sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Carta duma colega

A mim o discurso da ministra pareceu-me o canto da sereia, mas como já
estava avisada pude ouvi-la sem me perder. Agora é uma questão de
tempo e persistência dos professores para esta ministra ir a andar.
Virá depois outra ou outro. Não é novidade. As políticas é que
precisam de ser mudadas. Quando as pessoas entenderem isto, o governo
mudará. Outro virá e as políticas serão idênticas. O objectivo destas
políticas educativas é sempre o mesmo: destruir a escola pública,
esvaziar o ensino, preparar mão-de-obra barata para o trabalho
precário, desresponsabilizar o Estado, passar para os municípios a
batata quente de acabar o trabalho sujo de desmantelar a escola
pública. Mas a quem prestam os nossos governantes este serviço? De
onde vêem estas políticas que subvertem a nossa Lei de Bases do
Sistema Educativo? São directivas alienígenas que visam desmontar a
nossa concepção de escola democrática e equitativa. Não as queremos,
não nos servem, como afirmá-lo? Não queremos os nossos filhos a ser
formados para serem ignorantes e entregues à escola a tempo inteiro
para serem depois servidos numa bandeja, facilmente transformados em
mão-de-obra barata.
Os pais não assumem a educação dos filhos porque estão a ser tão
apertados nos seus empregos quanto os professores no seu. Há que lhes
dizer que a luta também é sua e que o que aqui está em jogo é a
desconstrução de toda a sociedade civil e também as gerações futuras a
que os seus filhos pertencem. Por isso todos devemos estar unidos
porque todos vamos perder com o fim da escola que era de todos.
O processo de destruição é tão grave que o poder necessita de exercer
a autoridade para poder impor as indesejáveis políticas. Para isso
auxilia-se dos que se limitam a cumprir as ordens mesmo sabendo que
estão a ser os actores dessa destruição. Criando a figura do director
e toda uma panóplia de nomeações e de cargos atribuídos aos que
obedecerão cegamente às normas, o governo assegura que as leis serão
cumpridas e postas em prática, pressupondo que os mais fragilizados na
sua carreira profissional se lhes submeterão mais cedo ou mais tarde.
Mas o governo tem timings a cumprir, o país tem que se submeter à
avaliação da União Europeia e tem que cumprir as suas metas e os seus
prazos. Por isso o Ministério conserva em mãos o trunfo de destituir
quem não andar dentro desta linha. A Autonomia concedida às escolas é:
arranjem-se lá como quiserem conquanto que em 2013 esteja tudo
aplicado, senão...
A substituição da ministra é urgente e necessária, mas prosseguir no
sentido garantir o rompimento com as políticas educativas que se
impõem é o mais importante porque não basta mudar as moscas e cantar
vitória. Pode-se ganhar uma batalha mas o mais importante é no fim não
se perder a guerra. E para entender isto são precisas muitas e boas
aulas, um conhecimento histórico e cultural sólido e a noção do que é
viver verdadeiramente em democracia.

Paula Montez

Recebido por mail

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