temos alternativa senão a de seguir Hume, escolher a menos miraculosa das alternativas disponíveis e concluir, contrariamente à doutrina oficial do Vaticano, que o milagre de Fátima nunca aconteceu.
Richard DawkinsTrad. de Paulo Cartaxana.Excerto retirado de Decompondo o Arco-Íris (Gradiva, Lisboa, 2000, pp. 161-163).

PERNAS ATADAS

(fragmento)
Errico Malatesta

Como todos os animais, o homem adapta-se, habitua-se às condições nas quais vive, e transmite por hereditariedade os hábitos adquiridos. Nascido e vivendo na escravidão, herdeiro de uma longa linhagem de escravos, o homem, quando começou a pensar, acreditou que a escravidão fosse uma condição essencial de vida: a liberdade pareceu-lhe impossível. É assim que o trabalhador coagido há séculos a esperar trabalho, isto é, o pão, do belprazer de um amo, habituado a ver sua vida continuamente à mercê daquele que possui terra e capital, acabou por crer que é o patrão que lhe dá de comer; ingênuo, ele se diz: o que faria para viver se os amos não existissem?
Tal seria a situação de um homem que tivesse suas pernas atadas desde o nascimento, mas de modo a poder ainda assim caminhar um pouco; ele poderia atribuir a faculdade de se mover a suas ligaduras que só fazem, entretanto, diminuir e paralisar a energia muscular de suas pernas.
E, se aos efeitos naturais do hábito, eu acrescento a educação dada pelo patrão, pelo padre, pelo professor, etc., que estão todos interessados em pregar que os governos e os amos são necessários, se incluírmos o juiz e o policial que se esforçam para reduzir ao silêncio aquele que pensa de forma diferente e quer propagar seu pensamento, compreender-se-á de que maneira, no cérebro pouco culto da massa, enraizou-se o preconceito da utilidade, da necessidade do patrão e do governo.
Imaginem, pois, que ao homem de pernas atadas, do qual falamos, o médico expõe toda uma teoria e dá mil exemplos habilmente inventados para persuadí-lo de que, com suas pernas livres ele não poderia caminhar nem viver. Este homem defenderia enraivecidamente suas correntes e consideraria como inimigo aqueles que quisessem arrebentá-las.

Para a constituição de uma dinâmica própria no movimento sindical, sóvejo como viável que, quem tem (ou deseja ter) intervenção no terrenosindical forme comissões de base, no local de trabalho e nas regiões,comissões essas abertas à participação de TODOS os interessados numadinâmica:- De base: o sindicato são os próprios que se reunem, discutem edeliberam. Se houver que escolher alguém, como porta-voz, esse alguémdeve ter um mandato preciso, dado pela assembleia deliberativa.- Autónoma: não se aceitam ingerências de qualquer espécie,nomeadamente de índole partidária- De democracia directa: ao contrário dos organismos burgueses, nãohaverá hierarquias, ninguém tem maior ou menor autoridade, asdeliberações têm como objectivo encontrarem-se plataformas para aacção, o mais alargadas possível, e não a afirmação de força ou dehegemonia dumas correntes sobre outras, rivais.

Paradoxos do Nosso Tempo

O paradoxo de nosso tempo na história é que temos edifícios mais altos,mas pavios mais curtos; auto-estradas mais largas, mas pontos de vistamais estreitos; gastamos mais, mas temos menos; nós compramos mais, masdesfrutamos menos.Temos casas maiores e famílias menores; mais conveniências, mas menostempo; temos mais graus acadêmicos, mas menos senso; mais conhecimento emenos poder de julgamento; mais proficiência, porém mais problemas; maismedicina, mas menos saúde.Bebemos demais, fumamos demais, gastamos de forma perdulária, rimos demenos, dirigimos rápido demais, nos irritamos muito facilmente, ficamosacordados até tarde, acordamos cansados demais, raramente paramos paraler um livro, ficamos tempo demais diante da TV e raramente oramos.Multiplicamos nossas posses, mas reduzimos nossos valores. Falamosdemais, amamos raramente e odiamos com muita freqüência. Aprendemos comoganhar a vida, mas não vivemos essa vida. Adicionamos anos à extensão denossas vidas, mas não vida à extensão de nossos anos. Já fomos à Lua edela voltamos, mas temos dificuldade em atravessar a rua e nosencontrarmos com nosso novo vizinho.Conquistamos o espaço exterior, mas não nosso espaço interior. Fizemoscoisas maiores, mas não coisas melhores. Limpamos o ar, mas poluímos aalma. Dividimos o átomo, mas não nossos preconceitos. Escrevemos mais,mas aprendemos menos. Planejamos mais, mas realizamos menos.Aprendemos a correr contra o tempo, mas não a esperar com paciência.Temos maiores rendimentos, mas menor padrão moral. Temos mais comida,mas menos apaziguamento. Construímos mais computadores para armazenarmais informações para produzir mais cópias do que nunca, mas temos menoscomunicação. Tivemos avanços na quantidade, mas não em qualidade.Estes são tempos de refeições rápidas e digestão lenta; de homens altose caráter baixo; lucros expressivos, mas relacionamentos rasos. Estessão tempos em que se almeja paz mundial, mas perdura a guerra no lares;temos mais lazer, mas menos diversão; maior variedade de tipos decomida, mas menos nutrição. São dias de duas fontes de renda, mas demais divórcios; de residências mais belas, mas lares quebrados.São dias de viagens rápidas, fraldas descartáveis, moralidade tambémdescartável, facadas de uma só noite, corpos acima do peso, e pílulasque fazem de tudo: alegrar, aquietar, matar.É um tempo em que há muito na vitrine e nada no estoque; um tempo em quea tecnologia pode levar-lhe estas palavras e você pode escolher entrefazer alguma diferença, ou simplesmente apertar a tecla "Delete" ...

Um pensamento que não Age ou é Aborto ou é Traição. Bento Jesus Caraça

os crentes hegelianos estão em vias de desaparecer depois de alguns acidentes registados no laboratório das sínteses.

quinta-feira, maio 25, 2006

Breve História do Imperialismo Americano

Para começar, sejamos claros. Como sabemos, o governo é a ferramenta das classes privilegiadas com a qual controlam as massas e garantem um ambiente favorável aos seus próprios interesses. Para se ver como isto é verdadeiro, basta passar em revista a história americana desde a fundação dos Estados Unidos.

Os EUA sabem mesmo o que fazem!

Leia a pergunta, e tente responder:
Eis aqui uma lista dos países que foram bombardeados pelos EstadosUnidos,após o fim da 2ª Guerra Mundial:
China 1945-46
Coreia 1950-53
China 1950-53
Guatemala 1954
Indonésia 1958
Cuba 1959-60
Guatemala 1960
Congo 1964
Peru 1965
Laos 1964-73
Vietname 1961-73
Cambodja 1969-70
Guatemala 1967-69
Granada 1983
Líbia 1986
El Salvador anos 80
Nicarágua anos 80
Panamá 1989
Iraque 1991-__
Sudão 1998
Afeganistão 1998
Jugoslávia 1999
Afeganistão 2001

PERGUNTA :
Em quantos destes países, os bombardeamentos fizeram emergir um governo democrático, que respeite os Direitos Humanos ?
ESCOLHA uma resposta :

(a) 0
(b) zero
(c) nenhum
(d) nem um só
(e) um número inteiro entre -1 e +1


No pós Segunda Guerra os Estados Unidos ajudaram na perpetração de mais de 20 golpes de estado através do mundo; a CIA foi responsável pelo assassinato de meia dúzia de chefes de estado.
Eis um sumário da estratégia imperialista americana desde 1890:

Argentina -- 1980 - Tropas enviadas a Buenos Aires para proteger interesses económicos americanos.
Chile - 1891 -Fuzileiros Navais enviados para esmagar rebeldes nacionalistas.
Haiti - 1891 - Tropas americanas suprimiram revolta de operários negros na ilha Navassa, reclamada pelos Estados Unidos.
Havai- 1893 - Marinha enviada para suprimir o reinado independente; Havaí anexada aos USA
Nicarágua - 1894 - Tropas ocuparam Bluefields, cidade no Mar do Caribe, durante um mês.
China - 1894-95 - Marinha, Exército e Fuzileiros Navais desembarcaram durante a guerra sino-japonesa.
Coreia - 1894-96 - Tropas permaneceram Seul durante a guerra.
Panamá - 1895 - Exército, Marinha e Fuzileiros Navais desembarcaram no porto de Corinto.
China - 1894-1900 - Tropas ocuparam a China durante a Rebelião Boxer.
Filipinas - 1898-1910 - Marinha e Exército desembarcaram após a queda das Filipinas na guerra hispano-americana: 600-000 filipinos foram mortos.
Cuba - 1898-1902 - Tropas sitiaram Cuba na guerra hispano-americana: os Estados Unidos mantêm soldados na base militar de Guantanamo até hoje.
Porto Rico - 1898-até o presente - Tropas sitiaram Porto Rico na guerra hispano-americana e lá permanecem até hoje.
Nicarágua - 1898 - Fuzileiros Navais invadem o porto de San Juan del Sur.
Samoa - 1899 - Tropas desembarcaram em consequência de batalha pela sucessão no trono.
Panamá - 1901-14 - Marinha apoiou a revolução quando Panamá reclamou independência da Colômbia; tropas americanas ocuparam a Zona do Canal desde 1901, quando teve início a construção do canal.
Honduras - 1903 - Fuzileiros Navais desembarcaram e intervieram na revolução.
República Dominicana - 1903-04 - Tropas invadiram para proteger interesses americanos durante revolução.
Coreia - 1904-05 - Fuzileiros Navais desembarcaram durante a guerra russo-japonesa.
Cuba - 1906-09 - Tropas desembarcaram durante uma eleição.
Nicarágua - 1907 - Tropas invadiram e impuseram um protectorado.
Honduras - 1907 - Fuzileiros Navais desembarcam durante a guerra de Honduras com a Nicarágua.
Panamá - 1908 - Fuzileiros Navais enviados durante uma eleição.
Nicarágua - 1910 - Fuzileiros Navais desembarcam pela 2.ª vez em Bluefields e Corinto.
Honduras - 1911 - Tropas enviadas para proteger interesses americanos durante guerra civil.
China - Marinha e tropas enviadas durante repetidos combates.
Cuba - 1912 - Tropas enviadas para proteger interesses americanos em Havana.
Panamá - 1912 - Fuzileiros Navais ocupam o país durante eleição.
Honduras - 1912 - Tropas enviadas para proteger interesses americanos.
Nicarágua - 1912-33 - Tropas ocuparam o país e combateram guerrilheiros durante 20 anos de guerra civil.
México - 1913 - Marinha recolheu americanos durante revolução.
Rep. Dominicana - 1914 - Marinha luta contra rebeldes em Santo Domingo.
México - 1914-18 - Marinha e tropas intervêm contra nacionalistas.
Haiti - 1914-34 - Tropas ocuparam Haiti após uma revolução e lá se mantiveram durante 19 anos.
Rep. Dominicana - 1916-24 - Fuzileiros Navais ocupam o país durante oito anos.
Cuba - 1917-33 - Tropas desembarcam e permanecem durante 16 anos; Cuba torna-se protectorado económico.
1.ª Guerra Mundial - 1917-18 - Marinha e Exército combatem as potência do Eixo na Europa.
Rússia - 1918-22 - Marinha e tropas enviadas à Rússia Oriental para combater a RevoluçãoBolchevista; o Exército realizou cinco desembarques.
Honduras - 1919 - Fuzileiros Navais em Honduras durante eleições.
Guatemala - 1920 - Tropas ocupam o país por duas semanas durante greve operária.
Turquia - 1922 - Tropas combatem nacionalistas em Smirna.
China - 1922-27 - Marinha e Exército deslocados durante revolta nacionalista.
Honduras - 1924-25 - Tropas desembarcam duas vezes durante eleição nacional.
Panamá - 1925 - Tropas enviadas para debelar greve geral.
China - 1927-34 - Fuzileiros Navais ficam estacionados durante sete anos através do país.
El Salvador - 1932 - Navios de guerra deslocados durante revolta FMLN comandada por Marti.
2.ª Guerra Mundial - 1941-45 - Militares combatem potências do Eixo Roma/Berlim/Tóquio.No Dia "D", 6/6/1944, americanos e seus aliados invadem a França somente porque perceberam que os russos estavam ganhando a guerra sozinhos. Estrategicamente, a invasão foi contra a Rússia.
Jugoslávia - 1946 - Marinha na costa do país em resposta a um avião americano abatido.
Uruguai - 1947 - Bombardeiros enviados para um show de força militar.
Grécia - 1947-49 - Operações dos Estados Unidos garantem vitória da extrema direita nas "eleições".
Alemanha - 1948 - Militares destacados durante o Bloqueio de Berlim; ponte aérea durou 444 dias.
Filipinas - 1948-54 - CIA dirige guerra civil contra a revolta Filipino Huk.
Porto Rico - 1950 - Militares ajudam a esmagar rebelião de independência em Ponce.
Guerra da Coreia - 1951-53 - Militares intervêm na guerra.
Irão- 1953 - A CIA orquestrou o derrube de Mossadegh, democraticamente eleito, e restaurou o Xá no poder.
Vietname - 1954 - Os Estados Unidos oferecem armas aos franceses na batalha contra Ho Chi Minh e os vietnamitas.
Guatemala - 1954 - A CIA derruba Arbenz, democraticamente eleito, e impõe o Coronel Armas no governo.
Egipto - 1956 - Fuzileiros Navais enviados para evacuar estrangeiros depois que Nasser nacionalizou o Canal de Suez.
Líbano - 1958 - Marinha apoia o Exército de ocupação do Líbano durante sua guerra civil.
Panamá - 1958 - Tropas desembarcam após demonstrações dos panamenhos ameaçando a Zona do Canal.
Vietname - 1950-75 - Guerra do Vietname.
Cuba - 1961 - A CIA dirigiu a fracassada invasão da Baía dos Porcos, pretendendo derrubar Fidel Castro.
Cuba - 1962 - Marinha isola Cuba durante a crise dos mísseis.
Laos - 1962 - Militares ocupam Laos durante guerra civil contra guerrilhas do Pathet Lao.
Panamá 1964 - Tropas enviadas e panamenhos mortos enquanto protestavam contra a presença americana na Zona do Canal.
Indonésia - 1965 - CIA orquestrou golpe militar.
Rep. Dominicana - 1965-66 - Tropas enviadas durante eleição nacional.
Guatemala - 1966-67 - Boinas Verdes invadem o país.
Cambodja - 1969-75 - Militares enviados depois que a guerra do Vietname se expandiu ao Cambodja.
Oman - 1970 - Fuzileiros Navais desembarcam preparando invasão ao Irão
Laos - 1971-75 - Americanos bombardeiam a região rural durante guerra civil do Laos
Chile - 1973 - CIA orquestrou o golpe que matou o Presidente Allende, eleito democraticamente, e ajudou na instalação do regime militar sob o General Pinochet.
Cambodja - 1975 - 28 americanos mortos na tentativa de resgatar a tripulação do Mayaquez, que tinha sido sequestrada
Angola - 1976-92 - CIA ajuda rebeldes da África do Sul na luta contra Angola marxista.
Irão - 1980 - Fracassou a tentativa americana de resgatar 52 reféns mantidos na Embaixada Americana em Teerão
Líbia - 1981 - Caças americanos abateram dois caças líbios.
El Salvador - 1981-92 - CIA, tropas e assessores colaboram na luta contra a FMLN.
Nicarágua - 1981-90 - CIA e NSC dirigem a guerra contra os sandinistas.
Líbano - 1982-84 - Fuzileiros Navais ocuparam Beirute durante a guerra civil. 241 fuzileiros foram mortos em atentado ao quartel americano; Reagan retirou suas tropas para o Mediterrâneo.
Honduras - 1983 - Tropas enviadas para construiu bases em regiões próximas à fronteira.
Granada - 1983-84 - Invasão americana derrubou o governo Maurice Bishop.
Irão - 1984 - Caças americanos abatem dois aviões iranianos no Golfo Pérsico.
Líbia - 1986 - Aviões americanos bombardeiam alvos em Trípoli e cercanias.
Bolívia - 1986 - Exército americano ajuda tropas bolivianas em incursões nas áreas de cocaína.
Irão - 1987-88 - Estados Unidos intervêm ao lado do Iraque na guerra contra o Irão
Líbia - 1989 - Marinha abate mais dois jactos líbios.
Ilhas Virgens - 1989 - Tropas desembarcam durante revolta popular.
Filipinas - 1989 - Força Aérea deu cobertura ao governo durante golpe.
Panamá - 1989-90 - 27.000 americanos desembarcam para destituir o Presidente Noriega;mais de 2.000 civis panamenhos mortos.
Libéria - 1990 - Tropas entraram no país para evacuar estrangeiros durante guerra civil
Arábia Saudita - 1990-91 - Tropas americanas destacadas para a Arábia Saudita, que era base militar na guerra contra o Iraque.
Kuwait - 1991 - Tropas intervieram no Kuwait para repelir Saddam Hussein. Mais de 130.000 iraquianos trucidados.
Somália - 1992-94 - Tropas ocupam o país durante guerra civil.
Bósnia - 1993-95 - Força Aérea bombardeia a "zona proibida aos aviões" durante guerra civil na Jugoslávia.
Haiti - 1994-96 - Marinha e tropas americanas bloqueiam o país contra contra o governo militar do Haiti.CIA restaurou Aristide no poder.
Zaire - 1996-97 - Fuzileiros Navais enviados à área dos campos de refugiados Hutus, onde a revolução congolesa começou.
Albânia - 1997 - Tropas deslocadas durante evacuação de estrangeiros.
Sudão - 1998 - Mísseis americanos destruíram centro industrial farmacêutico onde se supunha que componentes do "gás nervoso" eram fabricados.
Afeganistão - 1998 - Mísseis lançados contra supostos campos de treinamento de terroristas.
Jugoslávia - 1999 - Bombardeios e ataques com mísseis efectuados pelos Estados Unidos e OTAN conjuntamente, durante onze semanas contra Milosevic; não é conhecido o número de inocentes massacrados.
Iraque - 1998-2001 - Mísseis lançados contra Baghdad e outras grandes cidades iraquianas durante quatro dias. Jactos americanos patrulham a "zona proibida aos aviões" e prosseguem os ataques contra alvos iraquianos desde dezembro de 1998.

Estes 100 exemplos de intervenção militar americana não incluem as ocasiões em que os Estados Unidos:

(1) deslocaram militares para policiar os mares;
(2) mobilizaram a Guarda Nacional;
(3) enviaram navios de guerra às costas de numerosos países em demonstrações de força;
(4) enviaram tropas adicionais a regiões onde os americanos já estavam estacionados;
(5) realizaram operações secretas onde forças americanas não estavam diretamente subordinadas ao Comando Americano;
(6) usaram reféns para resgatar unidades;
(7) usaram pilotos americanos para tripular aviões estrangeiros;
(8) realizaram treinamento militar e programas de assessoria militar que não envolviam combate directo.

O nepotismo está no sangue dos young global leaders

No último Fórum económico mundial de Davos (2005) foram apresentados os futuros young global leaders que dirigirão num futuro não muito remoto os destinos do planeta. E quem são afinal estes promissores jovens dirigentes? Há que consultar a lista, mas uma simples amostra pode-nos elucidar e poupar tempo.Então vejamos algumas dessas jovens apostas: comecemos por Jonathan Soros ( nada mais nada menos que o filho do multimilionário especulador George Soros); prossigamos com Miguel Forbes ( o pequeno rebento da família da conhecida revista de negócios Forbes); acrescentemos à lista Aditya Mittal ( o jovem filho de 25 anos do barão do aço Lakshmi Mittal), Tony O’Reilly Júnior ( o herdeiro de Sir Anthony O’Reilly, o conhecido magnate irlandês) e ainda Aerin Lauder ( neta do legendário Estée Lauder). Neste catálogo não podia faltar obviamente Nathaniel Rothschild ( filho querido de papá Lord Rothschild), nem sequer os descendentes reconhecidos das realezas da Noruega, Suécia e Holanda, entre outras.Resta acrescentar que os autores de tal promissora selecção mundial foram Arthur O. Sulzberger (director do New York Times), que herdou a espinhosa tarefa do seu pai, e James Murdoch, descendente directo do conhecido patrão com o mesmo apelido do poderoso grupo de media, com tentáculos em muitos países.
http://www.younggloballeaders.org

quarta-feira, maio 24, 2006

As Farpas

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As falências sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. Neste salve-se quem puder a burguesia… explora. A ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade. A intriga política alastra-se. O país vive numa sonolência enfastiada.»( transcrição do início do primeiro livro das Farpas, escrito por Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão e publicado no dia 17 de Junho de 1871)

A ASSIDUIDADE DOS NOSSOS DEPUTADOS

Ranking dos deputados mais baldas:
1. Virgílio Costa, do PSD - 24 faltas justificadas,
2. Manuel Maria Carrilho, do PS - 23 faltas justificadas,
3. Dias Loureiro, do PSD - 23 faltas justificadas,
4. João Soares, do PS - 23 faltas justificadas,
5. Nuno da Câmara Pereira, do PPM - 21 faltas justificadas,
6. Marques Mendes, do PSD - 20 faltas justificadas,
7. Paulo Portas, do CDS - 18 faltas justificadas e 1 injustificada,
8. Gonçalo Nuno Santos, do PSD - 19 faltas justificadas,
9. Jerónimo de Sousa, do PCP - 18 faltas justificadas,
10. Paulo Rangel, do PSD - 18 faltas justificadas,
11. Matilde Sousa Franco, do PS - 17 faltas justificadas,
12. António Vitorino, do PS - 16 faltas justificadas,
13. Luis Campos Ferreira, do PSD - 16 faltas justificadas,
14. Marco António Costa, do PSD - 16 faltas justificadas,
15. Álvaro Castello-Branco, do CDS - 16 faltas justificadas,
16. Ceia da Silva, do PS - 15 faltas justificadas,
17. Jacinto Serrão, do PS - 14 faltas justificadas,
18. Paulo Pereira Coelho, do PSD - 13 faltas justificadas e 1 injustificada,
19. José Cesário, do PSD - 14 faltas justificadas,
20. José Lamego, do PS - 12 justificadas e 2 injustificadas,
21. José Pedro Aguiar Branco, do PSD - 13 faltas justificadas,
22. Jorge Neto, do PSD - 13 faltas justificadas,
23. Pires de Lima, do CDS - 13 faltas justificadas,
24. Pina Moura, do PS - 12 faltas justificadas,
25. João Teixeira Lopes, do BE - 10 faltas justificadas,
26. Fernando Rosas, do BE - 6 faltas justificadas,
27. Ana Drago, do BE - 6 faltas justificadas,
28. Luisa Mesquita, do PCP - 6 faltas justificadas,
29. Francisco Madeira Lopes, do PEV - 2 faltas justificadas,
30. Heloísa Apolónia, do PEV - 1 falta justificada.
Estes dados referem-se a apenas 8 meses de serviço no Parlamento (entre 10 de Março e 30 de Novembro de 2005) onde tiveram lugar 61 sessões plenárias.Trinta indivíduos, deram 442 faltas. É obra!Muito se fala em produtividade, mas com exemplos destes, vindos de cima, continuaremos a ser um dos países mais atrasados da Europa, está instituído o "chico-espertismo" e o "safe-se quem puder".Estes senhores, na sua maioria, faltam porque têm outros afazeres profissionais cá fora. A maioria das justificações apresentadas, são uma tanga! É uma enorme falta de respeito pelo eleitor, que depositou neles a sua confiança, pelo contribuinte, que sustenta a máquina toda e por todo o país em geral.Sabem uma coisa? Se eu fosse empresário e tivesse ao meu serviço estes trinta indivíduos, despedia-os todos!


O DINHEIRO COM QUE O ESTADO FICA

Em cada 100 euros que o patrão paga pela minha força de trabalho,o Estado, e muito bem, tira-me 20 euros para o IRS e 11 euros para a Segurança Social. O meu patrão, por cada 100 euros que paga pela minha força de trabalho, é obrigado a dar ao Estado, e muito bem, mais 23,75 euros para a Segurança Social. E por cada 100 euros de riqueza que eu produzo, o Estado, e muito bem, retira ao meu patrão outros 33 euros. Cada vez que eu, no supermercado, gasto os 100 euros que o meu patrão me pagou, o Estado, e muito bem, fica com 19 euros para si.
Em resumo: - Quando ganho 100 euros, o Estado fica quase com 55. - Quando gasto 100 euros, o Estado, no mínimo, cobra 19. - Quando lucro 100 euros, o Estado enriquece 33.- Quando compro um carro, uma casa, herdo um quadro, registo os meus negócios ou peço uma certidão, o Estado, e muito bem, fica com quase metade das verbas envolvidas no caso.Eu pago e acho muito bem, portanto, exijo: um sistema de ensinoque garanta cultura, civismo e futuro emprego para o meu filho. Serviços de saúde exemplares. Um hospital bem equipado a menos de 20 km de minha casa. Estradas largas, sem buracos e bem sinalizadas em todo o País. Auto-estradas sem portagens. Pontes que não caiam. Tribunais comcapacidade para decidir processos em menos de um ano. Uma máquinafiscal que cobre igualitariamente os impostos. Eu pago, e por isso quero ter, quando lá chegar, a reforma garantida. E jardins públicos e espaços verdes bem tratados e seguros. Policia eficiente e equipada.Os monumentos do meu País bem conservados e abertos ao público. Uma orquestra sinfónica. Filmes criados em Portugal.. E, no mínimo, que não haja um único caso de fome e de miséria nesta terra. Na pior das hipóteses, cada 300 euros em circulação em Portugalgarantem ao Estado 100 euros de receita. Portanto Engenheiro Sócrates, governe-se com o dinheirinho que lhe dou porque eu quero e tenho direito a tudo!
Portugal tem a mão-de-obra mais barata
Qual é o preço de 1/hora de trabalho assalariado?Para que se saiba quanto se é explorado em Portugal, e como o rendimento é tão mal distribuído no nosso país, que também é o país onde se trabalha mais com maior número de horas de trabalho!!!!O custo de trabalho em Portugal ascendia aos 8,13 euros/hora em 2000, o valor mais baixo entre os países da União Europeia. Os dados são do Eurostat.Segundo um estudo do Eurostat, o custo médio horário da mão-de-obra na indústria e nos serviços variava, em 2000, entre os 8,13 euros em Portugal e os 28,56 euros na Suécia. A média europeia era de 22,70 euros/hora.Depois de Portugal, os custos laborais mais baixos pertencem à Grécia (10,40 euros/hora), Espanha (14,22 euros/hora) e à Irlanda (17,34 euros/hora). Os custos mais elevados, por sua vez, ocorrem na Suécia e Dinamarca (ambos com 27,10 euros/hora) e na Alemanha (26,54 euros/hora).O Eurostat salienta, ainda, que o custo de mão-de-obra em Portugal, durante o período em análise, chegou a ser mais barato do que em alguns países recentemente integrados na UE. O Chipre (10,74 euros/hora) e a Eslovénia (8,98 euros/hora) são dois exemplos apontados.Porém,o custo médio por hora de trabalho dos países que acabaram de aderir à EU (República Checa, Eslováquia, Hungria, Eslovénia, Polónia, Malta, Chipre, Lituânia, Estónia, Letónia) situava-se nos 4,21 euros.
fonte: TSF


Promessas

"Não estou de acordo com a subida dos impostos. A subida dos impostos já foi feita no passado e não produziu bons resultados."(J.Sócrates no debate televisivo com o Lopes, 10 de Março de 2005)
"[O aumento de impostos] vai ser evitável, porque estamos cá para garantir que vamos conter a despesa e combater a fraude e a evasão fiscal."(J.Sócrates no debate do Programa do Governo, 21 de Março de 2005)
"[O défice público português] será muito acima dos 5% e próximo dos 6%."(J.Sócrates em entrevista a Judite de Sousa, 14 de Abril de 2005)
"Nós não vamos aumentar os impostos, porque essa é a receita errada.Não vamos cometer os erros do passado.As prioridades são: aposta no crescimento económico, reduzir a despesa e combater a fraude e a evasão fiscal."(J.Sócrates em entrevista a Judite de Sousa, 14 de Abril de 2005)


Acabar com a corrupção é o objectivo supremo de quem ainda não chegou ao poder.

terça-feira, maio 23, 2006

O Futuro Agora

Aqui estamos nós, estáticos
na última metade do século vinte
mas poderia ser também a Idade Média,
Tem de haver algumas mudanças,
mas me perturba como elas chegarão.
Eu quero o futuro agora,
quero tomá-lo em minhas mãos;
todos os homens iguais e respeitados
Eu quero a terra prometida
Mas nada disso parece estar tão próximo
E Moisés já teve seus dias...
as tábuas da lei são um cartaz publicitário;
a civilização veio para ficar e isso é progresso?
Você deve estar brincando!
Eu... eu estou procurando por qualquer tipo de esperança.
Eu quero o futuro agora, quero vê-lo projectado em minha frente
Quero romper as barreiras que fazem nossas vidas tão mesquinhas.
Oh cego, cegos, ódio cego entre raças,
sexo, religião, cor, país e credo,
gritam nas páginas de tudo que leio
Só me trazem opressão e tortura, "apartheid",
corrupção e peste;
só me trazem a violação do planeta
e brincam com os direitos do mundo em Haia.
Oh, agora mesmo o Milénio!
Mas quando é o agora mesmo?
Eu quero o futuro agora
Sou jovem e é um direito meu.
Quero uma razão para me orgulhar
Eu quero ver a luz. Eu quero o futuro agora.
Quero vê-lo em minha frente,
Quero romper nossas barreiras e fazer
a vida valer mais do que sonhos.


The Future Now

Here we are, static in the latter half
of the twentieth century
but it might as well be the Middle Ages,
there'll have to be some changes
but how they'll come about foxes me.
I want the future now,
I want to hold it in my hands;
all men equal and unbowed,
I want the promised land.

but that doesn't seem to get any closer,
and Moses has had his day...
the tablets of law are an advertising poster,
civilisation here to stay
and this is progress?
You must be joking!
Me, I'm looking for any kind of hope.
I want the future now,
I want to see it on the screen,
I want to break the bounds
that make our lives so mean.

Oh, blind, blinded, blinding hatred
of race, sex, religion, colour, country and creed,
these scream from the pages of everything I read.
You just bring me oppression and torture,
apartheid, corruption and plague;
you just bring me the rape of the planet
and joke world rights at the Hague.
Oh, someday the Millennium!
But how far is someday away?
I want the future now
I'm young, and it's my right.
I want a reason to be proud.
I want to see the light.
I want the future now,
I want to see it on the screen,
I want to break the bounds:
make life worth more than dreams.

Peter Hammill


Mais vale acender um fósforo na escuridão do que um holofote à luz do dia.


Nazim Hikmet, poeta turco


Alguns ditos de Balzac :
“O amor é um jogo em que todos fazem batota.”
“Por detrás de todas as grandes fortunas, está sempre um crime.”
“A solidão é agradável. Mas precisamos sempre de alguém a quem o dizer.”
“Quando uma mulher nos ama, perdoa-nos tudo, até mesmo os nossos crimes; quando não nos ama, não reconhece nem mesmo as nossas virtudes.”
“É mais fácil ser-se amante do que marido pela simples razão de que é mais difícil ser-se sempre espirituoso todos os dias do que dizer palavras bonitas de tempos a tempos.”
“Nada torna uma amizade mais forte do que a certeza por parte de cada um dos amigos de que é superior ao outro.”



Si une femme a du génie, on dit qu'elle est folle. Si un homme est fou, on dit qu'il a du génie.

Louky Bersianik


As pessoas se esquecerão do que você disse...
As pessoas se esquecerão do que você fez...
mas as pessoas nunca se esquecerão de como você as fez sentir.

segunda-feira, maio 22, 2006

15 paradoxos deste mundo

«Há no mundo esfomeados e obesos. Os esfomeados alimentam-se de lixo nas lixeiras enquanto os obesos alimentam-se de lixo nos McDonalds»
1. Metade dos brasileiros é pobre ou muito pobre, mas o Brasil é também o segundo mercado mundial das canetas Montblanc, o país que está em nono lugar nas compras dos automóveis Ferrari, e em que as boutiques Armani de S.Paulo vendem mais que as de New York
2. Pinochet, o carrasco que matou o presidente socialista do Chile, presta homenagem à sua vítima cada vez que se refere ao «milagre chileno». Com efeito, ele nunca confessou, nem sequer os governos que lhe sucederam, que um tal «milagre» se deve ao cobre, a peça-mestra da economia chilena, que Allende nacionalizou e que até á data nunca mais foi privatizada.
3. Os nossos índios nasceram na América e não na Índia, tal como, de resto, a dormideira. O milho também nasceu na América e não na Turquia.Porém, a língua inglesa chama «turkey» à dormideira e os italianos chamam «granturco» ao milho.
4. O Banco Mundial cobriu de elogios a privatização da saúde publica na Zâmbia: «Trata-se de um modelo para a África. Agora não há filas de espera nos hospitais». O jornal The Zambian Post completou a ideia: «Agora não há filas de espera nos hospitais porque as pessoas passaram a morrer em casa»
5. Há quatro anos o jornalista Richard Swift foi aos campos do oeste do Ghana onde se produz cacau barato que é vendido para a Suiça. Na sua mochila, o jornalista tinha barras de chocolate. Os agricultores de cacau nunca tinham provado chocolate, e quando o saborearam ficaram encantados.
6. Os países ricos, que subsidiam a sua agricultura a um ritmo de 1 bilião de dólares por dia, proíbem no entanto os subsídios agrícolas aos países pobres.
7. Colheita record nas margens do Mississipi: o algodão norte-americano inunda o mercado e provoca a descida generalizado dos preços.Colheita record nas margens do Níger: o algodão africano é de tal forma pouco rentável que nem vale a pena ser colhido.As vacas do países do hemisfério norte ganham duas vezes mais que os agricultores do hemisfério sul. O montante de subsídios para cada vaca na Europa e nos EUA é duas vezes superior à soma de dinheiro que um agricultor dos países pobres ganha ao longo de um ano de trabalho.Os produtores do sul estão desunidos face ao mercado mundial, ao passo que os compradores do norte impõem preços monopolistas. Desde o desaparecimento da Organização Internacional do Café em 1989, e com ela o sistema de quotas de produção, o preço do café caiu a pique. Na América Central, inclusivamente, quem quer que semeie café recolhe invariavelmente a fome. No entanto, não consta que, quem quer que beba café, tenha pago menos por isso.
8. Carlos Magno, criador da primeira grande biblioteca da Europa, era analfabeto
9. Joshua Slocum, o primeiro homem que deu a volta ao mundo à vela sozinho, não sabia nadar.
10. Há no mundo esfomeados e obesos. Os esfomeados alimentam-se de lixo nas lixeiras enquanto os obesos alimentam-se de lixo nos McDonalds. O progresso não pára. Rarotonga é a mais próspera das ilhas Cook, no Pacífico Sul com índices invejáveis de crescimento económico. Não obstante, mais saliente é ainda o crescimento da obesidade entre os jovens. Há 40 anos atrás, 11% do total de jovens eram gordos. Presentemente, são todos.Similarmente a China, desde que aderiu àquilo que se chama de economia de mercado, viu o seu menu tradicional de arroz e legumes a ser substituído por hamburgers. O governo chinês, perante tais factos, não teve outra solução senão declarar guerra contra a obesidade que se tornou, entretanto, em autêntica epidemia nacional.
11. A mais famosa frase atribuída a D.Quixote ("Ladran, Sancho, la marque que nous montons") não consta na famosa obra literária de Cervantes; também não é Humphrey Bogart que diz a célebre frase que é associada ao filme Casablanca ("Play it again, Sam"); do mesmo modo, e ao contrário do que se julga, Ali Baba não é o chefe dos 40 ladrões, mas antes o seu inimigo; finalmente, Frankenstein não é o monstro que estamos habituados, mas sim o seu inventor involuntário.
12. À primeira vista, parece incompreensível; à segunda, também: onde o progresso é maior, mais horas as pessoas trabalham. A doença resultante do excesso de trabalho leva à morte. Em japonês é chamada a Haroshi. Entretanto, os japoneses estão prestes a incorporar uma outra palavra no dicionário da civilização tecnológica: karojsatsu é o nome dado aos suicidas por hiperactividade, que são cada vez mais frequentes. (…)Legitimamente perguntar-se-á: para que servem as máquinas se elas não servem para reduzir o trabalho humano? (…)
13. Segundo os evangelhos, o Cristo nasceu quando Herodes era rei. Ora como Herodes morreu 4 anos antes da era cristã, Cristo terá nascido pelo menos 4 anos antes de Cristo. A noite de Natal é celebrada em muitos países com material bélico. Noite de paz, noite de amor: os petardos enlouquecem os cães e deixam surdos os homens e as mulheres de boa vontade. A cruz suástica, que os nazis identificaram com a guerra e a morte, era um símbolo de vida na Mesopotâmia, na Índia e na América.
14. Quando George W. Bush propôs cortar árvores para acabar com os incêndios florestais, ele não foi bem compreendido. O presidente parecia um pouco mais incoerente que o habitual. Mas de facto ele estava a ser consequente com as suas ideias. Existem remédios santos: para acabar com as dores de cabeça, é necessário decapitar o doente, tal como para salvar o povo iraquiano é preciso bombardeá-lo.
15. O mundo é um grande paradoxo que roda no universo imenso. A esta cadência não faltará muito que os proprietários do planeta proíbam a fome e a sede para que o pão e a água não faltem!

por Eduardo Galeano



A Insubmissão como obra de arte

Uma bem nutrida plêiade de autores, desde Nietzsche até Adorno, passando por Heidegger, Marcuse e Benjamin, não se cansaram de anunciar ao logo dos últimos cento e cinquenta anos a morte da arte. Não admira pois que os especialistas opinem hoje que a instituição artística atravessa a fase final do seu esgotamento, contando já com um certificado oficial de morte, ou que, pelo menos, se encontra já em adiantado estado de decomposição, o que não impede obviamente de continuar a haver artistas, críticos, teóricos de arte, revistas de arte, páginas, notícias e anúncios sobre arte, e até mesmo a continuação do funcionamento de faculdade e departamentos universitários de arte, procurados como nunca por uma enorme clientela, facto este que, de resto, não está ainda devidamente esclarecido... O anúncio antecipado da morte da arte não impede igualmente o uso sistemático e altissonante do termo “arte”, tanto para efeitos políticos ( veja-se a impressionante máquina de fazer dinheiro em que se tornou a Cultura) como para efeitos especulativos ( o negócio da arte), ou ainda como simples objecto de teorização.Novidade marcante é, sem dúvida, utilizá-lo para efeitos de luta antimilitarista e crítica à guerra e ao complexo militar-industrial dominante. Na verdade, entre as novidades recentes do panorama artístico tem surgido um novo tipo de artista: o artista insubmisso militar. O caso mais conhecido foi o do estudante das Belas Artes que se declarou refractário e insubmisso ao Serviço Militar Obrigatório, ao Exército e a todo a máquina estatal de guerra invocando a favor da sua atitude motivos e razões do foro artístico, aproveitando até a ocasião para redigir um Manifesto Artístico Insubmisso, ao longo do qual argumentava e defendia a sua concepção da insubmissão à tropa e à guerra como obra de arte, recorrendo para tal a toda uma forte tradição artística insubmissa – Dada, Tzara, Duchamp, Beuys, Zaj,... – legitimada pela História da Arte, e ensinada inclusivamente nas Faculdades Estatais de Belas-Artes. Toda a sua alegação rematava com a invocação do Artigo 13º ( “É livre a criação intelectual, artística e científica”) e do Artigo 78º ( que dá ao Estado a incumbência de apoiar as iniciativas que estimulem a criação individual e colectiva), ambos da Constituição da República.Claro está que a estratégia jurídico-argumentativa apresentada sofre de não poucas fraquezas face ao conteúdo e espírito do texto constitucional que noutras partes consagra injunções de teor e fins opostos aos que foram invocados, pelo que não foi difícil rebatê-los na decisão que veio a ser proferida pouco tempo depois.Por outro lado a via escolhida para realizar a crítica antimilitarista não se nos afigura ter tido grande eficácia. Todos sabem a pouca receptividade dos militares e até do Estado a razões puramente artísticas para a fundamentação de atitudes e comportamentos. É certo que teve oportunidade para desmistificar certos preconceitos vulgares e muito comuns que estão na origem do Exército e do Estado ao recorrer a razões de ordem artística. Todavia, a luta antimilitarista só se mostrará consequente se tiver impacto junto de conjuntos significativos da população, o que nunca veio realmente a acontecerAlém do mais enveredar por uma “estratégia artística antimilitarista” envolve algum perigo na medida em que o raciocínio que aí se convoca é muito semelhante ao utilizado nas operações militares ( e já agora, o mesmo pensamento se poderá aplicar ao de “vanguarda artística”), se bem que dúvidas não subsistem que os inimigos mais persistentes dos militares não são propriamente os militares adversários mas sim os antimilitaristas.Acerca do acto em si enquanto atitude que releva do foro artístico será necessário, como ponto prévio, elucidarmo-nos sobre se a arte existe, sobre o que é a arte, e ainda se é possível uma definição institucional da mesma.Sustentar a insubmissão à tropa e à guerra em nome da arte sugere logo uma perspectivação da prática artística como desobediência, transgressão de normas e até de delito. E não há dúvidas que a arte do século XX nos oferece uma grande parentesco entre o impulso criativo e anticonvencional, antagónico à dimensão burguesa convencional estabelecida. Este parentesco encontra-se inclusivamente corroborado na moderna ideia segundo a qual a atitude não conformista é a condição prévia e indispensável para a criação artística.Porém não nos iludamos: o anticonvencionalismo, o inconformismo, a desobediência, a insubmissão, o delito,etc, são sempre conceitos relativos a um determinado grupo de referência que, por consenso, define socialmente o conteúdo da norma e do desvio, pelo que uma desobediência relativamente a um grupo social ( dominante, por exemplo) poderá ser vista também como de obediência a outro grupo social ( dominado).De qualquer forma o certo é que existem na História da arte sólidas referências, isto é, precedentes reconhecidos, que permitem encarar a criação artística não tanto como uma habilidade especial para gerir certos materiais e formas, mas como antinomia de toda e qualquer restrição e limitação. Nas palavras de Beuys “o artista e o delinquente são companheiros de caminhada, dispõem ambos de uma louca criatividade, e ambos carecem de moral...”Evidentemente que não se trata aqui de atribuir a categoria artística a alguns bem conhecidos delitos ( como os crimes perfeitos, o dos colarinhos brancos, as falsificações refinadíssimas, as fugas de prisão...), nem é sequer intenção nossa parte trazer à colação os numerosos artistas que foram delinquentes ( Caravaggio foi um criminoso, Rimbaud e Verlaine são conhecidos pelas rixas em que se envolveram, e os primeiros dadaístas de Zurich famosos desertores da I Grande Guerra), trata-se sim de apurar se a arte supõe em si mesma alguma forma de insubmissão ou de delito. O caso de Egon Schiele, preso por ser considerado pornógrafo, a acção dos primeiros graffiters novaiorquinos alvo da perseguição da polícia, as galerias de arte processadas por imoralidade após as exposições de Mapplethorpe, as provocadoras exibições públicas da Action and Body Art na década de sessenta, o happening político de Maio 68, o Accionismo vienense e a sua luta anarquista por uma liberdade dionisíaca sem limites, o movimento Fluxus, a Anti-Arte, Zaj e o não-Zaj, e em grande medida de toda a corrente conceptualista ( desenvolvida desde Duchamp), representam todos eles o questionar da própria ideia de arte.Reinstauradora do vínculo platónico entre moral e estética, será que a arte deve abandonar a complacência administrativa e avançar no caminho da crítica institucional tal como faz Hans Haacke que denuncia a experiência quotidiana capitalista, lançando as suas obras contra as instituições artísticas estabelecidas, e indústrias congéneres?Inspirados nesta ideia numerosos artistas optaram por esta via ( bastará lembrar o caso de Wolf Vostell, Julien Blaine, Joel Hubaut, Patrice Loubier...) e que acabam justamente por reconhecer a natureza artística a uma acto como o de insubmissão antimilitarista.Reticentes a uma concepção destas serão certamente as instituições estabelecidas como as academias, universidades, associações de críticos, museus, etc , circunstância essa que só dará razão a Gomez de la Serna quando este escreve “...as academias não têm nada a ver com a arte; constituem-se acima de tudo como recintos tétricos, repletos de chefes de língua de negócio”.Chegamos assim a este ponto do problema: se as faculdades de arte não têm capacidade para dizer o que é a arte, então quem o pode fazer? A resposta óbvia é remeter para o próprio foro de cada indivíduo na hipótese de se considerar a arte como uma experiência eminentemente subjectiva e intransferível, e que dura enquanto acontece num determinado sujeito criador. Mas nesse sentido qualquer um pode ser artista, quer seja militar ou civil, oprimido ou opressor. Mas se se busca uma resposta mais elaborada então as coisas complicam-se. E torna-se hoje ainda mais difícil descortinar alguma saída para esta questão depois de tantas evoluções a que se assistiu neste domínio no último século.Novos enfoques sobre o assunto ( o que é a arte?) não vão faltar com o passar do tempo, mas hoje desgraçadamente temos de reconhecer que a arte é definida institucionalmente pelos...media! São estes, mais o dinheiro investido ( ou a investir) que definem institucionalmente a natureza artística de uma obra.Por isso, um artista insubmisso militar que queira elevar o seu acto à categoria de arte não tem outro solução que não seja comprar um bom e apelativo anúncio televisivo, ou em algum outro meio audiovisual de massas...Podemos concluir assim que a Arte a a Justiça têm algo de comum entre si : ambas são instituições fraudulentas.A Arte por dissimular uma existência improvável ( quase impossível) nas actuais condições demotecnocráticas e hipertecnologizadas em que a própria realidade acabou por sucumbir às mãos de ficções tornadas realidade.A Justiça não somente pelas disfuncionalidades congénitas de qualquer aparelho ou máquina judicial mas sobretudo pela contradição que se revela entre as suas leis e os fundamentos morais que pretensamente aquelas se apoiam, como ainda por sancionar justamente os indivíduos que ao avaliar criticamente a actuação do Estado, qual máquina de poder em potência e em acto, mais longe levam o seu direito de cidadania (1) ao exigir que o Direito Penal deste corresponda ao seu próprio fundamento originário , que é o de se constituir como um conjunto normativo que garanta tão só os requisitos mínimos para a convivência social, (2) assim como à recusa de se aglutinar a uma massa informe de indivíduos através da activa participação cívica e social.
José Saborit Viguer


Toda a pessoa que crê no crescimento exponencial infinito num mundo de recursos finitos ou é um louco ou é um economista
Kenneth Boulding


A Arte da Pontuação

Colocar uma vírgula antes ou depois de uma palavra pode ser uma questão de vida ou de morte. Em Perdón Imposible, José Antonio Millán relata-nos um episódio em que o imperador Carlos V, na iminência de assinar uma sentença de morte que dizia «Perdão impossível, cumprir a condenação», viu-se acometido por um ataque de magnanimidade e, antes de rubricar, resolveu corrigir a frase: «Perdão, impossível cumprir a condenação». Bastou mudar uma vírgula e salvou-se, assim, a vida de um homem.