terça-feira, dezembro 29, 2009

O NEGRO E O VERMELHO

REALISMO MORAL E REALISMO SOCIAL


1. - MORAL E REALISMO MORAL

Expliquei na teoria, que tentei apresentar, do progresso, como o progresso tinha o seu princípio na justiça, e como, fora da justiça, qualquer outro desenvolvimento político, económico, literário, filosófico, se tornaria subversivo e dissolvente, e ainda, como o ideal nos fôra dado para nos levar à justiça; mais expliquei como, se este mesmo ideal, em vez de servir de auxiliar e de instrumento de direito, fosse, ele próprio, tomado como, regra e objectivo da vida, haveria imediatamente, para a sociedade, decadência e morte. Numa palavra: à justiça, subordinei o ideal. (Porncratie, cap. V.)
A moral é o conjunto das normas que têm como objectivo a perseverança na justiça. É, noutros termos, o sistema da justificação, a arte de o homem se tornar santo e puro pelas obras, ou seja, ainda e sempre: o progresso ... (Philos. du Progrès, 1.º estudo.)
Não são os homons que governam as sociedades, mas os princípios; na falta de princípios, são as situações.
A França perdeu os seus costumes.
Pelo cepticismo, o atractivo puramente moral do casamento, da geração, da família, o atractivo do trabalho e da cidade, uma vez perdidos, dá-se a dissolução do ser social... Ciência e consciência da justiça... eis o que nos falta.

A. Ciência e consciência da justiça

Para formar uma família, para que o homem e a mulher nela encontrem a alegria e a calma a que aspiram, sem as quals, aproximados apenas pelo desejo, eles nunca estarão sempre incompletamente unidos, é precisa uma fé conjugal, entendendo eu por isso uma ideia da sua dignidade mútua...
Do mesmo modo para formar uma sociedade, para dar aos interesses das pessoas e das famílias a segurança - que é a sua primeira necessidade, sem a qual o trabalho não se aceita, a troca dos produtos e dos valores se torna uma burla, a riqueza uma cilada para quem a possui - é preciso aquilo a que eu chamaria uma fé jurídica...
Do mesmo modo ainda, para formar um Estado, para conferir ao poder adesão e estabilidade, é precisa uma fé política, sem a qual os cidadãos, entregues às puras atracções do individualismo, não saberiam, seja o que for que fizessem, ser outra coisa que não fosse um agregado de exigências incoerentes repulsivas... É pois preciso que a Justiça, nome pelo qual designamos esta parte da moral que caracteriza o indivíduo em sociedade, para se tornar eficaz, seja mais que uma ideia, é preciso que seja ao mesmo tempo uma realidade. É preciso que ela aja, não só como noção da razão, relação económica, fórmula de ordem, mas ainda como força da alma, forma da vontade, energia interior, instinto social, análogo para o homem àquele instinto comunista que observámos nas abelhas. Há razões para se pensar que, se a Justiça permaneceu até hoje impotente, é porque, como faculdade, força motriz, a menosprezámos completamente, porque desprezámos a sua cultura, porque ela não caminhou, no seu desenvolvimento, ao passo da inteligência; enfim, porque a tomámos por uma fantasia da nossa imaginação ou impressão misteriosa duma vontade estranha. É preciso pois que ela nos apareça finalmente como o princípio, o meio e o fim, a explicação e a sanção do nosso destino. (Justice, Philos. Popul.)
Para explicar a razão da história e salvar a oral... era, pois, forçoso demonstrar que a justiça algo mais que um comando e uma relação; que é nda uma faculdade positiva da alma, uma força da mesma ordem que o amor, superior mesmo ao amor, enfim uma realidade: e foi o que nós tentámos nestes Estudos... (Justice, L'Êtat.)

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