Esta nova procura compreende também dois capítulos: no primeiro, considerando o facto da propriedade em si mesma, buscaremos se esse facto é real, se existe, se é possível; porque implicaria contradição que duas formas socialistas opostas, a igualdade e a desigualdade, fossem possíveis. Será então que descobriremos, facto singular, que na verdade a propriedade se pode manifestar como acidente mas que matematicamente é impossível como instituição e princípio. De maneira que o axioma retórico, ab actu ad posse valet consecutio, do facto à possibilidade da consequència é bom, mas encontra-se desmentido no que respeita à propriedade.
Por fim no último capítulo, recorrendo à psicologia e analisando a fundo da natureza do homem, exporemos o princípio do justo, a sua fórmula, o seu carácter; precisaremos a lei orgânica da sociedade; explicaremos a origem da propriedade, as causas do seu estabelecimento, longa duração e próximo desaparecimento; estabeleceremos definitivamente o seu paralelo com o roubo; e depois de ter mostrado que esses três preconceitos, soberania do homem, desigualdade de conceções, propriedade, não são mais do que um, que podem ser tomados um pelo outro e são reciprocamente convertíveis, não teremos dificuldade em deduzir, pelo princípio da contradição, o fundamento do poder e do direito. Aí pararão as nossas pesquisas, reservando-nos o direito de lhas dar seguimento em novas memórias.
A importância do assunto que nos ocupa diz rerspeito a todas as pessoas.
«A propriedade, diz M. Hennequin, é o princíipio criador e conservador da sociedade civil... A propriedade é uma das teses fundamentais sem as quais as explicações que se pretendem novas não teriam podido alcançar-se tão cedo; porque, é preciso nunca o esquecer e é importante que o publicista e o homem de Estado estejam seguros disso: é da questão de saber se a propriedade é o princípio ou o resultado da ordem social, se é preciso considerá-la como causa ou como efeito, que depende toda a moralidade e, por isso mesmo, toda a autoridade das instituições humanas.» Estas palavras são um desafio a todos os homens de esperança e fé: mas, ainda que a causa da igualdade seja bela, ninguém apanhou a luva atirada pelos defensores da propriedade, ninguém se sentiu bastante seguro,para aceitar o combate.
O falso saber de uma jurisprudência orgulhosa e os aforismos absurdos da economia política tal como a propriedade a fez, perturbaram as inteligências mais generosas; é uma espécie de palavra de ordem combinada entre os amigos mais influentes da liberdade e os interesses do povo que a Igualdade é uma quimera! de tal maneira as teorias mais falsas e as analogias mais vãs, exercem um poder sobre espíritos lúcidos, embora subjugados, contra vontade, pelo preconceito popular. A igualdade nasce todos os dias, fit cequalitas, soldados da liberdade, desertaremos a nossa bandeira na véspera da vitória?
Defensor da igualdade, falarei sem ódio nem cólera, com a independêcia própria do filósofo, com a calma e a segurança do homem livre. Pudesse eu, nesta luta solene, levar a todos os corações a luz que me ilumina e mostrar, pelo êxito do meu discurso, que se a igualdade não pôde vencer pela espada é porque deve vencer pela palavra!
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