terça-feira, dezembro 30, 2008

Privatização do passado de Portugal

Consegue imaginar os Jerónimos transformados em centro comercial, com uma grande superfície no rés-do-chão, patinagem, e restauração no topo? E o Mosteiro da Batalha feito discoteca? A Torre de Belém parece-lhe que poderia ser um daqueles cafés franchising? Bom, não se imagina, mas este governo alcança muitas proezas criativas.
Agora avançou com uma proposta de lei sugerindo que o património público deverá ser adaptado, e passo a citar, "às novas exigências económicas e sociais, que apontam no sentido da rentabilização do domínio público". Sem mais, o governo entende que há uma riqueza colectiva a explorar.
É assim, se esta proposta se concretizar, os monumentos e património público podem ser objecto de uso privativo, podendo também ser vendidos. Serão considerados uma qualquer mercadoria transaccionável, sujeito a uma lógica comercial, alienável para obter receitas extraordinárias, vulnerável aos interesses privados, que em Portugal crescem confortavelmente à custa da esfera pública. E que não tardarão a querer associar o seu nome e marcas aos principais símbolos nacionais.
Esta transformação da memória histórica do país em puro recurso económico é, para os estudiosos do património cultural, apenas comparável à venda dos bens da Coroa no princípio do século XIX. Enfim, é a privatização do passado de Portugal.
E tudo isto acontece perante um Ministério da Cultura falido e sem poder político para defender o interesse público, ainda que para ganhar eleições, em 2005, Sócrates tenha prometido salvá-lo da asfixia financeira. Mas se era de asfixia que se tratava, agora o estrangulamento está completo. O orçamento para a cultura nunca chegou ao prometido 1% do produto. Aliás, passou de 0,7% para 0,2%.
Pois é… Há anos que se arrasta um projecto para transformar o Mosteiro de Alcobaça num hotel de charme. Não é um mero exercício de imaginação, esse plano existe de facto. Porém, só com uma nova lei, como a proposta, será viável. Tudo muito conveniente, como é costume com este governo.
http://infoalternativa.org/spip.php?article384

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