segunda-feira, junho 01, 2009

Perder a razão?

Uma das características mais sonsas, mais sornas e mais castradoras da mentalidade portuguesa é a ideia de que quem fala alto perde a razão. Esta ideia é um dos dois ou três consensos nacionais que eu já não entendia aos seis anos e continuo sem compreender nem aceitar agora que caminho para os sessenta.

A razão tem-se ou não se tem. Quem a tem não a perde por falar alto, do mesmo modo que quem não a tem não a ganha por falar macio. Esta ideia peregrina de que a razão se perde por questões de forma permite, entre outras coisas, reescrever o passado: a aplicar-se, Leonor Cipriano deixou de ter sido torturada a partir do momento em que essa tortura foi denunciada publicamente. Manuela Moura Guedes, uma jornalista venal e sem escrúpulos, passou magicamente a ser um modelo de probidade e isenção a partir do momento em que Marinho e Pinto lho disse cara a cara.

Não compreendo esta lógica. Devo ser estrangeirado. Aprecio as almas generosas que falam alto e desprezo os filhos da puta, por mais macio que falem. Desprezo-os, de resto, tanto mais quanto mais macio falam.

Agora andam para aí alguns plumitivos a dizer, sorrateiros e sonsos, como quem não quer a coisa, que Marinho e Pinto até pode ter alguma razão mas que a perde por não ficar calado. Querem impugná-lo da Ordem dos Advogados e pôr talvez no seu lugar mais um filho da puta com boas maneiras, daqueles que as Faculdades de Direito de Coimbra e Lisboa produzem às fornadas.

Talvez possam com isto dar ao seu sucessor o poder que a ele nunca lhe quiseram dar; mas o que está dito está dito, o que está escrito está escrito; poder é uma coisa e autoridade é outra; e nunca darão a ninguém a autoridade que Marinho e Pinto conquistou por mérito próprio.
http://legoergosum.blogspot.com/

Sem comentários: