Também se comemora hoje a liberdade de expressão.
Por isso é oportuno apresentar uma troca de mails ao longo de algumas semanas entre um professor e o blogger Luís Grave Rodrigues do Random Precision que como se sabe tem uma visão muito negativa do papel dos professores e da escola pública.
Meu caro Luis Grave Rodrigues
já tive a oportunidade de por mail fazer-lhe um convite para, com calma, explicar-lhe como tudo o que diz respeito ao sistema de ensino funciona.
Respondeu-me no mesmo tom moderado em que lhe tinha escrito, mas não respondeu objectivamente a esta questão.
É claro que por cada um que sobre os professores diga, enfim, qualquer coisa que lhe venha à cabeça, não vou ter a mesma vontade, paciência, disposição, etc,etc, que aqui manifesto.
O que acontece é que reconheço-lhe espírito crítico e inteligência naquilo que escreve e publica, desde que não tenha nada a ver com o ensino...
E isso faz-me uma certa confusão.
"Porque que ele não tem a mesma abertura de espírito e inteligência nas questões da escola que manifestamente tem nas questões da sociedade, da religião, da liberdade sexual e outras?
Qual o interesse do Grave para defender aquilo que inteligentemente não é defensável?
Esta a grande questão que subsiste.
Continuo à sua disposição para lhe facultar as informações que não tem, a comunicação social não fornece, mas sobre a qual continua a fazer comentários que são descabidos, como por exemplo dizer que "...os professores portugueses não querem ser avaliados!!!" ou "aulas de substituição (que os professores querem ver pagas como horas extraordinárias, apesar de serem dadas dentro do seu horário normal de trabalho)" ou "se os professores continuassem, então a trabalhar 12 horas por semana" ou etc etc etc
Apesar de tudo
com consideração por todas as outras coisas que defende e sobre as quais escreve
Francisco Trindade
Professor de Filosofia
sócio da APEDE
(Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino)
Caro Francisco Trindade:
Tem imensa razão: o filme aplica-se perfeitamente ao caso dos professores e desta "luta" completamente irracional com o ministério.
Mas engana-se quando diz que estou mal informado. Não estarei integralmente informado, decerto.
Mas não emprenho pelos ouvidos com a política oposicionista de que alguma comunicação social portuguesa se encarregou.
Procuro informar-me e aquilo que digo não o faço sem o confirmar com simples consultas aos sites dos sindicatos.
Mas se estou mal informado, porque será que os ilustres comentadores que aqui vêm e me contradizem (e alguns até insultam como se de algo pessoal se tratasse) não me informam melhor?
Estou farto de perguntar duas simples coisas:
1ª- Quais os pontos EM CONCRETO em que esses ilustres comentadores não concordam com a decisão do ministério;
2ª- Quais AS ALTERNATIVAS que oferecem a esses pontos de discórdia.
Ora, o que é facto é que NUNCA me responderam a estas perguntas.
Só me dizem que os professores são uma vítimas, que levam porrada dos alunos. E que, pelos vistos são todos competentes, tudo isto de tal forma que não é necessário avaliá-los ou distingui-los uns dos outros no seu desempenho profissional, o qual deverá levá-los A TODOS sem excepção ao topo da carreira.
Sabe o que lhe digo?
BULLSHIT!
E sabe como é que me faz mudar de opinião, se diz que eu estou mal informado?
Informe-me!!!
Mas, por favor, não me diga coisas como esta, que foram postas na caixa de cometários anterior:
«Isso não é uma avaliação, é uma aferição. É verificar se a pessoa está apta para o exercicio das funções, e nesse campo a universidade que lhe atribui o diploma é soberana».
O que quer de mais esclarecedor do que isto para me dar razão?
Meu caro Luis Grave Rodrigues
É isto que a mim faz confusão: Como é possível a um homem que consiga dizer isto: "Como é possível no século XXI ainda haver alguém tão imbecil que proclame a validade dos ditames de vida e a actualidade dos valores “morais” de meia dúzia de pastores da Idade do Bronze?" e desta maneira conseguir brilhantemente explanar aquilo que alguns ufanamente caracterizam por
tradição judaico-cristã e no que diz respeito à problemática dos professores e do ensino na escola pública só consiga dizer o tonto, o vazio, o demagógico, aquilo que, bem vistas as coisas faz parte também da nossa herança judaico-cristã...
Francisco Trindade
Caro Francisco Trindade
É curioso como os professores entram no domínio da irracionalidade e de uma emoção descontrolada quando aparece alguém que não concorda com eles.
Admita alguma discordância, homem!
Nem que seja só filosoficamente e de princípio.
Critique, sim, se lhe apetecer.
Mas faça-o racionalmente e com base em factos.
Sugiro-lhe até que me indique EM CONCRETO onde lhe parece que estou errado, me indique EM CONCRETO onde discorda da ministra e me indique EM CONCRETO quais as ALTERNATIVAS que propõe.
É o que eu recorrentemente digo nos meus posts e nas respostas que dou nas caixas de comentários.
Só que até agora... nicles!
Até já disse aqui a um professor que faz parte da família (a família a gente não escolhe, não é? - isto era uma graça ) para fazer um texto que contenha tudo isso, que eu o publicarei na íntegra aqui no blog.
Mas até agora, e mais uma vez ... nicles.
Faço-lhe o mesmo desafio: faça um texto que contenha AS ALTERNATIVAS que propõe, que publico.
Mas atenção: as alternativas CONCRETAS e PRECISAS a medidas práticas e não petições de princípio.
Não quero coisas tais como: «como é que os professores podem ser avaliados se nem sequer lhes dão um computador para trabalharem?»
Ou: «como é que querem que eu concorde com as aulas de substituição se não há cadeiras nas salas de professores».
E então, em vez de lutarem pelas cadeiras, lutam contra as aulas de substituição.
E garanto-lhe que isso não deixa os professores nada bem vistos, sabia?
Mas pronto: só por eu dizer isto, lá vem a emoção outra vez. Quer ver?
Mas quanto a ALTERNATIVAS CONCRETAS... nicles!!!
Olhe: faça como eu fiz neste texto sobre essa coisa da tradição judaico cristã.
Critico, mas faço-o EM CONCRETO.
Outro exemplo: quando digo que a Igreja Católica é a favor da pena de morte e da guerra santa e da guerra preventiva, faço-o EM CONCRETO.
Quer o número do artigo do Catecismo da Igreja Católica onde isso vem?
Ou o seu computador «tem» Google?...
Luís G. Rodrigues
Caro Luís Grave Rodrigues
aqui vão alguns argumentos para reflectir. Outros oportunamente se seguirão, porque isto do ensino, da educação e da escola tem que se lhe diga e para o dizer é preciso muitas palavras...
A educação pública em Portugal, ao nível dos ensinos Básico e Secundário, está sob avaliação constante de todos os portugueses, porque todos se sentem capacitados para sobre ela se pronunciarem como não fazem para outras áreas sociais e porque todos os políticos a tomam como frente de batalha em nome do progresso social. Podíamos falar de uma avaliação informal da educação pública nos casos em que o cidadão comum se pronuncia, mas o grau de seriedade e de atenção com que todas as opiniões são publicitadas permite-nos concluir que todos exigimos que as nossas ideias sobre a educação pública sejam formalmente válidas. Todos acreditamos ter uma solução para a educação pública, mesmo nos casos (a maior parte) em que apenas opinamos por opinar.
Esta falácia comunicacional tem ajudado mais a destruir a educação pública do que a contribuir para a sua democratização, como seria, em teoria, desejável. O papel social do professor em Portugal está tão diminuído que qualquer política que tente regular as condições da profissionalidade do professor está condenada a dois tipos de sentença dadas em simultâneo: a dos próprios professores que lutam contra um legislador que odeia a profissão, e a da própria sociedade não educativa que odeia os professores, porque os vê como resistentes à mudança. Só uma política de reconciliação de todos os intervenientes na educação pública podia ter êxito e essa postura reconciliadora está longe de qualquer agenda política verdadeira.
As mais recentes políticas para regulação formal da actividade docente continuam a ter as mesmas características: bons princípios gerais, que servem de suporte à defesa pública das políticas e que poucos conseguirão contestar, seguidos de péssimas execuções técnicas. O que pode explicar esta situação estranha é o predomínio de bons políticos na área da educação que aparecem rodeados dos técnicos mais incompetentes, cuja acção coloca os políticos das boas ideias num beco sem saída: a necessidade de defender uma boa ideia para a educação com uma péssima adequação legislativa. Foi assim, por exemplo, com a introdução do Inglês no 1.º ciclo, mas permitindo a (sub)contratação de professores sem qualificação e com vencimentos precários em vez de aproveitar a rede de docentes profissionalizados de Inglês que ficaram sem colocação no concurso nacional para os outros níveis de ensino; aconteceu o mesmo com a correcção justa de uma lei antiga (Despacho Normativo n.º 32/84, que desregulou por completo as habilitações para a docência): o Decreto-Lei n.º 27/2006 corrige esse quadro de habilitações criando grupos monodisciplinares para o concurso nacional de professores, mas um ano mais tarde o Decreto-Lei n.º 43/2007, de 22 de Fevereiro, decide fazer regressar os princípios da Primeira República do século XX para a formação inicial de professores dos ensinos Básico e Secundário, quando junta pares de disciplinas para a mesma formação (História e Geografia, Geologia e Biologia, Física e Química, etc.). Ainda está por explicar o despropositado anexo a este Decreto-Lei n.º 43/2007, que ainda não mereceu atenção pública porque os seus efeitos só se farão sentir daqui a alguns anos, quando estiver irremediavelmente perdida a garantia de qualidade científica e pedagógica dos professores entretanto formados. As questões assombrosas que daí decorrem nunca foram respondidas pela tutela, por exemplo, (1) por que razão se criam dois "domínios de habilitação para a docência" a Português?; (2) por que razão se cria um domínio de Português com Línguas Clássicas, que não tem procura nas actuais licenciaturas, e se anula, inexplicavelmente, o domínio de maior procura que corresponde ao Português e ao Inglês?; (3) será possível dar formação científica de base a um futuro professor de Biologia e Geologia, de História e Geografia ou de Inglês e outra Língua com apenas 120 ECTS (= 4 semestres) como requisito mínimo na licenciatura?
Está correcto e aplaude-se o texto da lei que justifica que "a criação da categoria de professor titular tem como objectivo dotar as escolas de um corpo de docentes altamente qualificado, com mais experiência e formação, que assegure em permanência as funções de organização dos estabelecimentos de ensino, para a promoção do sucesso educativo, a prevenção do abandono escolar e a melhoria da qualidade das aprendizagens." (Decreto-Lei n.º 200/2007). O anterior enquadramento legal (uma categoria única que não distinguia profissionalmente o docente, mas apenas em termos de acumulação de tempo de serviço e acções de formação contínua mais ou menos indiferenciadas, numa progressão simétrica em dez escalões) resolvia o problema desta classe profissional em concursos públicos e perante o regime de aposentação, mas não resolvia o problema da distinção da competência e desempenho profissionais, como acontece, por analogia próxima, com os docentes do Ensino Superior universitário e politécnico. Dividir a classe em duas categorias profissionais era o mínimo possível e aceitável, em teoria. A prática resultou na desvirtuação total do princípio correctamente enunciado na lei. Ser professor titular foi uma lotaria e não um efeito de uma avaliação do mérito profissional: quem esteve no lugar certo, no tempo certo (últimos sete anos), na função certa, teve o primeiro prémio; muitos que o mereciam de igual forma ficaram com a terminação e com a fracção em branco. Se a avaliação do mérito de um professor para ascender à categoria de topo ("titular") se pode medir apenas pelo trabalho desenvolvido nos últimos sete anos de actividade profissional (para uma carreira que pode ir em média aos 35 anos de serviço), então toda a avaliação de mérito na função pública, pelo menos, deve ser feita com o mesmo critério, isto é, em termos comparativos, uma legislatura de quatro anos só deve ser avaliada pelo trabalho feito nos últimos oito meses. Experimente qualquer governante deste país aplicar esta lógica a si próprio. Um currículo profissional só é válido para uma parte de toda a vida que lhe foi dedicado? O exercício de uma profissão só é válido em relação à sua expressão mais actual? Que profissão se regula desta forma? Por que razão os muitos (para)comentadores da avaliação dos professores fingem ignorar que jamais aceitariam que nas suas próprias profissões fossem avaliados pelos seus actos profissionais mais recentes? De notar que o Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, vai definir, correctamente, que o desempenho do professor seja avaliado na dimensão do "Desenvolvimento e formação profissional ao longo da vida". Como os actuais professores titulares foram avaliados por sete anos de desempenho profissional, conclui-se que a vida de alguns professores é mais curta do que a de outros, aos olhos do circunspecto legislador.
A escola pública portuguesa está, então, dividida em professores titulares e professores com mais mérito do que os titulares por razões formais e não por excelência curricular. Um sistema de avaliação de professores não pode estar dependente do cumprimento contabilístico de um conjunto de regras, que até ignoram a maior habilitação académica dos avaliados e permitem que um licenciado possa avaliar um colega de profissão que possui um grau académico superior. O que não diria a mesma sociedade civil que se tem colocado ao lado de quem vê os professores como um grupo de "bons malandros" se, pela mesma lógica de raciocínio de quem inventou o sistema de avaliação dos professores que se quer impor, se aplicasse, por exemplo, às carreiras militares (um capitão a avaliar se um coronel deve ou não ascender à carreira de general; neste exemplo, também seria legítimo, pela mesma lógica legislativa que se aplica aos professores, a situação de um capitão do Exército a avaliar a candidatura de um outro militar a general da Força Aérea)! O sistema actual está já pervertido e será muito difícil corrigir os erros e as injustiças já semeadas.
Há modelos eficazes de avaliação de professores por esse mundo fora que podiam ter sido adoptados de forma quase consensual, sobretudo se o objectivo tivesse sido o da simplificação do modelo (não do acto de avaliação, algo que muitos comentadores tendem a confundir) e o da garantia de imparcialidade e hierarquização dos avaliadores, sem a qual não haverá nunca avaliação justa. Justificava-se a criação de uma agência externa, independente, para avaliação dos professores, a qual contrataria apenas mestres e doutores (libertando até muitas vagas no actual quadro de docentes) e garantindo que um docente nunca seria avaliado por outro com menor qualificação académica, princípio agora desrespeitado; justificava-se, em alternativa, a adopção de um modelo de auto-avaliação eficaz, não com a ficha de auto-avaliação proposta pelo Ministério da Educação (disponível em www.min-edu.pt/np3/1603.html), mas, por exemplo, com a análise externa do porta-fólio do professor (veja-se o exemplo seguido pela George Mason University, cujo Guidelines for the Peer Review of Teaching podia facilmente ser adaptado ao contexto educativo português); ou ainda em alternativa justifica-se um modelo simplificado de avaliação como, por exemplo, o seguido pelo agrupamento de escolas de Cambridge (Massachusetts, EUA, disponível em: www.cpsd.us/Web/HR/TeacherEvaluationFORM.pdf). Estes são exemplos de boas práticas entre centenas que podíamos identificar num mundo académico que não receia a avaliação profissional. O mito do professor que receia ser avaliado é apenas um argumento do político especulador para quem é mais importante ganhar a opinião pública do que o respeito daqueles para quem a sua acção se dirige (os professores neste caso).
Há ainda a denunciar medidas tão incompreensíveis como o timing de aplicação das leis (novo estatuto do aluno - aquele que não precisará de aprender para ter sucesso - e novo modelo de avaliação dos professores, que surgem a meio de um ano lectivo) e a incapacidade para dialogar e ouvir quem também, como o governante, deseja o melhor para a escola pública. Mas de que serve haver ministros que defendem fazer muitas reuniões com os parceiros educativos, se têm ignorado todos os pareceres construtivos quer desses parceiros quer do próprio Conselho Nacional de Educação?
Na escola pública actual, só parece haver lugar para quem souber executar tarefas programadas em decreto-lei. Está a impor-se o burocrata das fichas, registos de faltas, grelhas, matrizes, relatórios, actas, planificações, projectos educativos, planos individuais, etc. O professor que tem o poder de pensar na matéria do seu ensino, reflectir sobre a melhor aprendizagem dos seus alunos e conduzir-se a um patamar de realização profissional de excelência académica está a ser suprimido por decreto.
As actuais políticas educativas nascem no Castelo da 5 de Outubro mais burocratizadas do que qualquer desejo de resolver com bom senso os problemas da escola pública. Não estranho que onde há professores-educadores-pensadores, apenas se vejam funcionários administrativos capazes de desempenhar tarefas de preenchimento de papéis e condução mecânica de alunos que se querem modelares por força do cálculo estatístico e não por força da efectiva aprendizagem de novos conhecimentos. Vivemos o tempo do professor-escrivão, aquele que deverá dispensar o saber criativo do educador e que se distinguirá no desempenho administrativo e nas boas acções, aquele que sabe calcular o sucesso escolar em função da proporcionalidade pré-destinada por decreto legal. Chegou o fim da criatividade, da espontaneidade e do livre-pensamento, para triunfar o modelo de escola acéfala que apenas produz estudantes autómatos cujos actos se traduzem mecanicamente em fichas de avaliação que programam todos os comportamentos. O professor-escrivão não se distingue deste tipo de aluno - ele é o modelo de professor com que qualquer estatística governamental sonha. Não tardarão aí as boas notícias da OCDE sobre o elevado crescimento do sucesso escolar português.
Francisco Trindade
Ora cá estou de novo...não fosse o Luís Grave Rodrigues que eu já tinha desistido...Isto vai...mas com calma!
Um texto mais sintético que coloca os pontos nos iiiisss sobre a questão da avaliação...ok?
Os aspectos essenciais
Tem-se falado muito e mal da avaliação dos professores.
Nota-se que pouca gente sabe do que se trata na realidade.
Para defender o ponto de vista do governo, diz-se que não havia até agora...
O que não é de todo verdade. Até agora, os professores tinham de apresentar um relatório crítico de actividade, que era analisado por uma comissão de avaliação, e de fazer formação na qual tinham de ser aprovados.
Se não houvesse anormalidades, os docentes teriam 'Satisfaz'. Se o professor não tivesse cumprido as suas funções ser-lhe ia atribuída a menção de 'Não Satisfaz'. Para obter a classificação de 'Bom' e de 'Muito Bom' teria de se submeter a um processo com várias etapas de burocracia.
Existia um sistemade avaliação, ao contrário do que o Primeiro-Ministro defende ao tentar,mais uma vez, enganar os portugueses, tentando colocá-los contra os "professorzecos' (como a Ministra da Educação os apelida no Parlamento).
O Primeiro-Ministro podia dizer que não concordava com ele, mas não pode
continuar a mentir, dizendo que não havia.
Passando ao novo modelo de avaliação de desempenho, que não é feito para
avaliar os professores, mas para evitar que eles progridam e criar um
sucesso fictício e estatístico para europeu ver.
Todos reconhecem que não é um modelo perfeito, mas acham que mais vale um modelo imperfeito, subjectivo e injusto do que dialogar com os professores até se criar uma avaliação justa.
Defendem que num país em que reina a injustiça não vale a pena avaliar os professores com equidade e justiça.
É um sistema injusto e impraticável, por vários factores:
1.º Os professores titulares e avaliadores foram escolhidos pelos anos de serviço e não pelo mérito nem pela competência (onde está a preocupação com o mérito e com a excelência?);
2.º Os professores que vão avaliar não têm formação na supervisão de aulas;
3.º Teremos professores de Matemática a avaliar aulas de professores de Biologia,e de Educação Tecnológica a avaliar docentes de Educação Física ou vice-versa;
4.º Em muitos casos, os professores avaliados têm muito mais formação do que os avaliadores;
5.º Os professores titulares vão avaliar se os outros recorrem às novas tecnologias e muitos dos avaliadores não sabem enviar um mail, ligar um computador ou o que é um powerpoint;
6.º Os titulares vão avaliar o sucesso dos outros, quando, em grande parte dos casos, são eles que têm uma maior percentagem de insucesso;
7.º Os avaliadores vão avaliar professores de níveis de ensino diferentes daqueles que estão habituados a leccionar, sendo o discurso do docente avaliado obrigatoriamente distinto;
8.º Os professores perderão autoridade na sala de aula, perante os seus alunos, no dia em que entrar um titular para avaliar o professor;
9.º Só os resultados dos professores de Língua Portuguesa e de Matemática poderão ser confrontados com os dos Exames Nacionais do 3º Ciclo, o que é uma injustiça para os docentes dessas disciplinas;
10.º Os professores só ficarão com as turmas com alunos com mais dificuldades, caso não possam fugir, pois terão famílias para sustentar e empréstimos para pagar;
11.º Um professor que queira ser honesto e exigente será avaliado negativamente e corrido do ensino;
12 .º Serão premiados os professores de disciplinas que não dêem testes;
13.º Se um professor tiver o azar de ter um aluno que abandone a escola para emigrar ou que os pais não tenham condições para o manter a estudar, será penalizadíssimo na sua avaliação;
14.º Se um docente tiver o azar de perder um familiar próximo ou a sorte de ter um filho, será gravemente penalizado na sua avaliação, se faltar os dias a que tem direito por lei;
15.º Se acompanhar alunos de algumas turmas numa visita de estudo e deixar outras turmas com substituição, também é considerada falta de assiduidade às actividades lectivas, imagine-se!!!!
16.º Como os avaliadores e os avaliados já leccionam juntos há muito tempo, há colegas de trabalho que não se falam e os titulares podem aproveitar para se vingar e estragar a vida aos avaliados...
17.º Numa primeira fase, os titulares não serão avaliados por ninguém (onde está a excelência?);
18.º Não vale a pena ter 'excelente' ou 'muito bom', porque já não haverá vagas para titulares, quando nos for permitido tentar subir na carreira;
19.º Os resultados da avaliação dos alunos serão comparados entre disciplinas com competências totalmente diferentes. Por exemplo, ao comparar-se os resultados de Matemática com os de Educação Física, descobre-se facilmente qual o professor que sairá penalizado e terá de ir para o desemprego, se obtiver duas avaliações 'Regulares';
20.º Os professores serão avaliados pelo recurso às novas tecnologias e as escolas não têm projectores nem telas nas salas, as tomadas não funcionam, a electricidade desliga-se constantemente, nem há extensões suficientes!
21.º Os docentes serão avaliados pelas fichas formativas que forneçam aos alunos e só podem tirar fotocópias de testes de avaliação sumativa e, quando as escolas forem entregues às câmaras, nem a isso terão direito!!!
Estas são algumas situações reais, haverá muitas outras que desconheço.
Só um louco pode achar isto positivo, a não ser que se queira destruir de vez o ensino público, passando alunos que mal sabem construir uma frase e enviando muitos professores para o desemprego.
O que se conseguiu até agora com o novo modelo de avaliação:
a) Há um constrangimento entre os professores titulares e os 'professorzecos';
b) Não há diálogo entre os docentes, havendo um 'ruidoso' silêncio sepulcral na sala de professores;
c) Não há partilha de materiais por causa da competição, pois as quotas, que ainda não foram publicadas, serão muito reduzidas;
d) Estão todos desmotivados;
e) Os professores estão a entrar na escola às 8 horas e 15 minutos e a saírem depois das 22 horas, sem que ninguém lhes pague horas
extraordinárias, a analisar grelhas, indicadores e instrumentos de avaliação, como se estivessem a cavar a sua própria sepultura;
f) Não há tempo para preparar aulas, desenvolver estratégias diferenciadas, elaborar e corrigir testes.
Oportunamente cá estarei para o esclarecer sobre outros aspectos do ensino porque a questão, ao contrário do que muitos pensam,não se esgota na problemática da avaliação do desempenho...
Francisco Trindade
Vamos então continuar?
Vamos falar agora do que o M.E. fez e estragou...ok?
Antes de assumir funções, talvez tivesse sido sensato que a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tentasse conhecer de que é efectivamente feita a realidade das escolas e o quotidiano dos professores. Creio que desse modo teria conseguido temperar a sua científica presunção de conhecer a fundo o sistema educativo, os seus problemas e soluções, dando-se a si mesma a oportunidade de concluir que política de educação não é simples engenharia social e legislativa. E, sobretudo, talvez tivesse tido também a oportunidade de questionar a sua firme convicção de que os docentes constituem a raiz dos maus resultados escolares e do insucesso educativo.
Um populismo da pior espécie ao fomentar e alimentar a tese popularucha de que os professores não trabalham. A indignidade de achar que as aulas de substituição não correspondem a trabalho acrescido, escusando-se portanto ao justo pagamento do respectivo tempo suplementar dedicado pelos docentes à escola. A iníqua lógica subjacente à criação da figura do professor titular, que desconsiderou muitos daqueles que mais deram de si à comunidade educativa e que mais apostaram na sua qualificação profissional. A mudança do modelo de gestão, cinicamente apresentado como um novo modelo em favor da autonomia, retirando na prática capacidade substantiva à comunidade escolar (professores, pessoal não-docente, pais e alunos) para se organizar, definir e se comprometer com o seu próprio projecto educativo. E a reabilitação da figura do director escolar, sinal maior da desconfiança sobre o colectivo dos professores e sobre a gestão democrática das escolas (ficando a perplexidade de não se cuidar sequer de explicar a razão de ser destas medidas, os problemas a que visariam dar resposta, quando um inquérito internacional ilustra que os professores são a classe profissional em que os portugueses depositam maior confiança, e quando uma avaliação de escolas promovida pelo próprio ministério aponta para classificações de "Bom" e "Muito Bom", em matéria de liderança, em mais de 75% dos casos analisados).
Como se a gravidade destas formas de levar políticas à prática não bastasse, há um propósito mais sinistro, profundo e perdurável na política educativa do actual ministério. Um pastich técnico e ético semelhante ao das obras de "arquitectura" de José Sócrates, que vitimou o desafortunado distrito da Guarda. Maria de Lurdes Rodrigues quer seguramente ficar para a história como a ministra que alcançou os melhores resultados estatísticos em matéria de sucesso educativo e de redução do abandono escolar. A qualquer preço. Incluíndo a rendição ao facilitismo e o recurso a todos os meios necessários para que os alunos tenham bons resultados, mesmo que esses resultados signifiquem menores aprendizagens efectivas (as novas oportunidades para jovens alunos são o melhor, mas não único, exemplo) e menor capacitação dos alunos para desafios futuros. Acaso lembra a alguém sério avaliar os professores incluíndo no processo de avaliação as notas obtidas pelos seus alunos? Será necessário recordar que as pautas de muitos dos melhores e mais competentes professores que tivemos nas nossas vidas eram justamente as que, em virtude da sua exigência, os prejudicariam hoje com o modelo de avaliação proposto? Não dizem os resultados dos alunos muito mais sobre eles mesmos e as condições de aprendizagem, do que sobre o desempenho dos professores? É sensato colocar os docentes perante o dilema de não serem exigentes com a aprendizagem dos seus alunos ou poderem ficar prejudicados na sua avaliação, quando podem até ter feito tudo o que estava ao seu alcance pelas boas aprendizagens?
Porque convicta de que o mal do sistema educativo se resume aos professores, e porque não tentou sequer reflectir sobre o seu preconceito em relação a eles, Maria de Lurdes Rodrigues esqueceu o principal: antes de se exigir devem criar-se condições, porque não é admissível esperar que um professor se possa dedicar a cada caso, como é desejável que o possa fazer, quando tem sob sua responsabilidade - na maior parte das situações - mais de uma centena de alunos por ano lectivo. A verdadeira chave do sucesso educativo, que não é simplesmente a de atingir números e estatísticas, passa muito por aqui. Mas é neste momento inútil, patético até (provavelmente sempre o teria sido), recomendar à ministra da Educação que arrepie caminho. A confiança, o diálogo, todos os elos de ligação entre a tutela e o universo escolar foram irremediavelmente quebrados. E como não é previsível que um primeiro-ministro arrogante, como José Sócrates, se dê ao trabalho de recriar as condições necessárias a uma reforma em que participem os profissionais do sector, como deve desejavelmente suceder, Maria de Lurdes Rodrigues ficará portanto a aboborar na 5 de Outubro até 2009, a bem da intranquilidade, da insatisfação generalizada e do irresponsável impasse da Educação em Portugal.
«É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade»
Palavras aparentemente sábias que se aplicam a si Luís Rodrigues quando fala de professores e de ensino público.A escolha deste vídeo foi providencial.Como já tive oportunidade de dizer você não é estúpido, está é mal informado!...
Francisco Trindade
Meu caro Luis Grave Rodrigues
O Luís Grave Rodrigues comete aqui uma falácia...
Diz-nos "Senhora ministra: por favor, não desista!" e está subentendido "não desista da avaliação que está a tentar implementar porque se assim fosse este caso do professor burlão nunca teria acontecido."
Ora meu caro Luís Grave Rodrigues isto é falso. O que o Raposo burlão terá feito há 30 anos, sabe-se lá como, foi falsificar todos os documentos que lhe abriram a possibilidade de concorrer aos concursos de professores. A partir do momento que entrou no sistema esses documentos iniciais que foram utilizados, passaram a ficar arquivados no seu processo individual e a partir daí o Raposo burlão deu as suas aulas. Como é que isso aconteceu? Não faço a mínima ideia! Como é que ele dava as suas aulas. Não sei obviamente, mas pelo meu conhecimento teria que ser minimamente convincente. Palpita-me que seria um autodidacta. Só pode ser. Mas se esta avaliação lurdesca estivesse em vigor não teria sido por esse facto que o Raposo seria descoberto, pois nada dos elementos que compõem os objectivos desta avaliação levariam à conclusão de que o Raposo não é um professor "encartado", capice?
Mudando um pouco de assunto ou talvez não. Nunca teve conhecimento de casos de falsos médicos e estou a falar de Portugal
obviamente. Exerceram anos a fio, supostamente com competência e a prova é que não eram descobertos, os doentes diziam bem deles e depois, muitas vezes por um acaso, são desmascarados por um acaso fortuito. E casos de advogados nas mesmas circunstâncias? O que tem o advogado Luís Grave Rodrigues a dizer a isto? Então e a ordem? como é que deixou passar isso? Então e os colegas desse pseudo advogado burlão? Como é que eles nunca desconfiaram? Será que agora, por esse facto, vamos por em causa a competência profissional dos advogados por ter existido um, ou dois ou três que se apropriaram indevidamente da profissão, sabe-se lá como?
Responda lá a isso se souber, ou puder, ou quiser...
Atrevo-me a dar-lhe um conselho embora, perceba-me, não quero ensinar-lhe nada, mas mesmo nada.
Quando pensar em professores, em termos analógicos pense no imediato em advogados.
Quando pensar em ensino, em termos analógicos pense no imediato em justiça.
Quando pensar em escolas, em termos analógicos pense no imediato em tribunais.
Vai ver que vai parar para pensar um pouco mais calmamente e para interiorizar problemas que não conhece pois nunca os viveu...
Até breve
Francisco Trindade
Este foi o último mail que lhe enviei. Desde essa altura nunca mais publicou nada sobre professores...
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