sábado, julho 31, 2010

Vaticano, pudor e ridículo

O Papa, santo por profissão e estado civil, infalível por conveniência e tradição, pudico por questão de imagem e interesse comercial, decidiu que as pessoas fossem impedidas de circular com ombros e pernas à mostra no Vaticano.

Certamente alguma catequista balzaquiana deixou escorregar a mantilha que lhe cobria os ombros e algum soldado americano, de férias do Iraque, mostrou os joelhos quando apreciavam, através do vidro à prova de bala, a Pietá que Miguel Ângelo esculpiu.

Terá assustado o Papa o desassossego das numerosas virgens que decoram a Basílica de S. Pedro, pintadas ou esculpidas, o sobressalto hormonal ou no rubor das faces, perante os joelhos tisnados de um mancebo em pausa na guerra contra os infiéis? Que pesadelos terá sentido com os ombros desnudos de mulheres capazes de excitarem os santos ou de fazerem estalar o mármore que esconde as partes pudendas de Cristos admiravelmente crucificados e escassamente vestidos?

Que fariam os monsenhores a espiarem os ombros nédios de uma catequista em busca de uma aspirina na farmácia, de um selo postal ou de vitualhas no supermercado papal? E se, em vez dos ombros de uma devota, os clérigos que povoam o bairro de sotainas desviassem o olhar lúbrico para os joelhos de um mancebo, a imaginar abominações e a esquecerem o breviário?

Que pensaria o Deus do Papa, no bairro que dele se reclama, perante a lascívia dos seus ministros e os pensamentos pecaminosos que os ombros e as pernas podem provocar em quem não conhece da anatomia outros pedaços mais suculentos e interessantes?

Para evitar tentações do demo, que o especialista em exorcismos descobriu no Vaticano, o Papa, ajudado na decisão pelo Espírito Santo, uma pomba que se julgava extraviada, estendeu
as regras que impedem os turistas de entrarem na Basílica de S. Pedro com os ombros e as pernas ao léu aos outros locais da Cidade do Vaticano, como a farmácia, o supermercado e a agência dos correios.

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