O Cronista Indelicado
por João Miguel Tavares ("Correio da Manhã")
05 Fevereiro 2010
Um comprimido para José Sócrates
Há gente alérgica a pêlo de gato. Há gente alérgica ao pólen ou ao leite. José Sócrates é alérgico a jornalistas, colunistas e a toda a gente que dele discorde de forma "desrespeitosa". Ou indelicada, se preferirem. Desde que o senhor engenheiro resolveu processar-me por um artigo de opinião – e depois recorrer dos arquivamentos decretados pelo Ministério Público e pelo juiz de primeira instância (o caso está agora na Relação) – que me interrogo sobre o que leva um homem inteligente a empenhar metade dos seus neurónios, mais os neurónios dos seus bóbis e dos seus tarecos, a engendrar formas de entalar todos os que lhe são hostis.
Sobre o novo caso Mário Crespo, há quem pergunte, e bem: "Faz algum sentido o primeiro-ministro exigir aos berros, num hotel do centro de Lisboa, uma ‘solução’ para o pivô da SIC?" Há que admitir: não, não faz qualquer sentido. Mas o "sentido" pressupõe uma certa racionalidade. Ora, se estivermos perante uma pulsão incontrolável, o racional não conta. O primeiro-ministro viu um "executivo da TV" e passou-se. Não é censura. Não é ditadura. É patologia. As pessoas olham para o engenheiro Sócrates e pensam: "Este homem é um perigo para a democracia." Mas urge colocar a piedosa hipótese de o primeiro-ministro estar a sofrer de uma doença da qual ainda não se deu conta.
A minha tese é esta: em vez de pêlo de gato, Sócrates fica doido com microfones e opiniões divergentes. E em vez de espirrar dá-lhe para "solucionar". Se nós olharmos para Mário Crespo apenas como a mais recente manifestação de uma espécie de febre dos fenos mediática, tudo ganha uma outra luz. Eu também já achei que o senhor engenheiro devia ser mais democrata. Neste momento penso apenas que ele devia ir ao médico. Até porque hoje em dia há comprimidos para tudo.
por João Miguel Tavares ("Correio da Manhã")
05 Fevereiro 2010
Um comprimido para José Sócrates
Há gente alérgica a pêlo de gato. Há gente alérgica ao pólen ou ao leite. José Sócrates é alérgico a jornalistas, colunistas e a toda a gente que dele discorde de forma "desrespeitosa". Ou indelicada, se preferirem. Desde que o senhor engenheiro resolveu processar-me por um artigo de opinião – e depois recorrer dos arquivamentos decretados pelo Ministério Público e pelo juiz de primeira instância (o caso está agora na Relação) – que me interrogo sobre o que leva um homem inteligente a empenhar metade dos seus neurónios, mais os neurónios dos seus bóbis e dos seus tarecos, a engendrar formas de entalar todos os que lhe são hostis.
Sobre o novo caso Mário Crespo, há quem pergunte, e bem: "Faz algum sentido o primeiro-ministro exigir aos berros, num hotel do centro de Lisboa, uma ‘solução’ para o pivô da SIC?" Há que admitir: não, não faz qualquer sentido. Mas o "sentido" pressupõe uma certa racionalidade. Ora, se estivermos perante uma pulsão incontrolável, o racional não conta. O primeiro-ministro viu um "executivo da TV" e passou-se. Não é censura. Não é ditadura. É patologia. As pessoas olham para o engenheiro Sócrates e pensam: "Este homem é um perigo para a democracia." Mas urge colocar a piedosa hipótese de o primeiro-ministro estar a sofrer de uma doença da qual ainda não se deu conta.
A minha tese é esta: em vez de pêlo de gato, Sócrates fica doido com microfones e opiniões divergentes. E em vez de espirrar dá-lhe para "solucionar". Se nós olharmos para Mário Crespo apenas como a mais recente manifestação de uma espécie de febre dos fenos mediática, tudo ganha uma outra luz. Eu também já achei que o senhor engenheiro devia ser mais democrata. Neste momento penso apenas que ele devia ir ao médico. Até porque hoje em dia há comprimidos para tudo.
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