Nicolau Santos escreveu no Expresso de 18 Outubro 2008 uma crónica intitulada “O Orçamento do Estado 2009 explicado às criancinhas”. Conclui desta forma:
«José Sócrates vai entrar no último ano de legislatura com três trunfos de peso: conseguiu a redução do défice orçamental para o nível mais baixo de sempre desde 1974; conseguiu a redução líquida no número de efectivos na Função Pública de 51.476 pessoas, o que nunca tinha acontecido nos últimos 30 anos; conseguiu uma criação líquida de empregos que ronda os 100 mil, numa situação económica muito desfavorável. Poder-se-ia ter feito mais? Certamente. Mas nunca se fez tanto.»
Vejamos. O défice diminui graças a um aumento massivo de impostos, situação dificilmente repetível. Acresce que, já descontando a inflação, a despesa pública apenas diminuiu em 2006, tendo aumentado em 2007, estima-se que aumente em 2008 e o OE2009 prevê o seu aumento em 2009. Acresce que as progressões nas carreiras estão congeladas há três anos e suspeito que há dívidas que simplesmente não estão a ser saldadas (exemplo: as farmácias ameaçam ir para tribunal por falta de pagamento por parte do estado).
Lá se vai o primeiro grande trunfo. Quanto ao segundo, a redução do número de funcionário públicos, sabe-se que faltam polícias, médicos, funcionários judiciais, etc. pelo que me interrogo se a diminuição de pessoal ocorreu apenas entre os funcionários públicos que nos prestam serviços directos ou se também chegou ao polvo estatal das direcções regionais, governos civis, empresas municipais, governos regionais, ministérios, secretarias de estado, etc.
Finalmente a enumeração desse terceiro grande feito, a “criação líquida de empregos que ronda os 100 mil”, encerra um aparente paradoxo. Então o estado faz desaparecer 51.476 mil empregos mas faz criar 100 mil? Só não há contradição pelo simples facto do estado não ter criado 100 mil empregos. Eventualmente terão sido criados pelos privados; não foi o estado que os terá criado. José Sócrates não é visto nem achado para o assunto. Caso contrário também se teria que associar o PM aos milhares de pessoas que entretanto ficaram no desemprego.
É realmente um artigo para explicar o orçamento de estado às criancinhas. Presume um grau de ingenuidade que se espera não encontrar entre os adultos.
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