quarta-feira, março 21, 2007

O Indivíduo ou o Estereótipo?

Confesso que a minha inadaptação com já umas décadas com algumas ideologias de esquerda (e outras de direita) ou pedagogias/teologias da “resistência” (bem… estou a tentar chatear o máximo de gente…) é a forma como parecem encarar os indivíduos como meros reflexos ocasionais de estereótipos arquétípicos (já sei, estou a abusar da linguagem…).
Descomplicando: não consigo aderir a formas de pensar que implicam que, no concreto, eu encare cada indivíduo primeiro a partir do seu posicionamento relativo na sociedade e só depois como uma pessoa específica. Não consigo olhar para um aluno (professor, funcionário, ministro, merceeiro, polícia, engenheiro, médico, varredor) e vê-lo primeiro como um símbolo e peão da luta de classes, de jogos de dominação político-económico-social ou de mercados globais. Primeiro vejo o António, a Maria, o João, a Susana, o Joaquim, tento conhecê-los na suas suas características individuais únicas e agir em conformidade, antes de saber se ele é uma figura resultante dos mecanismos de exploração de classe, de opressão do Estado ou de qualquer outro tipo de aparato ideológico, seja destro ou canhoto. Não significa que, num segundo momento, essa análise não seja útil, mas como ponto de partida leva a enviesamentos terríveis na forma como olhamos para os fenómenos sociais e para os grupos e pessoas que neles participam.
Aliás, acho que em muitos aspectos um certo colectivismo de esquerda e o neoliberalismo de direita se aproximam muito - e ouso incluir aí também o fascismo como terceiro vértice do triângulo ideológico da massificação moderna - na forma como encaram os indivíduos como meras peças num jogo cujas regras e forças os transcendem. Defendam estratégias de conformismo ou emancipação - desculpem-me lá alguns amigos leitores do Umbigo - este tipo de ideologias de massas desanimam-me ee des-animam (olha o trocadilho fácil…) os indivíduos, parecendo encará-los como meros receptáculos sem alma e arbítrio próprios.
Por isso, continuo e continuarei a olhar para os meus alunos e colegas, não como um conjunto de gente indiferenciada que preciso de acordar de um limbo à custa de choques eléctricos, mas como seres individuais com os quais se deve estabelecer uma relação racional e se necessário emocional. Não gosto de pensamentos totalitários e que visam excluir os não aderentes; não acredito em soluções puras para todas as situações e casos concretos, em especial os que lidam com pessoas; e principalmente não vejo estereótipos, conspirações e autómatos em todo o lado. Se assim fosse sentir-me-ia realmente alienado. Porque não há alienação maior e mais paradoxal do que a que nega a liberdade aos indivíduos em nome de uma luta por essa liberdade.
Os exemplos históricos desse erro são por demais evidentes e, como acho há muito, são transversais a ideologias que, apesar de sinal aparentemente contrário, se unem no seu radicalismo uniformizador e anti-individualista.
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