A ideia de que depois da tempestade vem a bonança e depois do inverno a primavera ajuda-nos a viver com esperança, apesar de toda a incerteza. A retoma depois da recessão é o seu equivalente económico.
Evoca-se a retoma que vem lá para dois mil e tal para sugerir que o que estamos a viver é só intervalo. Mas será que a retoma tem mesmo de vir lá? Podemos acreditar nisso como se acredita durante a noite que o sol vai nascer?
As crises do capitalismo têm sido cíclicas, é verdade. Mas sendo cíclicas algumas delas deixaram para trás rastos de destruição indescritíveis (a de 29 “resolveu-se” com a II guerra) – e mudanças estruturais do capitalismo profundas (a de 29 deu origem ao capitalismo de bem-estar).
A ideia não é nova, foi Keynes quem descobriu: não existe nenhum mecanismo automático que nos permita sair de uma situação de deflação. Qual seria o ajustamento que permitiria restabelecer um “equilíbrio de pleno emprego”? Para um país, isoladamente, talvez a redução dos salários. Com custos salariais mais baixos esse país poderia exportar mais e portanto criar mais emprego. Mas isto é ficção. Nenhum país está isolado. Reduções de salários dum lado têm como resposta reduções competitivas noutros. E isto é o que se chama uma espiral deflacionista sem fundo à vista. A coisa não se resolve pois com descidas de salários, por muito que isso custe aos economistas trágicos (da linha velho FMI) que como terapia escolhem sempre sangrias mesmo quando o doente precisa de caldos de galinha.
Não havendo mecanismo automático resta a acção política coordenada. Diz-se que é isso o que se está a fazer. Mas o crédito continua a não fluir. Os mesmos bancos que emprestaram ao deus dará, apertam agora os cordões à bolsa. E nas circunstâncias que são as suas não seria de esperar que fizessem outra coisa. O problema como sempre resulta sobretudo das circunstâncias e não da velhacaria das pessoas, sem excepção para os banqueiros.
O que está a ser feito não chega. As revisões em baixa sucedem-se e a data da retoma avança de adiamento em adiamento. Mas é preciso esperar que as medidas façam efeito, dizem eles. A ideia de que depois da tempestade vem a bonança e depois da recessão a expansão serve de sedativo. Não admira que seja tão repetida pelos capitães deste enorme Titanic que insistem em ficar no posto a repisar os velhos hábitos, apesar de todos sabermos (eles incluídos) que são responsáveis pelo desastre.
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