quinta-feira, abril 27, 2006

Estude mais para que você seja um desempregado culto

Você acredita que as pessoas que estudam mais têm mais facilidade de arrumar um emprego, não é? Afinal isso sempre foi assim. Pois o IBGE mostra que não é mais.
Parece uma coisa bastante óbvia. A maior escolaridade melhora as chances de se conseguir um emprego. Isso é repetido sempre, como uma verdade imutável. Segundo economistas, sociólogos, e outros especialistas, isso seria ainda mais claro na “Era da Informação”. Mas alguma coisa não esta certa, de acordo com a Folha de São Paulo:
“A Síntese de Indicadores Sociais de 2003, divulgada hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revela que o desemprego avançou com maior intensidade entre os que têm mais de oito anos de estudo. O problema atinge principalmente os que estudaram mais, os jovens e as mulheres”.(1)Isso parece bastante estranho, porque na era dos robôs e computadores, deveria ser exactamente o contrário. Além disso, os mais jovens costumam se adaptar com mais facilidade ao novo ambiente tecnológico e nunca as mulheres foram tão instruídas como hoje.
“Se no passado, diploma chegou a ser sinónimo de emprego, as pesquisas dos últimos anos reforçam a tendência de que as vagas para a mão-de-obra mais qualificada estão escassas. A taxa de desemprego entre os mais escolarizados chegou a 11,3%. De acordo com o instituto, o fenómeno do desemprego tem um componente estrutural no que se refere à geração de postos de trabalho mais qualificados”. (2)
Então o que seria esse tal “componente estrutural” que dificultaria a geração de empregos justamente entre os trabalhadores mais qualificados? Isso é muito estranho, considerando que todos “sabem” que as novas tecnologias de informação e telecomunicações não geram desemprego, e sim trabalho mais criativos e de alto nível técnico.
Mas na verdade, isso só é um paradoxo para quem não entende a “nova economia”. Dentro da nova realidade, só um pequeno grupo de pessoas é necessário para projectar, construir, programar e fazer a manutenção dos novos equipamentos.
Como os novos robôs, redes de computadores e máquinas “inteligentes” têm “interfaces amigáveis”, a operação delas em si é muito simples, não exigindo mais do que a condição de alfabetizado, e às vezes nem isso, para operá-las.
Por exemplo: Um supermercado só precisa de um ou dois técnicos de alto nível para implantar uma rede de computadores e terminais de caixas, capazes de controlar os estuques, as vendas, a contabilidade, etc.
Mas a operação de um terminal de caixa computadorizado é extremamente simples. Não exige maior conhecimento do que para operar uma máquina de auto-atendimento de banco. Isso significa que o estabelecimento só ira precisar de pessoas capazes de seguir instruções elementares.
É claro que não irá precisar de universitários para passar latas de conserva na frente de uma “lusinha”. O que precisa saber alguém cuja função é somente solicitar que o cliente digite uma senha num teclado? Na verdade não são necessárias pessoas que saibam sequer fazer contas de somar para apertar uma tecla e esperar pela impressão de um recibo. Um analfabeto consegue conferir estuques com um colector de dados digital.
É por isso que quanto mais sofisticado é o “sistema” de uma empresa, menor o grau de escolaridade e experiência anterior exigido pelos seus funcionários comuns. E consequentemente, menor os salários...

Notas:
(1) “Desemprego tem alta maior entre os mais escolarizados, diz IBGE“ - Janaina Lage - da Folha Online, no Rio - 24/02/2005.
(2) Idem.
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/

Sem comentários: