sábado, março 18, 2006

O Livro Digital

A rápida expansão das novas tecnologias de informação e de comunicação e a passagem para uma sociedade de informação, digital ou de rede, em que a Internet e a world wide web assumem uma especial importância, têm levantado diversas questões sobre a natureza e funções do livro tal como tradicionalmente o temos conhecido e mesmo sobre o seu eventual desaparecimento. Neste quadro, há autores que têm vindo a insistir em que, muito embora situações aparentemente semelhantes sejam recorrentes na história do livro e dos meios de comunicação, o momento em que nos encontramos configura uma “revolução” mais radical do que todas as anteriores por abranger, pela primeira vez em simultâneo, um conjunto de mutações que até agora tinham ocorrido em separado. Na verdade, argumenta-se muitas das categorias através das quais nos temos relacionado com a cultura escrita estão a alterar-se, pois assistimos a mudanças nas técnicas de reprodução do texto, na forma ou suporte do texto e ainda nas práticas de leitura. Ora, no passado, isso nunca sucedeu: a invenção do códice no Ocidente não modificou os meios de reprodução dos textos ou dos manuscritos. A invenção de Gutenberg não modificou a forma do livro. As revoluções nas práticas de leitura ocorreram no contexto de uma certa estabilidade quer nas técnicas de reprodução dos textos quer na forma e materialidade do objecto. Mas hoje estas três revoluções – técnica, morfológica e material – estão perfeitamente interligadas. Essa singularidade leva a que enfrentemos uma crise nas categorias que têm permitido a nossa ligação com o livro e com a sua cultura. Por exemplo as que dizem respeito à propriedade e ao copyright, que se cristalizaram durante o século XVIII, encontram agora diversas dificuldades face às características do texto electrónico. Mas o mesmo se passa com a noção da identidade do livro, identidade que é simultaneamente textual e material. Até agora, os géneros textuais podiam distinguir-se imediatamente pela sua materialidade específica. Todos sabemos que um livro não é um jornal, que por sua vez também não é uma carta... Mas no mundo dos textos electrónicos esta diferença tende a desaparecer. A ordem do livro que tem sido a nossa e que conformava um campo simultaneamente cognitivo, cultural e político em torno do qual o objecto livro ocupava a posição central, encontra-se já em plena reconfiguração. Mais ainda, essa cultura do livro, ou seja, uma certa maneira de produzir saber, sentido e sociabilidade vai pouco a pouco desvanecendo-se. Sendo inegável que o livro, a leitura e as suas práticas ou os modos de apropriação dos textos, bem como a nossa relação com a escrita, se encontram num momento de rápida transformação, impõe-se reflectir sobre como se traduzem essas mudanças na “ordem do livro” que referimos. Na verdade, encontramo-nos num campo de turbulência, em que se assiste cada vez mais a experiências no âmbito da edição electrónica e ao aparecimento de obras para leitura em ecrã, de dispositivos portáteis de leitura de textos digitalizados, à multiplicação de publicações em diversos formatos e linguagens e ao desenvolvimento de software para potenciar condições dessa nova leitura.O que está realmente a acontecer é ainda mais complexo do que a emergência de novos canais de comercialização de livros ou de um novo tipo de dispositivo electrónico de consumo. “O que está em jogo é muito mais fundamental: como vamos pensar os livros no mundo digital e como irão estes comportar-se? De que modo vai usá-los, partilhá-lhos e em que termos nos vamos referir a eles? Em particular, quais são as nossas expectativas sobre a persistência e permanência da comunicação humana com base nos livros, à medida em que entramos no «brave new digital world»? Continuará o nosso pensamento a ser dominado pelas convenções e modelos de negócio da edição impressa (...) e pelas nossas práticas culturais, expectativas de consumidor, quadros legais e normas sociais ligadas aos livros ou irão essas tradições desaparecer, talvez a favor de práticas em desenvolvimento em indústrias como a música? Salientam-se então três temas cruciais na transição para o mundo digital e que a agitação em torno dos e-books pode ocultar: a natureza do livro no mundo digital como forma de comunicação; o controlo dos livros nesse mesmo mundo, incluindo as relações entre autores, consumidores/leitores e editores e, por extensão, o modo como viremos a gerir a nossa herança cultural e o nosso passado intelectual; e a reestruturação das economias da autoria e edição. A edição electrónica apresenta então características específicas que vão desde a sua enorme capacidade de armazenamento de dados até à rapidez da sua produção e disseminação, facilidade de actualização e correcção ou potencialidades colaborativas e interactivas. Nessa medida, os produtos por ela gerados apresentam óbvias vantagens em relação à edição tradicional no que se refere à disponibilidade do conteúdo (tempo e local de entrega e dimensão da informação), à transparência e interactividade do conteúdo (interactividade, possibilidade de integração de conteúdos e serviços e instrumentos de pesquisa), e ao formato do conteúdo (hiper texto e multimédia). É claro que os livros tal como os conhecemos desde Gutenberg vão continuar a ser escritos, publicados, comercializados e lidos. E muito provavelmente o número de títulos em formatos tradicionais vai aumentar nos tempos mais próximos. A literatura destinada ao prazer e à consolação irão continuar, num futuro previsível, a aparecer no seu modo tradicional. Apesar disso, não nos devemos deixar iludir, pois tal não impede que o livro tenha perdido, no oceano textual, a sua hegemonia e a sua centralidade simbólica e que a leitura e as suas práticas, bem como a nossa relação com a escrita, se encontrem igualmente num processo de clara transformação. Na verdade, tem-se previsto amiúde quer “a morte do livro” quer “a morte do leitor”, referindo-se argumentos estatísticos sobre o declínio dos hábitos de leitura, os crescentes problemas que a edição tradicional enfrenta ou ainda o inevitável triunfo da cultura do ecrã. Os dados resultantes de diversos estudos e inquéritos apontam para tendências dificilmente questionáveis, como a explosão do universo do audiovisual e do multimédia, a generalização da diversificação das práticas culturais favorecida pelo uso do telecomando e do rato, a diminuição do número de leitores ou a transferência dos jovens leitores para o segmento das revistas, livros práticos ou profissionais. As novas materialidades que suportam a escrita não anunciam o fim do livro ou a morte do leitor. Existirá como sempre, coexistência e sobrevivência estrutural de modelos passados no momento em que a génese faz surgir novas possibilidades. Mas essas novas materialidades pressupõem que os papéis vão ser redistribuídos, implicando uma competição mas também certamente uma persistente complementaridade entre os vários suportes do discurso, levando ao aparecimento de novas relações com o universo textual, à convivência de todas as modalidades de produção, reprodução e distribuição do livro e a complexas configurações entre diferentes hierarquias e tipologias de leitura e entre diversas formas de literacia. Para concluir, trata-se de reconhecer que é uma nova realidade que se estabelece. Uma nova realidade que faz coexistir de um modo dinâmico uma multiplicidade de modelos, de modos de arquivo e de acumulação. E que isso é, desde sempre, a história do livro.
Nesta sequência de ideias tenho o privilégio de informar que nasceu um novo site/editora, destinado à divulgação e venda de livros. Este site foi criado a pensar nos autores que já publicaram livros e que agora queiram reeditá-los em formato digital, ou que nunca publicaram e queiram editá-los por este meio. Conscientes de que o mercado tradicional editorial se encontra cada vez mais fechado aos novos talentos, praticando uma política de massificação e homogeneização, criou-se a oportunidade de divulgar, aqui, autores de todos os géneros literários, no campo das ciências sociais, exactas e humanas, ou publicar, simplesmente o que escreve….Para tal, a visita da seguinte página: http://www.editoradigital.net torna-se importante ficando a aguardar o seu contacto, e as suas obras! Descontentes com o mundo editorial e seus lobbies, interesses, desejo de lucro fácil em detrimento da cultura, desprezo aos novos autores por serem desconhecidos, o que implica manter eterno desse status, 3 amigos, no qual me incluo, criaram a http://www.editoradigital.net. Este novo serviço é um espaço aberto a todos os escritores que desejem comercializar os seus livros em forma digitais. Estamos a falar tanto de novos autores, como de consagrados que queiram reeditar obras antigas ou adiram a esta forma alternativa de venda. Em Portugal escreve-se bastante, para surpresa de muitos mas muitas obras têm como destino a gaveta e o esquecimento. Queremos dar voz a todos. Para chegarmos ao maior número dessas pessoas e de potenciais clientes, divulgação é a palavra-chave. Todos temos um número apreciável de contactos e, o que se pede, é que usem esses mesmos contactos para divulgar o nosso serviço, passando esta informação. E não se esqueçam de nos visitar...!

http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/resources/afurtado/index.htm

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