A justiça chilena quer saber onde estão os 27 milhões de dólares que Augusto Pinochet desviou para contas nos Estados Unidos. O Banco Espírito Santo é um dos quatro bancos envolvidos e terá recebido durante oito anos cerca de 4 milhões depositados em contas pessoais e de off-shores detidos por Pinochet. A investigação do Senado norte-americano diz ainda que o BES ocultou informação às autoridades sobre as contas do ditador na sua filial das Ilhas Caimão. "Assim se prova para que é que servem os off-shores", diz Francisco Louçã, que levantou o caso na semana passada no parlamento.
O dinheiro desviado por Pinochet durante os 17 anos em que esteve no poder terá como proveniência principal os fundos reservados do Estado, mas também subornos e comissões que o ditador amealhava em negócios militares. Ironicamente, a dimensão do saque veio a público na sequência do 11 de Setembro - não do aniversário do golpe militar que levou Pinochet ao poder, mas do ataque às torres gémeas de Nova Iorque - quando as autoridades norte-americanas desencadearam investigações sobre o financiamento do terrorismo e lavagem de dinheiro. As operações do Banco Riggs foram escrutinadas e as relações deste banco com Pinochet deram origem a uma investigação autónoma, que ficou concluída em Março de 2005. Quatro anos depois, o Conselho de Defesa do Estado do Chile quer saber onde está o dinheiro e interpôs uma acção judicial contra os bancos que esconderam o dinheiro de Pinochet, entre eles o BES .A investigação dos senadores norte-americanos envolve o banco de Ricardo Salgado, apesar deste ter desmentido ainda na semana passada qualquer relação financeira com o ex-ditador chileno. Mas os factos explicados no relatório do Senado são claros. O BES contratou para liderar a sua filial em Miami o mesmo homem que tinha feito carreira no banco Riggs e administrava pessoalmente as contas bancárias onde Pinochet depositava o produto dos seus crimes e evasão fiscal.Entre 1991 e 2000, o BES recebeu quase 4 milhões de euros depositados em contas controladas por Augusto Pinochet e pelas suas empresas em off-shores. O relatório do Senado diz ainda que banco tentou esconder aos investigadores as contas de Pinochet na sua filial nas Ilhas Caimão, um banco fantasma que na altura não tinha um único empregado.A investigação diz ainda que mesmo após a justiça espanhola ter ordenado, em 1998, o congelamento dos bens de Pinochet em todo o mundo, o BES nunca avisou as autoridades do dinheiro criminoso que guardava deste cliente muito especial. Nos dois anos seguintes, fez sair esse dinheiro para outros destinos, sempre agindo sob as ordens do ex-ditador, segundo testemunharam responsáveis do banco em Miami.Francisco Louçã, que na passada semana lembrou a acção judicial chilena, diz que estas investigações provam que "a finalidade principal dos off-shores é a de proteger o dinheiro do crime" e que ao contrário do que disse Ricardo Salgado, "confirma-se a relação financeira entre o banco e o ex-ditador, protegida pelo segredo das contas e dos off-shores ao longo de oito anos".Pinochet controlava ao todo seis contas no BES, sob nomes disfarçados por iniciais como A.P. Ugarte e empresas criadas no off-shore do banco como o Santa Lucia Trust ou Trilateral International Trading. A única que podia ser directamente associada ao ditador estava aberta em nome da filha, Jacqueline Pinochet.
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