sábado, junho 28, 2008

Os milionários e a crise

No DN de hoje, o Pedro Ferreira Esteves mostra-se muito surpreendido com o facto de, durante o ano passado, 200 portugueses terem subido à categoria de milionários. Lê-se no título da notícia: "Número de ricos em Portugal sobe apesar de crise económica". Se há crise, como é que pode haver gente a passar a fasquia?, pensará o Pedro Esteves.
Lembre-se que a 'fasquia' é um milhão de dólares. Já o era em 2007 e já o era muito antes. É, portanto, um limite estático, invariante às condições económicas. Se nos lembrarmos também que a quantidade de moeda em circulação, numa economia como os Estados Unidos ou a Zona Euro, cresce tipicamente a uma taxa de 4, 5, 6 (ou mais) por cento ao ano, torna-se muito fácil de perceber que, com aquela definição, não é sequer necessário uma economia crescer em termos reais para haver mais gente a ficar milionária. Inflação chega e sobra.
Se nos lembrarmos ainda que o euro valorizou quase 15% face ao dólar entre Janeiro de 2007 e Janeiro de 2008, facilmente se percebe que até pode haver portugueses a tornarem-se milionários com menos euros no bolso. Ou seja, dada uma definição de "milionário" puramente monetária basta alterarmos as condições monetárias para termos mais gente a cumprir os requisitos mínimos. Não precisamos de ser realmente mais ricos. Acresce que, em termos reais, a economia portuguesa também cresceu. Umas migalhitas, mas cresceu. Se juntarmos tudo isto, onde é que está a surpresa?
[Como é óbvio, para um aumento do número de milionários também pode contribuir uma pior distribuição do rendimento. Só pretendo aqui deixar claro que isto, sendo suficiente, não é minimamente necessário. Mesmo numa economia estagnada.]
http://apentefino.blogs.sapo.pt/

Sem comentários: