A segunda parada Mayday juntou mil precários em festa. É o resultado de vários meses de pequenas iniciativas e de muitos contributos. O movimento de precários pode ser um novo protagonista social.
Quando termina o piquenique e, aos pés de Camões, a Farra Fanfarra acaba de tocar, quinhentos precários partem em direcção ao Martim Moniz. Ali, a Solidariedade Imigrante junta-se ao MayDay e o MayDay junta-se à CGTP. Ao longo da avenida, desalinhada e ruidosa, cresce a coluna de precários e imigrantes. Ao chegar à Alameda, são uns mil. Contra a precariedade que “congela” a vida, surgem agora literalmente parados, corpo de estátuas de sangue quente. Só um minuto, e logo recomeça o barulho, as canções e a batida samba. Um pouco à frente, no camião de som, o microfone roda entre os slogans de MCs drum’n’bass.
A parada não engana: a festa não é ao lado – é no meio da luta. A performance, a música e o barulho é o que resulta da mistura de todas as cores do precariado: temporários, contratados a prazo, imigrantes, falsos recibos verdes, estagiários, intermitentes das artes e do espectáculo, bolseiros de investigação científica, estudantes trabalhadores, operadores de call-center. É assim em Lisboa e foi assim em muitas cidades europeias onde, sem modelo, o MayDay existe. Questionada a ordem liberal e a vida precária, fica em causa, como acusaria George Bush, “o nosso modo de vida”.
Ainda é só o começo. Em 2008, o MayDay triplicou em participação. Confirma-se um ponto-de-encontro. Muita gente pronta para tornar visível a condição precária. O governo já não pode contar com o silêncio dos mais desprotegidos para os usar como objecto de demagogia. Nenhum precário acredita no “combate à precariedade” do Código Vieira da Silva. E aqui estão muitos dispostos a dizê-lo.
No 1º de Maio, a informação aberta, a imaginação e muitas caras novas saíram à rua. MayDay, FERVE, Precários Inflexíveis: a “geração 500 euros” tem os seus castings e assessorias de imprensa, os seus livros de reclamações e fóruns de discussão (online e offline). E uma rede conspirativa contra o patronato delinquente. Como anunciavam os cartazes, «MayDay, o precariado contra-ataca»!
Jorge Costa
http://infoalternativa.org/portugal/port197.htm
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