sábado, fevereiro 06, 2010

Um comprimido para José Sócrates

O Cronista Indelicado
por João Miguel Tavares ("Correio da Manhã")
05 Fevereiro 2010

Um comprimido para José Sócrates
Há gente alérgica a pêlo de gato. Há gente alérgica ao pólen ou ao leite. José Sócrates é alérgico a jornalistas, colunistas e a toda a gente que dele discorde de forma "desrespeitosa". Ou indelicada, se preferirem. Desde que o senhor engenheiro resolveu processar-me por um artigo de opinião – e depois recorrer dos arquivamentos decretados pelo Ministério Público e pelo juiz de primeira instância (o caso está agora na Relação) – que me interrogo sobre o que leva um homem inteligente a empenhar metade dos seus neurónios, mais os neurónios dos seus bóbis e dos seus tarecos, a engendrar formas de entalar todos os que lhe são hostis.


Sobre o novo caso Mário Crespo, há quem pergunte, e bem: "Faz algum sentido o primeiro-ministro exigir aos berros, num hotel do centro de Lisboa, uma ‘solução’ para o pivô da SIC?" Há que admitir: não, não faz qualquer sentido. Mas o "sentido" pressupõe uma certa racionalidade. Ora, se estivermos perante uma pulsão incontrolável, o racional não conta. O primeiro-ministro viu um "executivo da TV" e passou-se. Não é censura. Não é ditadura. É patologia. As pessoas olham para o engenheiro Sócrates e pensam: "Este homem é um perigo para a democracia." Mas urge colocar a piedosa hipótese de o primeiro-ministro estar a sofrer de uma doença da qual ainda não se deu conta.

A minha tese é esta: em vez de pêlo de gato, Sócrates fica doido com microfones e opiniões divergentes. E em vez de espirrar dá-lhe para "solucionar". Se nós olharmos para Mário Crespo apenas como a mais recente manifestação de uma espécie de febre dos fenos mediática, tudo ganha uma outra luz. Eu também já achei que o senhor engenheiro devia ser mais democrata. Neste momento penso apenas que ele devia ir ao médico. Até porque hoje em dia há comprimidos para tudo.

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